O relato de uma empresária diagnosticada com sarcoma viralizou nas redes sociais nos últimos dias, ultrapassando a marca de quatro milhões de visualizações até o momento. Após procurar vários médicos, durante seis meses, por conta de um nódulo no nariz - o qual se assemelhava à uma espinha interna, Juliana Lima Vilela, de 30 anos, foi diagnosticada com um sarcoma, um tipo de tumor raro, mas que costuma ser bastante agressivo.
Por ano, nos Estados Unidos, segundo dados do American Cancer Society (ACS), são registrados cerca de 13 mil novos casos. Quanto às chances de desenvolver a neoplasia, é estimado um a cada 250 pacientes, e somados o conjunto de subtipos, os Sarcomas representam 1% de todos os casos de câncer do mundo. No caso de crianças, a doença se torna mais comum, correspondendo a 20% de todos os tipos de tumores malignos, segundo a entidade Sarcoma Foundation of America. Todos os anos, por decorrência da doença, cinco mil pessoas morrem devido a neoplasia.
Juliana conta que após consultas com dermatologistas e cirurgiões plásticos, decidiu buscar aconselhamento com oncologistas, que então diagnosticaram a condição. Desde então, ela começou a compartilhar sua rotina de exames e recuperação através de vídeos e depoimentos postados na internet. Em dezembro de 2023 a empresária foi submetida a uma cirurgia para remoção do tumor e passará ainda por um procedimento para reparação da área da face, programado para abril.
Principais tipos e sinais de alerta
O sarcoma pode ocorrer em qualquer parte do corpo e costuma atingir na maioria dos casos ossos e também as chamadas partes moles, como músculos, cartilagens, nervos, entre outros. "Existem diversos tipos de sarcoma, que são definidos a partir das células que se originam e ainda seu grau de agressividade. Em linhas gerais, é um câncer que atinge especialmente ossos e partes moles, como células de gordura, músculos, cartilagens e nervos periféricos. Estima-se que em pelo menos 50% dos casos dos sarcomas de tecidos moles e em grande parte dos casos, 75%, os tumores costumam se desenvolver nos braços e pernas", explica Bruna David, oncologista da Oncoclínicas.
Esse tipo de tumor, considerado raro, não tem seus dados estabelecidos pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) devido sua baixa incidência no país. "Os principais fatores de risco para o sarcoma são as doenças genéticas hereditárias, tratamentos de radioterapia na infância e ainda histórico de retinoblastoma, câncer de colo do útero, mama ou linfoma", comenta a oncologista.
Apesar da pluralidade de tipos da doença, Bruna David ressalta que dentre os sarcomas de partes moles, os mais frequentes são os chamados lipossarcomas (que se originam em células de gordura) e os sinoviossarcomas, que afetam tendões e articulações.
Já no grupo dos sarcomas ósseos, chamam especialmente a atenção os osteossarcomas, tipo de câncer infantojuvenil mais comum no Brasil. “Alguns sarcomas aparecem mais em determinadas faixas etárias. Esse é o caso dos osteossarcomas, que por ser um tipo de câncer que começa nas células formadoras dos ossos é comum que seja mais frequente em pacientes pediátricos”, ressalta a especialista.
De acordo com a especialista, como os sarcomas podem surgir em qualquer parte do corpo, os sintomas variam conforme a localização da lesão e das estruturas vizinhas afetadas. Geralmente, os sinais da doença incluem presença de uma massa, um edema ou ainda mudanças na sensibilidade da área do corpo afetada. “Como raramente a doença apresenta sinais como febre, perda de peso ou fadiga, o que pode sugerir algum problema de saúde é um possível caroço com crescimento evolutivo e incômodo local”, diz.
Sintomas mais evidentes surgem já no estágio avançado da doença, justamente quando passa a pressionar os órgãos. "Os sinais, que costumam ser confundidos com o de outras doenças comuns, merecem atenção e uma investigação detalhada. Por isso, é importante ficar em alerta quanto a nódulos ou tumoração indolor, sangue nos vômitos, dor abdominal que fica mais intensa com o passar do tempo, fezes escuras e ainda sangue nas fezes", enumera Bruna David.
Diagnóstico
Infelizmente, não existe nenhum exame de rotina capaz de detectar a doença precocemente. Para o diagnóstico de sarcoma, é realizada uma biópsia que retira um fragmento para avaliação anatomopatológico. "O procedimento recomendado para o paciente irá depender de alguns fatores, como o tamanho e também a localização desse tumor", reforça a especialista. Vale lembrar ainda que se houver áreas suspeitas, pode ser feita a retirada para análise microscópica.
Como o tratamento é feito
Após a análise de cada caso, o tratamento dos sarcomas pode envolver combinações variadas entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia - sendo a primeira alternativa o procedimento mais realizado.
Quando o tumor está em estágio inicial, dependendo ainda de sua localização, pode ser recomendado a retirada total. Em casos mais avançados, cirurgias maiores podem ser recomendadas, necessitando da amputação do membro acometido. Contudo, vale reforçar que a orientação é sempre preservar ao máximo o membro do paciente.
Em casos como esse, a quimioterapia e/ou radioterapia podem ser combinadas das seguintes maneiras:
- Neoadjuvante: antes da operação, para reduzir o tamanho do tumor e facilitar o procedimento, além de preservar ao máximo os tecidos saudáveis
- Adjuvante: depois da cirurgia, para diminuir a chance de que a doença apareça novamente
Avanços na ciência
Além da quimioterapia, radioterapia e cirurgia, novas opções vêm sendo desenvolvidas e estudadas. Uma das alternativas são drogas alvo moleculares, que atacam apenas as células do tumor, sem lesionar as células normais.
"Esse é um grande passo no tratamento do câncer. No entanto, é fundamental que o diagnóstico seja preciso e individualizado para o recurso da terapia. Um dos benefícios é uma menor toxicidade em relação a quimioterapia e radioterapia, por isso, acredito que novas portas possam ser abertas na luta contra o câncer", comenta a oncologista.
É possível prevenir?
A grande maioria dos sarcomas não estão ligados a uma causa específica, por isso, não é possível definir uma maneira de prevenir o tumor. Contudo, Bruna David reforça a importância de adotar hábitos saudáveis e transmitir informações de qualidade.
"É fundamental investir na moderação da ingestão de bebidas alcoólicas, ter uma dieta balanceada rica em fibras, frutas e vegetais crus, evitar o tabagismo e praticar exercícios físicos regularmente. Além disso, caso o paciente perceba um nódulo, é necessário a investigação imediata", recomenda.