Estudo conduzido por um grupo de especialistas do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (InCor) e publicado na revista acadêmica BMJ Nutrition Prevention & Health nesta terça-feira, 9 de janeiro, sugere que dietas vegetariana ou baseada em plantas estão associadas a probabilidades 39% mais baixas de infecção por COVID-19.

 


O estudo observacional considerou respostas a um inquérito de hábitos alimentares de 702 voluntários, coletados entre março e julho de 2022, período em que o Brasil enfrentava a terceira onda da pandemia de COVID-19. Com base nas respostas sobre o estilo de vida, sono, atividade física e alimentação, os pesquisadores compararam os resultados de acordo com a divisão de dois grupos: grupo de dieta onívora e grupo de dieta baseada em vegetais, sendo esta última categoria dividida em vegetarianos (incluindo veganos e ovo-lacto-vegetarianismo) e os semi-vegetarianos (que comiam carne 3 ou menos vezes por semana). 

Da amostra total de respostas, 330 pessoas (47%) relataram diagnóstico de COVID-19 (incidência). Desses indivíduos, 224 (32%) foram diagnosticados com sintomas leves e 106 (15%) com sintomas de moderados a graves. A incidência de COVID-19 no grupo de alimentação onívora foi de 51%, significativamente maior em comparação com o grupo de dieta baseada em vegetais, que foi de 39%. A duração dos sintomas pela infecção por COVID-19 não foi diferente entre os grupos. 

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Os onívoros também relataram uma taxa mais elevada de condições médicas e taxas mais baixas de atividade física do que os grupos dietéticos à base de plantas. E a prevalência de sobrepeso e obesidade foi significativamente maior entre os onívoros – fatores associados a maior risco de infecção por COVID-19 e sintomas ou complicações mais graves.

Sexo, idade e vacinação

Não houve diferenças significativas entre sexo, idade e vacinação entre os grupos onívoros e baseados em plantas. Mas um número significativamente maior de pessoas que praticam uma dieta baseada em vegetais recebeu formação educacional de pós-graduação. 

“Os padrões alimentares baseados em plantas são ricos em antioxidantes, fitoesteróis e polifenóis, que afetam positivamente vários tipos de células implicadas na função imunológica e exibem efeitos diretos em propriedades antivirais. Portanto, uma dieta rica em vegetais, legumes, nozes e pobre em laticínios e carne, pode ser protetora”, explica Júlio César Acosta-Navarro, pesquisador principal do estudo e médico da Unidade Clinica de Emergência do Instituto do Coração. 

Dietas vegetais fornecem mais nutrientes

Os pesquisadores sugerem como explicação para suas descobertas o fato de que dietas predominantemente baseadas em vegetais forneçam mais nutrientes que estimulam o sistema imunológico e ajudam a combater infecções virais. O sistema imunológico, por sua vez, utiliza uma série de mecanismos de defesa para combater infecções, portanto, é necessário ter uma quantidade adequada de enzimas antioxidantes, vitaminas e peptídeos. Sem eles, a capacidade do sistema imunológico será prejudicada.

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Este é um estudo observacional, no entanto, e como tal, não pode estabelecer fatores causais. Os pesquisadores também reconhecem que o estudo se baseou na recordação pessoal e na avaliação subjetiva, ambas propensas a erros. O projeto também teve colaboração com a Universidade Federal da Grande Dourados.

“Com os resultados desta pesquisa que se somam às conclusões de outros estudos, e devido à importância de identificar fatores que podem influenciar a incidência da COVID-19, recomendamos a prática de seguir dietas à base de plantas ou padrões alimentares vegetarianos”, destaca Júlio César Acosta-Navarro.

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