O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 60% dos adultos brasileiros estão acima do peso e 25% são obesos. Projeções da Federação Mundial de Obesidade dão conta que, até 2035, o país terá 41 milhões de pessoas com excesso de peso. Além de ser um fator de risco para hipertensão arterial, diabetes e aumento do colesterol, a obesidade é responsável por 4% a 8% dos casos de câncer. Estudos apontam que o sobrepeso e o excesso de gordura corporal estão associados a 13 tipos de câncer: colorretal, endométrio, esôfago, estômago, fígado, mama, mieloma múltiplo, meningioma, ovário, pâncreas, rins, tireoide e vesícula biliar.

O oncologista da Oncologia D’Or, Luiz Gustavo Torres, explica que o câncer é uma doença provocada por complexa interação de fatores. “Alguns deles, como o histórico familiar e o avançar da idade, não há como mudar. Mas existem outros que podem ser reduzidos com a alteração do estilo de vida, como é o caso do sobrepeso, da obesidade, do tabagismo, do sedentarismo, da exposição a substâncias cancerígenas e do consumo excessivo de álcool e alimentos multiprocessados”, pondera.



A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a obesidade como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura a ponto de prejudicar a saúde. O Índice de Massa Corporal (IMC) é usado para mensurar se a pessoa está dentro do peso ideal para a sua altura. Indivíduos com IMC de 25 a 29 kg/m2 são considerados com sobrepeso. Os obesos são divididos em três categorias: classe 1 (IMC entre 30 a 34,9 kg/m2), classe 2 (IMC entre 35 e 39,9 kg/m2) e classe 3 (IMC igual ou maior a 40 kg/m2).

Porque a obesidade é um fator de risco?

Segundo Luiz Gustavo Torres, mestre em ciência pela Fiocruz/ENSP, a tese mais aceita para considerar o sobrepeso e a obesidade como fatores de risco para o câncer é que o tecido adiposo aumenta a secreção de substâncias inflamatórias, que estimulam a multiplicação das células. “Quanto mais as células se multiplicam, maior é a possibilidade de surgirem células cancerígenas”, observa.

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O aumento da inflamação pelas células adiposas leva à produção extra de hormônios e fatores de crescimento. “Esse cenário favorece a divisão celular mais frequente, aumentando o risco do surgimento de células do câncer e da multiplicação celular sem controle, o que resulta no desenvolvimento da neoplasia”, esclarece o médico.

Prevenção

Além de manter a alimentação saudável, a prática de exercícios físicos é aliada para quem quer ter o peso ideal para sua altura. Pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, realizaram um estudo de revisão para analisar os benefícios da atividade física para cada tipo de câncer associado ao sobrepeso e à obesidade.

De acordo com esses pesquisadores, uma meta-análise de 38 estudos mostrou que qualquer atividade física estava associada a um risco 13% menor de câncer de mama. Um estudo envolvendo 70 mil norte-americanas revelou que mulheres que praticavam até sete horas de atividade física por semana tinham um risco 20% menor de câncer de endométrio. Já uma pesquisa brasileira realizada na região amazônica descobriu que as pessoas com os mais altos níveis de atividade física praticados entre cinco anos e 15 anos tinham até 80% menos chance de ter câncer gástrico.

Cirurgia bariátrica

Pesquisadores australianos fizeram um estudo de revisão sistemática e meta-análise das evidências encontradas de 2007 a 2023 da prevenção de câncer após cirurgia bariátrica. No total, foram avaliados 511.585 pacientes que realizaram este procedimento, em comparação com 1.889.746 pessoas com obesidade mórbida tratados com terapias convencionais.A meta-análise sugeriu que a cirurgia bariátrica foi associada à redução de 38% da incidência geral de câncer e de 41% dos tumores associados à obesidade.

O estudo também detalhou o impacto do procedimento cirúrgico para 13 tipos de câncer. Por exemplo, a cirurgia bariátrica reduziu em 65% o câncer no fígado, 62% no endométrio, 59% na vesícula, 55% no ovário, 48% no pâncreas, 44% na mama e 37% no intestino (cólon e reto). Não houve redução significativa na incidência de câncer no esôfago, gástrico, tireoide, rim, próstata ou mieloma múltiplo após cirurgia bariátrica em comparação com pacientes com obesidade mórbida que não foram submetidos à cirurgia bariátrica.

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