De acordo com levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), para o triênio 2023-2025, a Região Sudeste do Brasil apresentará, por ano, 2.580 novos casos de leucemias, um tipo de neoplasia hematológica que causa o crescimento acelerado e anormal nas células do sangue responsáveis pela defesa do organismo, os leucócitos. Já Minas Gerais terá 990 casos dessas neoplasias, por ano, e na capital mineira serão 170 anualmente. As leucemias podem ser divididas em agudas e crônicas, sendo as agudas as Leucemias Linfoblástica Aguda (LLA) e a Leucemia Mieloide Aguda (LMA).
Nos últimos anos, as intervenções médicas da LLA apresentaram muitos progressos. Além do tratamento quimioterápico e do transplante de medula óssea, o uso de anticorpos monoclonais e o avanço da terapia celular fazem parte do arsenal terapêutico para combater essa doença, que é a neoplasia mais comum em crianças, podendo acometer também adultos.
“O uso de anticorpos monoclonais, a imunoterapia, consiste no uso de medicações que atacam especificamente as células da leucemia e podem ser usadas em pacientes com LLA do tipo B, tanto em crianças quanto em adultos, aumentando as taxas de curas. As imunoterapias utilizadas no Brasil para LLA-B são a Blinatumomabe e Inotuzumabe”, explica a médica Mariana Chalup, hematologista do Cancer Center Oncoclínicas em Belo Horizonte.
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Outro recente avanço envolve a terapia celular, que tem apresentado excelentes resultados nos procedimentos da LLA-B. Essa tecnologia inovadora é a chamada CAR-T cell que tem revolucionado as intervenções dessa neoplasia. Em 2017, a “Food and Drug Administration” (FDA), órgão governamental dos Estados Unidos que faz o controle dos medicamentos, aprovou a primeira terapia CAR-T, que começou a ser utilizada em pacientes com até 24 anos com LLA-B que haviam apresentado recaída da doença.
Diante dessa nova perspectiva para os pacientes da LLA, cientistas têm se debruçado em pesquisas e estudos. Recentemente, um artigo publicado na Revista FT, elaborado por meio de uma revisão bibliográfica e com a base de dados eletrônica da National Library of Medicine (PUBMED), entre 2018 a 2022, com 187 artigos científicos concluiu que “diante das várias complicações e dificuldades no tratamento da Leucemia Linfoide Aguda, os avanços da imunoterapia direcionada com células CAR-T, vem se mostrando uma técnica eficaz contra a LLA, registrando de forma expressiva percentuais de remissão quase completos dessa doença hematológica maligna”.
A CAR-T cell está disponível no Brasil?
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já aprovou dois produtos CAR-T para LLA-B: o Kymriah e o Tecartus. “O CAR-T cell consiste em uma tecnologia que ensina as próprias células imunológicas do paciente a reconhecerem e destruírem as células cancerígenas em atividade. Essa forma de tratamento é recente, mas tem mostrado excelentes resultados”, observa a hematologista.
O CAR-T cell é elaborado por meio da modificação em laboratório das células do próprio paciente, os linfócitos T, retiradas do sangue durante um processo chamado leucaférese. Essas partículas são modificadas geneticamente e "ensinadas" a atacarem as células cancerígenas. Considerado um dos tratamentos mais revolucionários da medicina, tem altíssima complexidade, uma vez que é personalizado, pois utiliza as células de defesa do próprio paciente para combater a doença.
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Vale ressaltar que no Brasil, esses tratamentos imunoterápicos e o CAR-T cell só estão indicados, até o momento, para pacientes que têm recaída da doença, de acordo com o Ministério da Saúde.
Leucemia tem cura?
Segundo uma avaliação epidemiológica das leucemias linfoblásticas, organizada pelo Ministério da Saúde, a LLA é a neoplasia mais presente na infância, correspondendo 30% a 35% dos casos de câncer neste segmento. Seu pico de incidência ocorre entre 2 e 5 anos de idade, sendo quatro vezes mais frequente que a Leucemia Mieloide Aguda (LMA).
De acordo com Mariana Chalup, o tipo LLA em crianças tem alta taxa de cura, podendo chegar de 80% a 90%, sendo mais baixas em adultos. “Pacientes que têm recaídas podem ser curados com tratamentos quimio-imunoterápicos. Mesmo pacientes com doenças mais avançadas, refratários a múltiplos tratamentos, incluindo o transplante de medula óssea, ainda é possível tratar com a terapia com CAR-T, inicialmente em crianças e adultos jovens, mas, em breve, adultos mais velhos também poderão ser beneficiados, o que é um avanço muito importante", pontua.
Como fazer o diagnóstico de leucemia?
Certos fatores podem aumentar o risco do surgimento da doença, como a exposição a substâncias químicas, como o benzeno, formaldeídos e agrotóxicos, cigarro, exposição excessiva à radiação, além de algumas síndromes e doenças hereditárias.
Fique atento para os sintomas de fadiga, falta de apetite e mal-estar, que raramente levam à suspeita de leucemia, em um primeiro momento, mas com o tempo se acentuam e surgem manifestações mais típicas relacionadas à plaquetopenia, quando a contagem de plaquetas no sangue está abaixo de 150.000/mm3:
- Hemorragias;
- Manchas avermelhadas e pequenas;
- Manchas azuis e roxas;
- Dor óssea;
- Fígado e baço aumentados.
Também são comuns as infecções recorrentes pela neutropenia (baixa quantidade de neutrófilos no sangue). O diagnóstico é confirmado por meio do exame de mielograma, apresentando mais de 20% a 30% de blastos de morfologia homogênea.
Conheça os tipos de leucemias:
- Leucemia Linfoide Aguda (LLA): mais comumente observado em crianças e apresenta rápido desenvolvimento;
- Leucemia Linfoide Crônica (LLC): afeta principalmente adultos, geralmente a partir dos 50 anos. Tem crescimento mais lento. Raramente ocorre em crianças;
- Leucemia Mieloide Aguda (LMA): o tipo mais comum de leucemia em adultos e tem desenvolvimento muito rápido. Raramente ocorre em crianças. Na leucemia mieloide aguda a medula óssea produz muitas células sanguíneas anormais que se acumulam pelo corpo;
- Leucemia Mieloide Crônica (LMC): caracteriza-se por uma produção excessiva de glóbulos brancos e por ter uma evolução lenta. Acomete em geral pessoas idosas.