A Meta, que controla o Facebook e o Instagram, iniciou em 2024 anunciando mudanças nas diretrizes de proteção a adolescentes em seus apps. Conforme a big tech, determinados conteúdos sensíveis serão ocultados de acordo com idade do usuário, entre outros recursos que visam minimizar o impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens. Para a psicóloga Alice Munguba, especialista do núcleo infantojuvenil da Holiste Psiquiatria, a medida é muito importante porque a adolescência é um período de formação em que os limites entre o real e o virtual se confundem.
"A adolescência é uma fase em que há uma valorização muito maior do outro, o grupo de amigos passa a ter uma importância enorme. Muitas vezes, os adultos esquecem de que nesta etapa de formação da personalidade, a opinião das outras pessoas tem uma influência subjetiva muito grande, assim como aquilo que se lê, que se assiste, e aqui entra os conteúdos online sobre automutilação, distúrbios alimentares, entre outros assuntos que serão restringidos pelas redes sociais", detalha a psicóloga.
Cancelamento e ansiedade social
Para a psicóloga, é importante que empresas de tecnologia reconheçam que, apesar do controle sobre uso das redes sociais ser uma responsabilidade dos pais, elas também têm que se responsabilizar e limitar o conteúdo sensível que veiculado e propagado virtualmente, mesmo que se saiba que existam outras questões - como o cyberbullying e o cancelamento - que implicam outros cuidados, às vezes até mesmo do ponto de vista legal ou de saúde.
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Para a Daniela Araújo, psicóloga coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da Holiste Psiquiatria, cada vez mais crianças e adolescentes chegam aos consultórios com episódios de sofrimento emocional ligados ao desequilíbrio entre o mundo real e o virtual. "Os profissionais de saúde mental estão recolhendo algumas consequências e acredito que este é o futuro. Percebemos que os jovens chegam infectados pelo mundo imaginário das redes sociais e despreparados para a realidade das relações humanas, que é a diferença, a dificuldade de conviver".
Com essa predominância das relações on-line, inclusive nas expectativas sobre o futuro, já que muitos adolescentes sonham em viralizar, em se tornarem influenciadores digitais, somada com a vulnerabilidade que a adolescência representa, já que é a etapa de construção da personalidade, perder a aprovação online, ou seja, ser cancelado nas redes, se torna um gatilho real e pode desencadear transtornos mentais, inclusive.
A participação de Vanessa Lopes no BBB
A influenciadora Vanessa Lopes surpreendeu os participantes do BBB 24 ao desistir do jogo logo nas primeiras semanas de confinamento. A saúde mental participante já vinha despertando a atenção dos colegas de programa e do público por apresentar comportamentos um pouco perdidos. Ao sair do programa, a jovem está recebendo tratamento psiquiátrico em casa, de acordo com boletim médico publicado pela família.
"A participação de Vanessa Lopes é um tema delicado porque não podemos diagnosticar ou falar sem acompanhar o caso, mas podemos hipotetizar sobre a diferença entre o mundo real e o mundo virtual. Não que esse seja o caso dela, mas essa diferença entre o virtual e o real pode abalar algumas pessoas e desencadear situações de sofrimento mental. Não é à toa que muitos jovens estão desistindo dos estudos porque conviver coletivamente se tornou fonte de uma ansiedade incapacitante", aponta.
Para as psicólogas, os efeitos da alta exposição e presença no ambiente virtual cada vez mais mostrará suas potencialidades e suas consequências nocivas, basta analisar que as telas entram cada vez mais cedo na vida das crianças, que desde muito pequenas já estão com o smartphones na mão. O ideal para os responsáveis é sempre buscar o equilíbrio entre os jogos on-line e as brincadeiras com a turma presencialmente.