Os insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros, chupão, procotó ou bicudo, são os transmissores de Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas. Segundo o Ministério da Saúde, em 2020, morreram mais de quatro mil pessoas em todo o Brasil vítimas da doença. Já em Minas Gerais, no mesmo ano, foram mais de mil óbitos. Para ajudar a população a reconhecer e lidar corretamente com esses vetores, o Portal da Doença de Chagas, da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz), lançou a seção "Achou um barbeiro?". A página reúne três ferramentas para auxiliar a população a identificar os vetores e localizar o Posto de Informação em Triatomíneos (PIT) mais próximo, onde é possível entregar insetos suspeitos para correta identificação.
Uma das especialistas à frente da iniciativa, a chefe do Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Samanta Xavier, alerta para a importância de reconhecer os barbeiros. “Se um barbeiro é encontrado dentro de casa ou no entorno, é importante adotar medidas para evitar o contato com o inseto e a contaminação de alimentos”, diz a pesquisadora. “Não se deve tentar matar ou esmagar o inseto, porque isso pode aumentar o risco de infecção. Em lugar disso, é indicado pegá-lo com cuidado, protegendo as mãos com luva ou saco plástico e colocar em um pote fechado para entregar no PIT mais próximo ou para um agente de endemias ou de saúde da localidade. Quando não for possível entregar o inseto, uma alternativa é realizar a identificação por meio do envio de uma fotografia”, explica Samanta.
No Portal da Doença de Chagas, a seção "Entregue pessoalmente" traz detalhes sobre a forma correta de capturar o barbeiro e um mapa onde é possível localizar um PIT para entregar o inseto. Chamada de PITs Maps, a ferramenta foi desenvolvida pelo Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos do IOC/Fiocruz em parceria com a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz e o Instituto Militar de Engenharia (IME), com apoio do Programa de Pesquisa Translacional Fio-Chagas.
Os PITs são definidos pelas prefeituras, incluindo pontos fixos e volantes. Exemplo: agentes de endemias e de saúde, serviços de saúde, instituições de pesquisa, escolas, igrejas e lideranças comunitárias podem atuar como PITs. De forma interativa, o PITs Maps pode sugerir o ponto mais próximo a partir da localização do usuário. Também é possível navegar pelo mapa e fazer busca por endereço.
A ferramenta já apresenta a localização de todos os PITs no Ceará e no Rio Grande do Sul. Os estados participaram da etapa piloto do projeto. Ao todo, 856 pontos foram mapeados no Ceará e 497 no Rio Grande do Sul. Para os demais estados, o mapeamento está em andamento, com pelo menos um ponto identificado nas unidades da federação: Acre, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Santa Catarina.
“O objetivo do projeto é facilitar a localização dos PITs pela população. A entrega dos insetos suspeitos de serem barbeiros é importante para confirmar a identificação e investigar se os vetores estão infectados, o que acende o alerta para reforçar ações de controle”, enfatiza Samanta.
Os insetos recebidos nos postos de informação são encaminhados para o laboratório de referência da região, onde podem ser identificados e examinados para detectar a presença do parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. O resultado das análises é informado à população pelo agente de saúde ou de endemias da região, que realiza as ações de controle e orientação necessárias caso seja confirmada a presença de barbeiros.
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Além de indicar o local dos PITs, o Portal da Doença de Chagas oferece outras duas ferramentas para ajudar a população a identificar os vetores. Na seção "Envie uma foto", é possível anexar a imagem do inseto encontrado, que será analisada por especialistas da Fiocruz. Atualmente, o serviço é realizado pelo chefe do Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do IOC/Fiocruz, Cleber Galvão, com o apoio de Samanta Xavier. Já a seção "Identifique o inseto" direciona o usuário para o aplicativo Triatokey, desenvolvido pelo Instituto René Rachou (Fiocruz Minas).
A ferramenta online auxilia o cidadão a fazer a identificação do inseto, diferenciando os barbeiros – que se alimentam de sangue e podem transmitir o Trypanosoma cruzi – de outros percevejos – que se alimentam de plantas ou de outros insetos e não apresentam risco de infecção para os seres humanos.
Barbeiros
Os insetos triatomíneos são um tipo de percevejo que se alimenta do sangue de animais vertebrados, podendo picar animais silvestres e domésticos, além do ser humano. Mais ativos à noite, os triatomíneos costumam picar as partes do corpo que ficam descobertas, como o rosto. Por isso, ganharam o apelido de barbeiros. A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi.