O ronco em si, quando não é um sintoma relacionado a algum distúrbio, como a apneia do sono, pode não representar nenhum risco à saúde, No entanto, pode causar problemas tanto para o individuo. Além disso, o problema pode afetar, inclusive, o sono do seu parceiro - desencadeando diversos problemas relacionados à privação do sono, alterações cognitivas. desenvolvimento de comorbidades e doenças cardiovasculares.

A especialista em fisioterapia respiratória e fisioterapia do sono da Resmed Sofia Furlan, explica em cinco tópicos a diferença entre o ronco normal e o gerado pela apneia obstrutiva do sono.


1. Quais são as causas mais comuns do ronco e como elas afetam a qualidade do sono?


Sofia explica que "durante o sono ocorre o relaxamento da musculatura das vias aéreas superiores, estreitamento e aumento da resistência à passagem do ar na região da garganta, mais especificamente na altura da base da língua, desta forma ocorre a vibração do ar e o som do ronco é produzido".



O ronco pode ser descrito em termos de frequência (número de vezes) ou volume (dB). Bem como a apneia obstrutiva do sono pode ser classificada de acordo com a sua gravidade, o ronco pode ser classificado em leve (40-50 dB), moderado (50-60 dB) e grave (>60dB).

  • Homens são mais propensos a apresentar roncos que mulheres: composição corporal -> maior acúmulo de gordura na região abdominal, espessura do pescoço (levam a um maior estreitamento das vias aéreas)
  • Estágio final da gravidez: ganho de peso, retenção de líquido (estreitam a passagem de ar nas vias aéreas) e alterações hormonais que aumentam o relaxamento da musculatura das vias aéreas
  • Alterações craniofaciais como a retrognatia ou micrognatia do queixo: estreitamento das vias aéreas
  • Consumo de álcool: maior relaxamento da musculatura das vias aéreas
  • amígdalas ou adenóides aumentadas: estreitamento das vias aéreas
  • Medicações: algumas medicações promovem um maior relaxamento da musculatura das vias aéreas durante o sono
  • base da língua alargada, amígdalas aumentadas: estreitamento das vias aéreas
  • Congestão por alergia ou resfriado, desvio de septo: estreitamento das vias aéreas
  • sobrepeso, posição que dorme (dormir de barriga para cima favorece a queda da língua para trás pela ação da gravidade): estreitamento das vias aéreas

Muitas pessoas que apresentam ronco sem apneia obstrutiva do sono, reclamam de sono não reparador e de comprometimento cognitivo funcional. Os sintomas diurnos podem estar relacionados a diminuição na eficiência do sono e redução do tempo de sono devido ao próprio despertar pelo barulho do ronco.

Alguns estudos mostram que a energia vibratória do ronco, principalmente em indivíduos que apresentam ronco grave (>60dB), pode ser transmitida para a artéria carótida, podendo levar a disfunção endotelial (alteração do relaxamento vascular) ao longo do tempo e a aterosclerose (Acúmulo de gorduras, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias e dentro delas).

2. O ronco está sempre relacionado à apneia do sono, ou existem casos em que o ronco é inofensivo?


Nem todas as pessoas que roncam apresentam apneia obstrutiva do sono (AOS) e nem todas as pessoas com apneia obstrutiva do sono roncam. Por esse motivo, é de vital importância descartar o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono em uma pessoa que ronca ao procurar tratamento. Reconhecer a diferença entre AOS e ronco primário não é possível sem um exame do sono.

O ronco acompanhado de algum dos seguintes sintomas:

  • pausas respiratórias presenciadas
  • sonolência excessiva diurna
  • dificuldade de se concentrar
  • dores de cabeças matinais
  • boca seca ao acordar
  • sono não reparador
  • engasgos noturnos 

Todos podem ser um indicativo para procurar um profissional de saúde especializado em sono e iniciar investigações para o diagnóstico correto. 


O diagnóstico de ronco primário pode ser feito somente quando o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono for descartado. Há uma crescente preocupação de que o ronco, mesmo na ausência de AOS, represente um risco para a saúde.

3. Quais são as opções de tratamento disponíveis para pessoas que sofrem de ronco crônico?

No caso do ronco primário - o qual depende de uma avaliação de um profissional de saúde especializado, utilizará:

  • Aparelhos intra-orais com os dentistas do sono
  • Exercícios miofuncionais com a fonoaudióloga do sono
  • Cirurgias para casos específicos e bem avaliados pelo otorrinolaringologista
  • Perda de peso
  • Aparelho CPAP - pressão positiva contínua nas vias aéreas (apesar de sua indicação principal ser para AOS, pacientes roncadores podem se beneficiar do tratamento)
  • Terapia posicional (dormir de lado ou barriga para baixo)

Já no ronco relacionado a apneia obstrutiva do sono moderada a grave:

  • CPAP
  • Terapia posicional (dormir de lado ou barriga para baixo). O exame de sono detectará se a apneia é somente com o paciente de barriga para cima
  • O tratamento com CPAP também pode vir associado aqui.

O ronco relacionado a apneia obstrutiva do sono leve deve ser obrigatoriamente avaliado pelo profissional de saúde especializado em sono:

  • Aparelhos intra-orais com os dentistas do sono
  • Exercícios mio-funcionais com a fonoaudióloga do sono
  • Cirurgias para casos específicos e bem avaliados pelo otorrinolaringologista
  • Perda de peso
  • Terapia posicional (dormir de lado ou de barriga para baixo)
  • CPAP para pacientes sintomáticos com sonolência excessiva diurna associada ou doenças cardiovasculares

4. Como o ronco pode impactar a saúde cardiovascular a longo prazo?

Quando o ronco é associado à apneia obstrutiva do sono as frequentes paradas respiratórias durante a noite levam a um quadro cíclico de hipoxemia (queda dos níveis de oxigênio) e hipercapnia (aumento dos níveis de CO2), isso leva a vasoconstrição pulmonar, hiperestimulação do sistema nervoso simpático (aumento da pressão arterial), principalmente durante a noite.


O fato dessa queda da oxigenação ser cíclica, ou seja o paciente para de respirar o oxigênio cai, quando ele volta a respirar, o oxigênio sobe. O processo é repetido inúmeras vezes durante a noite - ocasionando um aumento no estresse oxidativo e aumento no risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.


5. Existem medidas preventivas que as pessoas podem adotar para reduzir ou evitar o ronco?

  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas
  • Controle do peso corporal para indivíduos com o IMC dentro da normalidade e perda de peso para indivíduos com sobrepeso
  • Dormir de lado ou em decúbito ventral (barriga para baixo)
  • Mudanças no estilo de vida (melhora da alimentação, ajuste do horário das refeições e atividade física)
  • Evitar obstruções nasais provocadas por ressecamento ou alérgenos (manter o nariz hidratado com soro fisiológico, por exemplo e tratar os fatores desencadeantes de alergia que leva a obstrução nasal)
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