Em entrevista recente, a atriz Dani Suzuki, de 46 anos, revelou ter sofrido abuso por um vizinho, aos sete anos de idade. Porém, o medo, a insegurança e falta de abertura de diálogo na família, dificultaram que a jovem verbalizasse o problema na época; o que só veio a ocorrer quando ela completou 18 anos.
Dani ainda descreve que, na ocasião, ouviu de sua mãe que ela estaria sendo dramática. Mais uma história dolorosa que expõe as fragilidades sociais no quesito proteção à infância e adolescência contra a violência sexual no mundo. É preciso estar atento aos sinais de abuso infantil, eles existem e precisam ser combatidos.
“É muito importante apurarmos as atenções para a escuta, o cuidado e o acolhimento dessas crianças e jovens, no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade que, certamente, provocam mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores e com o mundo a sua volta, possibilitando ainda, o transporte do trauma sofrido para a vida adulta”, explica a psicanalista Andrea Ladislau.
Segundo Andrea, a violência sexual acarreta vivências traumáticas irreparáveis em suas vítimas. A começar pela grande dificuldade em manifestar verbalmente todo o sofrimento.
“Nestes casos, a melhor maneira de reconhecimento dos sinais do abuso, é buscar estar atento aos vestígios apresentados. Pois, diferentemente do que se pensa, as crianças dão pistas de que algo está fora da normalidade”, alerta.
Entre os principais sinais, Andrea enumera:
1. Distúrbios do sono (terrores noturnos)
2.Episódios de anorexia ou bulimia, baixa autoestima
3. Queda no rendimento escolar ou dificuldade de aprendizado e concentração
4. Isolamento social
5. Fobias
6. Agressividade
7. Crises de choro constantes e inesperadas
8. Episódios de enurese (xixi na cama) mesmo que após superado anteriormente
9. Inquietação fora do normal
10. Comportamentos hiper sexualizados precocemente
11. Déficit de linguagem
“Crianças e adolescentes expostos a situações de violência sexual podem exteriorizar desordens psíquicas, como: depressão, pensamentos suicidas, ansiedade generalizada, bloqueio sexual e o uso abusivo de drogas. Acarretando inclusive, prejuízos evidentes na maturidade de suas relações interpessoais e afetivas. Além disso, a percepção da realidade e a sua capacidade de confiança em adultos, poderá apresentar sinais de fragilidade”, complementa.
Os reflexos do abuso sexual no desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente devem ser levados em conta por toda a sociedade, a fim de promover intervenções psicológicas urgentes ao favorecimento da superação dos traumas sofridos.
Assim como aconteceu com Dani Suzuki, a especialista afirma que outras crianças enfrentam a dificuldade em verbalizar os abusos, por falta de abertura da própria família. A identificação dos abusos nem sempre é uma tarefa fácil. Porém, as mudanças comportamentais acendem o botão vermelho e apontam que algo está em desajuste. Os sinais se caracterizam por um pedido de socorro inconsciente, expondo uma infância marcada por traços de crueldade.
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“O abuso sexual é, sem dúvida, um fenômeno que envolve muitas variáveis e complexidades, em que o dano psíquico está relacionado à vários fatores. O impacto emocional e social é devastador na vida da vítima de abuso. A mistura de sentimentos e dúvidas marcará as funções intelectuais, criativas e mentais dessa criança para sempre”, reitera Andrea.
Para a psicanalista, a criança guarda um composto de culpa, dor e desamparo fortalecido por uma infância roubada e destruída. “Sendo assim, o acompanhamento e amparo psicológico, médico e social se faz extremamente necessário, na tentativa de resgatar a autoestima, a confiança e a capacidade de sonhar de uma criança ceifada pela crueldade sórdida de um adulto perverso e desumano”.