Cerca de um em cada quatro homens, entre 40 e 79 anos de idade, relataram experimentar algum tipo de incontinência urinária, segundo estudo realizado pela Universidade de Michigan. Essa condição, pouco falada no meio masculino, e ainda considerada um tabu, pode afetar cerca de 5% dos homens com menos de 65 anos e cerca de 15% dos homens com mais de 60 anos, de acordo com a Sociedade Internacional de Continência (ICS).
A incontinência urinária é caracterizada pela perda involuntária de urina, devido à diminuição da tonicidade muscular na área pélvica ou como resultado de danos no esfíncter (músculo que controla a abertura e o fechamento de um determinado orifício), que comprometem o controle da micção (ato de expelir urina). Essa condição não é considerada uma doença, e, sim, um sinal de disfunção, podendo ser categorizada em quatro tipos, segundo o urologista Giuliano Aita:
1- Incontinência urinária de esforço: perda de urina associada a algum esforço físico, que pode ser de leve intensidade (como caminhar ou levantar-se) ou de forte intensidade (como tossir ou espirar)
2- Incontinência urinária por urgência: também conhecida como incontinência urinária por bexiga hiperativa, ocorre quando a urgência de urinar é muito forte e, muitas vezes, o paciente não consegue chegar até o banheiro
3- Incontinência urinária mista: associa dois tipos de incontinência urinária, a de esforço e a de urgência. Assim como nas demais, sua característica é a incapacidade de controlar a perda involuntária de xixi pela uretra. A diferença é o fato de que esse escape pode ser causado tanto por esforço como por urgência, sem que a pessoa consiga chegar ao banheiro a tempo
4- Incontinência urinária por transbordamento: ocorre quando o xixi é segurado por tempo exagerado ou quando há uma obstrução à saída da urina, de forma que a bexiga não é esvaziada por longos períodos, então ela transborda
O desenvolvimento de sua causa pode estar atrelado a outras doenças subjacentes, como cirurgia e problemas de próstata, danos nos nervos pélvicos, envelhecimento do assoalho pélvico, excesso de uso de medicamentos, obstrução do trato urinário ou até mesmo traumas e lesões pélvicas. Normalmente, a condição é acompanhada por sintomas cujo próprio paciente pode suspeitar que possua incontinência urinária.
O especialista alerta para a necessidade de conhecer o próprio corpo e prestar atenção nos detalhes, como a perda involuntária de urina ao tossir ou espirrar; sentir uma necessidade urgente e súbita de urinar sendo difícil de controlar; urinar com mais frequência do que o normal, muitas vezes em pequenas quantidades; acordar durante a noite para urinar com frequência; gotejamento após urinar; dor ou desconforto ao urinar, e reforça sobre a importância de contatar um especialista para obter a orientação correta.
“A maior causa de incontinência urinária em homens é devido a procedimentos, como a prostatectomia radical, para tratar o câncer de próstata. Eles podem resultar em incontinência urinária temporária ou permanente. Além disso, ela pode ser originada por outras causas menos frequentes, como doenças neurológicas, distúrbios hormonais, tumores, prostatite, prolapso do órgão pélvico, dentre outras”, comenta o urologista.
Para diagnosticar a origem, o paciente deve ser encaminhado para uma consulta com médico urologista que realizará exames específicos em busca de um diagnóstico e indicação de tratamento adequado. Este último pode incluir uma combinação de mudanças no estilo de vida, fisioterapia, medicação, procedimentos minimamente invasivos ou cirurgia, dependendo da gravidade e da natureza da condição.
Embora o diagnóstico seja relativamente simples, o público masculino, em sua grande maioria, apresenta grande relutância em visitar o médico e falar sobre problemas urológicos, o que acaba impactando significativamente na vida de quem enfrenta essa condição. Muitos homens deixam de participar de eventos sociais, praticar esportes ou até mesmo manter uma vida ativa em geral devido ao medo de terem um “escape” em público, já que há um estigma sobre precisarem ser viris e fortes o tempo todo. As consequências dessas restrições podem até afetar a saúde mental e, em casos extremos, resultar em depressão.
CONTORNANDO O PROBLEMA
“O tratamento varia conforme o tipo de incontinência, do seu grau e da causa. Felizmente, com o avanço da medicina, há uma gama de opções disponíveis para ajudar os pacientes a recuperarem o controle da sua função urinária. Eles podem ser realizados de maneira conservadora, com medicamentos e/ou fisioterapia pélvica, e com intervenção cirúrgica com o intuito de resolver o problema em definitivo”, informa Giuliano.
Algumas das medidas não invasivas incluem mudança de hábitos e comportamentos, utilização de medicamentos, reabilitação e reeducação pélvica com técnicas de eletroestimulação e de biofeedback, além das técnicas clássicas de fisioterapia, como o fortalecimento muscular e manobras posturais, designadas por Exercícios de Kegel.
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Em relação às técnicas invasivas, algumas opções são injeção de "bulking agents", que faz encerrar a uretra, complementando a ação do esfíncter; colocação de "sling" sub-uretral - à semelhança da intervenção para a incontinência feminina -, que consiste em colocar uma fita por baixo da uretra e através dos orifícios obturadores, ajudando a impedir as perdas de urina; colocação de um esfíncter urinário artificial, que implica na inserção de um dispositivo que o próprio paciente aciona cada vez que quer urinar e, automaticamente, fecha em poucos minutos para manter a continência - é destinado a incontinências mais marcadas/graves.
Além disso, existem métodos paliativos que podem ser utilizados durante o dia para conter os escapes antes do diagnóstico final, como absorventes masculinos e cuecas especializadas, que garantem o conforto durante as atividades diárias. Porém, nem sempre os absorventes são a escolha preferida dos homens, devido à necessidade de trocas contínuas e por ser um produto que remete ao feminino, gerando desconforto e vergonha.