Um estudo realizado por médicos da Universidade do Cairo, no Egito, e da Universidade Beirut Arab, no Líbano, mostra que a prática de atividades físicas é uma aliada para reduzir os desconfortos provocados pela endometriose, uma condição caracterizada pelo crescimento do endométrio (tecido que reveste o útero) fora do órgão e em partes da área pélvica, como ovários, trompas, intestino e bexiga.
As 20 participantes do estudo, de 26 e 32 anos, tinham endometriose e realizaram exercícios de força, mobilidade do quadril, alongamento e respiração. As voluntárias fizeram 20 minutos de esteira no final das sessões que duraram de 30 a 60 minutos por dia, três vezes por semana. Os pesquisadores analisaram os quadros após quatro semanas e, novamente, após oitos semanas. Eles observaram uma grande diminuição na dor das mulheres, e também nas alterações posturais da pelve e do quadril causadas pela doença.
Normalmente, o tratamento da endometriose envolve a prescrição de medicamentos e, em casos mais graves, há indicação cirúrgica. O estudo, no entanto, comprova que existem outras formas de combater os sintomas e de melhorar a qualidade de vida. “A atividade física estimula a liberação de endorfina, um hormônio que tem ação analgésica, ajudando a amenizar as dores provocadas pela enfermidade”, explica o ginecologista Sérgio Podgaec, vice-presidente da área de ensino do Hospital Israelita Albert Einstein.
O ginecologista diz que geralmente quem tem endometriose sente dores na região pélvica durante a menstruação e que as pacientes têm outros sintomas, como dores crônicas, cólicas intestinais intensas, incômodo durante a relação sexual, dor ao urinar e evacuar e dificuldade para engravidar. Se não tratada, a doença pode levar à infertilidade.
“Os exercícios ajudam a manter o peso saudável, o que pode reduzir os níveis de estrogênio e aliviar os sintomas potencialmente”, acrescenta o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana Fernando Prado, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo Imperial College London, no Reino Unido, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana.
Segundo os especialistas ouvidos pela Agência Einstein, os sintomas podem interferir na vida pessoal e profissional por causa da dor incapacitante, além de comprometer a saúde emocional, fazendo com que as pacientes fiquem mais ansiosas e tristes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu, em maio de 2021, a doença como um problema de saúde pública e aponta que 176 milhões de mulheres sofrem da condição em todo o mundo — no Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é de que sete milhões tenham endometriose.
Outros benefícios dos exercícios no combate à doença
Os benefícios dos exercícios físicos vão além da diminuição do desconforto, segundo os especialistas. Eles ajudam também a fortalecer a musculatura do core, região que engloba a pelve, o quadril, o abdômen e as costas, oferecendo mais suporte estrutural e aliviando a tensão nas áreas afetadas pela doença. Manter-se ativa também combate a constipação, aumenta a energia, reduz a ansiedade e melhora o sono e o humor.
As modalidades aeróbicas de baixo e médio impacto são as mais indicadas para oferecer os ganhos sem o risco de causar mais desconfortos. Os médicos, no entanto, orientam que cada pessoa procure aquela modalidade que mais gosta para que possa ter frequência na atividade. A prática não precisa necessariamente ser adaptada ao ciclo menstrual, mas ela pode precisar de ajustes dependendo dos sintomas. “É essencial que a mulher respeite sua dor”, afirma Podgaec.
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“É importante ouvir o próprio corpo e ajustar a intensidade e o tipo de exercício conforme necessário. Logo antes da menstruação, há retenção de líquidos, o intestino pode mudar seu hábito, as mamas ficam mais inchadas e o abdômen dolorido, o mesmo vale para os primeiros dias do ciclo”, diz Prado. “Dessa forma, nesses dias é melhor pegar mais leve para que não haja piora dos sintomas ou o surgimento de incômodos maiores.”
Exagerar também não é uma boa ideia, pois pode provocar lesões, risco que todos correm quando abusam na malhação. “Exercícios muito intensos podem aumentar a inflamação e piorar os sintomas”, alerta o especialista em reprodução humana. Por essas razões, o ideal é avaliar a capacidade de cada organismo e contar com orientação de um profissional de educação física ou um fisioterapeuta.