O ano começa com mais uma polêmica viralizada nas redes sociais diante da decisão de uma jovem brasileira que causou burburinho e se torna uma preocupação para a classe médica quando se trata da saúde ocular. Ela ganhou destaque depois de se submeter a uma cirurgia para mudar a cor de seus olhos de forma permanente. Ela se submeteu à queratopigmentação, procedimento indicado apenas para pessoas com olhos doentes ou que tenham determinados comprometimentos da visão. Na cirurgia, o médico injeta tinta, pigmentos, no tecido da córnea para se assemelhar com o olho natural.
A brasileira fez o procedimento em Lausanne, na Suíça. O vídeo, compartilhado nas redes sociais pela clínica responsável pela cirurgia, alcançou quase 15 milhões de visualizações e mais de 360 mil curtidas.
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O procedimente tem muitos riscos. A saída mais segura para quem quer mudar a cor do olho é o uso de lentes de contato colorida e, mesmo assim, tomando todos os cuidados necessários para minimizar os riscos para a saúde ocular.
Nas redes sociais, internautas criticaram o resultado final. "Ficou tão natural quanto uma sacola plástica", escreveu um. "Se a pessoa perder a visão, o valor da cirurgia inclui o transplante de córneas?", ironizou outro.
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Técnica usada antes de Cristo
Conforme o médico oftalmologista Luís Felipe Carneiro, coordenador médico do Ambulatório Especializado de Oftalmologia da Santa Casa BH, "a queratopigmentação é uma técnica que já é utilizada há mais de 2.000 anos antes de Cristo. Então, desde muito tempo atrás, já se buscava uma técnica para poder pigmentar os olhos, que ficaram brancos por lesão ou por machucado, ou por cegueira, qualquer tipo de coisa desse tipo".
Então, queratopigmentação não é uma coisa recente. "Em 450 anos antes de Cristo, eles já tinham outras técnicas, eles foram tentando várias e várias técnicas para poder atingir um objetivo. Só que as técnicas eram rudimentares e causavam infecção no olho. Não tinha um controle da tinta que era utilizada, então aumentava a chance de dar outras complicações e acabar piorando o quadro do paciente. Em 1896, mais ou menos, foi criada uma outra técnica para essa tatuagem ocular. E daí para frente, ela veio se aperfeiçoando", conta o oftalmologista da Santa Casa BH.
Hoje, Luís Felipe Carneiro explica que essa técnica é feita com laser de femtosegundo (um tipo de laser usado na cirurgia refrativa). "Com ele, conseguimos cortar com mais precisão. Ele faz um corte no meio da córnea e a tinta é colocada lá dentro. É possível injetar os polímeros da tinta no meio da córnea, no estroma da córnea, e gerar uma pigmentação mais previsível".
O oftalmologista enfatiza que esse procedimento é utilizado para olhos que são doentes: "Por exemplo, quando o paciente tem uma cicatriz na córnea ou quando a córnea ficou branca por algum motivo. Daí, o médico faz o procedimento para poder gerar uma melhor estética nesse paciente, que muitas vezes tem complexos por causa da diferença dos olhos, que gera problemas psicológicos e entre outros".
Sem autorização do Conselho Federal de Medicina
Luís Felipe Carneiro alerta que não é um procedimento autorizado pelo Conselho Federal de Medicina. E ele realmente pode ter várias complicações: "A cor pode não ficar da cor que o paciente queira, então, tem que intervir novamente; como é uma cirurgia na córnea, ela pode levar a ectasia, que é induzir uma deformidade corneana, como se fosse um ceratocone; a pessoa pode ter visão dupla".
Os problemas mencionados acima, são os principais. No entanto, Luís Felipe Carneiro avisa que podem ocorrer casos mais graves: "Quando, por exemplo, ocorre uma alergia, uma reação do corpo contra os pigmentos. Então, a pessoa pode ter lesões da córnea, inflamações na córnea e gerar inflamações no olho mesmo, como uveítes, glaucoma secundário, que são coisas mais graves, apesar de serem raras. Então, o que se usa hoje dessa tatuagem na córnea ou micropigmentação, é para isso, para olhos doentes. Agora, para olhos sadios, com fins estéticos, ainda não é autorizado no Brasil".