Estudo realizado pela Universidade Estadual de Montes Claros, no Norte de Minas, constatou que os casos de herpes-zóster no país cresceram 35% durante a pandemia de COVID-19. Tendo em vista os desafios inerentes à doença, principalmente relacionados a neuralgia pós-herpética (NPH) - dor que surge nas regiões do corpo acometidas pelo herpes-zóster - houve, nos últimos anos, uma intensificação das campanhas de vacinação, conscientização e prevenção sobre a doença.
Médica intervencionista em dor e autora do livro Existe vida além da dor, Amelie Falconi explica que a NPH é a complicação de longo prazo mais comum da reativação do vírus varicela-zoster, que culmina no surgimento do herpes-zóster, doença caracterizada por bolhas na pele, eritemas e inflamação local. Conforme Amelie, a NPH se manifesta como dor crônica que persiste por mais de três meses após os primeiros sintomas do herpes-zóster. “Além da dor, que pode variar de intensidade e duração, a NPH apresenta outros sintomas, tais como: sensibilidade ao toque, formigamento, coceira e queimação na área afetada”, comenta.
Embora seja fácil diagnosticar a NPH devido à sua apresentação clínica e associação com o episódio de herpes-zóster, a médica pondera que o tratamento da condição é, geralmente, desafiador. “Isso porque, muitas vezes, o controle da dor não é satisfatório”, diz. Inclusive, ressalta, estudos já demonstraram que menos da metade dos pacientes com NPH alcançam redução significativa dos sintomas.
Nesse sentido, destaca Amelie, ganha importância o controle adequado dos sintomas de NPH no início do quadro, visando, sobretudo, prevenir o agravamento da condição e seu desdobramento em dor crônica. Segundo ela, para evitar a cronificação da NPH, é fundamental o tratamento antiviral precoce, com a medicação correta e em doses adequadas. "O ideal é iniciar o tratamento em até 24h ou 48h após o aparecimento das lesões”, diz.
O tratamento específico da dor desde o início das lesões também pode ser, conforme Amelie, uma ferramenta para evitar que a dor se torne crônica. “Além disso, principalmente naqueles pacientes com maior risco de evoluírem com dor crônica, é importante considerar a possibilidade de procedimentos intervencionistas minimamente invasivos também no início da dor aguda”, sugere.
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No que se refere ao tratamento específico da dor, Amelie ressalta que é consenso entre especialistas que regimes de medicação multimodais e procedimentos intervencionistas sejam provavelmente a melhor abordagem. A especialista explica que os tratamentos não invasivos tradicionais incluem medicamentos orais e tópicos, sendo que algumas sociedades recomendam antidepressivos, gabapentinoide (anticonvulsivantes) e o adesivo de lidocaína (anestésico) a 5% como primeira linha de tratamento. “O uso de opióides para combater a NPH também pode ser necessário pela intensidade da dor ”, diz.
Além de reconhecer e tratar o herpes-zóster de maneira precoce e assim mitigar as chances de desenvolvimento de NPH e manejar seus sintomas através de medicamentos e procedimentos intervencionistas, outra abordagem em relação à doença e seus desdobramentos é a prevenção. “Essa se concentra na identificação de populações em risco de contrair o herpes-zòster e na administração de uma vacina”, explica Amelie.
Conforme a médica, os fatores de risco bem estabelecidos para um episódio de herpes-zóster que progride para NPH incluem: idade, imunossupressão grave, presença de uma fase prodômica (que precede o aparecimento de sintomas), dor intensa durante surto de zóster, alodinia (dor que não ocorreria em situações normais), envolvimento oftálmico e diabetes mellitus.
A respeito da vacinação, Amelie destaca que o procedimento está disponível na rede particular, sendo administrado em duas doses. “Apesar de ser uma vacina particular, ela deve ser estimulada para os pacientes com mais de 50 anos ou pacientes com menos que já tiveram zóster”, alerta.
Além da vacinação, a especialista orienta que, para evitar o desenvolvimento de herpes-zóster e consequentemente da NPH, a pessoa deve manter um sistema imunológico saudável. “Ajuda nesse sentido manter um estilo de vida saudável, caracterizado por uma dieta equilibrada, exercícios regulares e controle do estresse”, diz. Também é de grande valia para a prevenção da doença, especialmente se estiver com o sistema imunológico comprometido, evitar contato próximo com pessoas que têm catapora.