Chega à casa dos milhões os casais no mundo que experimentam a infertilidade, com metade dos casos originários de homens (por causa única ou compartilhada com a mulher). “Para 10% dos homens inférteis, pouco ou nenhum espermatozoide é produzido. Quando há pouca produção de espermatozoides, isso dificulta demais uma concepção natural”, explica o especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita, Fernando Prado. Agora, uma nova pesquisa publicada na Science Advances esclarece o que pode estar errado no processo de formação de espermatozoides, levando a possíveis teorias sobre tratamentos viáveis. “Como uma causa significativa de infertilidade nos homens é que eles simplesmente não conseguem produzir esperma. Se identificarmos o que está errado, existem tecnologias emergentes agora que podem fornecer uma maneira de corrigir”, acrescenta.

O estudo pode ajudar nessa tarefa de explicar por que alguns homens não produzem espermatozoides suficientes para fertilizar um óvulo. “Na maioria das espécies que se reproduzem sexualmente, incluindo os humanos, uma estrutura proteica crítica semelhante a uma ponte em forma de treliça precisa ser construída adequadamente para produzir espermatozoides. A equipe descobriu que, em ratos, a mudança de um ponto único e muito específico nessa ponte causou seu colapso, levando à infertilidade. Isso fornece informações sobre a infertilidade humana em homens devido a problemas semelhantes com a meiose”, acrescenta o médico.

A meiose é o processo de divisão celular que dá origem a esperma e óvulos, envolve várias etapas, uma das quais é a formação de uma grande estrutura de proteínas chamada complexo sinaptonemal. “Como uma ponte, o complexo mantém pares de cromossomos no local, permitindo que ocorram trocas genéticas necessárias que sejam essenciais para que os cromossomos se separem corretamente em espermatozoides e óvulos. Um contribuinte significativo para a infertilidade são os defeitos na meiose. Para entender como os cromossomos se separam corretamente em células reprodutivas, estamos realmente interessados no que acontece antes disso, quando o complexo sinaptonemal se forma entre elas", explica o médico.



Estudos anteriores examinaram muitas proteínas compreendendo o complexo sinaptonemal, como elas interagem entre si e identificaram várias mutações ligadas à infertilidade masculina. “A proteína que os pesquisadores investigaram nesse estudo forma as treliças da ponte, que possui uma seção encontrada em humanos, ratos e a maioria dos outros vertebrados, sugerindo que é crítico para a produção de espermatozoides”, diz o médico.

Os autores usaram uma técnica precisa de edição genética para fazer mutações em uma proteína-chave do complexo sinaptonêmico em camundongos, o que permitiu aos pesquisadores, pela primeira vez, testar a função de regiões-chave da proteína em animais vivos. Apenas uma única mutação, prevista a partir dos experimentos de modelagem, foi verificada como o culpado da infertilidade em camundongos.

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Os ratos têm sido usados há muito tempo como modelos para doenças humanas. A partir dos experimentos de modelagem usando sequências de proteínas humanas, juntamente com a alta conservação dessa estrutura proteica entre as espécies, a molécula que causou infertilidade em camundongos provavelmente funciona da mesma maneira em humanos. “Com isso, espera-se que novos tratamentos sejam desenvolvidos para reparar esse defeito na ponte, a fim de consertá-lo para produção normal de espermatozoides”, aponta o médico.

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