A nova era da informação, onde é possível fazer perguntas e interagir com a inteligência artificial, apresentou facilidades, mas também desafios ao humanos. Plataformas de inteligência artificial se tornaram verdadeiros oráculos contra dúvidas cotidianas. Atualmente, nas redes sociais, é possível observar internautas utilizando as ferramentas para montar planos nutricionais e até treinos físicos, seja para emagrecer ou até para ganhar massa muscular. O Correio conversou com o médico Flávio Cadegiani, especialista em endocrinologia e metabolismo, para entender melhor a funcionalidade de seguir os planos criados pela IA.



De acordo com Flávio Cadegiani, médico graduado pela Universidade de Brasília (UnB) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), o plano feito pela inteligência artificial pode ser completo, mas não isento de riscos. “Hoje, no Chat GPT, por exemplo, é possível montar uma dieta de acordo com o número de calorias, a quantidade de proteína, de carboidrato, de gordura, e até os horários. O grande problema é que a ferramenta não olha de volta para a pessoa. O Chat GPT se baseia em uma média de estudos, que por sua vez têm uma altíssima variabilidade de respostas. É uma dieta literalmente robotizada que não leva em consideração nenhuma das nuances da pessoa”, alerta.


"Tem muitas limitações com a capacidade de adaptação de dieta para pessoas com doenças faixa etárias ou então pessoas, por exemplo, que tem sarcopenia — baixa massa muscular — ele (a plataforma) não consegue se adaptar. Se for colocar que você quer perder um peso, ele vai fazer um cálculo de perda. Por exemplo, 10% de calorias a menos do que você ingere baseado também em um cálculo genérico de estimativa, que são baseado em peso, é algo que está muito longe de ter qualquer precisão com a realidade. Além disso, também não se leva em consideração as questões práticas do dia a dia, como uma criança, o Chat GPT jamais vai saber as opções de alimentos que tem na escola, quais as possibilidades financeiras que a família pode ter para oferecer como lanche, tudo é uma questão", relata.

 


Personalizado e genérico

 

Cadegiani explica que entre um cronograma feito por profissional e um planejamento genérico, como a dieta, a IA não é capaz de levar todas as características individuais em conta. “Quando um cronograma dietético inclui também um cronograma de atividades físicas e até um de dormir é feito por um profissional, ele leva em consideração a rotina da pessoa, inclusive, leva a consideração a não rotina de pessoas que não tem uma rotina fixa, que viaja muito. Leva em consideração a cultura tanto da pessoa, quanto do local, as preferências, os gostos da pessoa, a capacidade de produção daqueles alimentos, a rotina de trabalho, os horários que a pessoa tem e outros formas que o profissional consegue gerar um cardápio com base em todas as alterações, inclusive fazer múltiplas adaptações dos cardápios conforme os dias de não rotina. Então nada disso consegue ser previsto por um planejamento genérico", completa.

Ter um acompanhamento nutricional individualizado e com profissionais da área é uma forma de ter todas as necessidades atendidas, além de poder tirar todas as dúvidas e ter uma orientação necessária para o bem-estar. “A individualização tem inúmeras vantagens, muitas relacionadas com o conhecimento que o profissional tem que ter com o paciente, quanto em especial com a detecção de não resposta, porque na individualização do tratamento você consegue avaliar como essa pessoa responde a determinada dieta. Uma dieta feita pelo Chat GPT, você não consegue ter uma resposta daquela avaliação, porque por exemplo, foi montada uma dieta X, no Chat GPT, ele não vai conseguir mudar a dieta para um outro tipo. Já profissionais da área, procuramos melhores alternativas, de novas dietas e novas formas para o que for melhor para o paciente”, conclui.


Defesa da inteligência artificial

O Correio tenta contato com a OpenAI (empresa dona do Chat GPT, citado por Cadegiani) para buscar uma posição sobre a importância da individualidade nos planos de dietas e treinos da inteligência artificial. Em caso de resposta, o texto será atualizado.

Em nota no site oficial da empresa, Mira Murati (chefe de tecnologia da OpenAI) defende que "Os sistemas de IA estão se tornando parte do cotidiano das pessoas. A chave é se assegurar que essas máquinas estão alinhadas com as intenções e valores humanos".

 

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