Frances Salvador é mineira de Belo Horizonte e tem 45 anos. Assim como o pai, o saudoso ilustrador e comentarista esportivo Son Salvador, ela escolheu o jornalismo como profissão, tendo atuado em televisão, impresso e assessoria de imprensa. Desde que descobriu um tumor benigno no cérebro, decidiu contar sua história, mas não esperava que iria para a mesa de cirurgia por duas vezes. Abaixo, ela fala sobre os sentimentos, impressões e apreensões de saber que precisava retirar a lesão do cérebro. Veja o relato:
“Eu posso dizer que sou uma sobrevivente. Vi a morte de perto não só uma vez, mas duas. Tudo começou aos 43 anos, com uma compulsão alimentar associada à disfunção hormonal. Esse quadro de saúde me fez engordar muito, mas a boa notícia é que consegui perder cerca de 20kg. Foi aí que procurei vários médicos para fazer uma cirurgia plástica. Eu estava sempre cinco quilos a mais do que todos eles exigiam como margem de segurança para a operação.
A pedido da nutróloga Ângela Vianello, fui submetida a uma bateria de exames e recebi a seguinte notícia: “Frances, você está com a prolactina alterada. Ela é produzida na hipófise, foi por isso que pedi um exame de imagem que detectou um tumor benigno no cérebro. Já pesquisei alguns cirurgiões para você. Vamos juntas e mantendo a calma, dentro do possível, até você retirar isso”.
No mesmo dia, fiquei apavorada, já pensando que iriam abrir minha cabeça, que eu iria gastar o dinheiro da cirurgia plástica, além de ficar debilitada, ia deixar minha mãe preocupada , mas hoje percebo que era missão de Deus. Fui ao doutor Antônio Lara, neurocirurgião que já conhecia. Ele confirmou a necessidade de retirada do tumor, que estava bem no meio do cérebro. Depois de 12 horas, numa cirurgia em dupla com o dr. Sérgio Barbosa, eles retiraram a lesão.
Passei 14 dias internada, sendo os três primeiros no CTI. Na minha mente, ficou só o pensamento de sair logo dali já que o cenário não era muito agradável. Eu via pacientes bem mais debilitados que eu. Parecia presa em um pesadelo, mas o tempo todo eu agradecia a Deus por estar bem, dentro do possível.
Ir para o quarto no terceiro dia melhorou meu psicológico, a pressão baixou. Acabei me acostumando com o tampão no nariz. Foram sete dias respirando e comendo pela boca. O vai e vem de enfermeiros, auxiliares e médicos já nem fazia tanta diferença. Eu só queria sair dali. Como trunfo, a fé. Além disso, mantinha o meu humor estável. E a alta veio.
O pós-operatório incluiu vários curativos no nariz, ressonâncias, tomografias e em uma delas a notícia que eu nunca imaginava receber: um pedaço do tumor ainda estava lá e eu teria que operar novamente. Em três segundos, eu fui a outro mundo e voltei. Comecei a queda de braço com o plano de saúde para a autorização de dois aparelhos super importantes. A reclamação na Agência Nacional de Saúde (ANS) ajudou e eles voltaram atrás na negativa. Foram várias crises de ansiedade por causa desse impasse.
MAIS DELICADA
Desta vez, só passei um dia no CTI, graças à minha recuperação mais rápida, apesar dessa nova operação ser considerada mais delicada. De lá, fui para uma suíte. Escolhi uma experiência mais confortável que da outra vez. Cheguei a receber a visita de 18 profissionais por dia. Tomava remédios para dor no limite da intoxicação do meu organismo. Ficava tão fraca que começa a falar e apagava. Deixava cair água, café, comida e trocava de roupa umas quatro vezes.
Depois de cinco dias acamada, eu já podia fazer exercícios na minha sala de estar do hospital; as visitas também eram recebidas ali. O quarto era meu cantinho privado. Às vezes, eu perdia a paciência, mas conseguia guardar só pra mim. Os pianistas que participam de um projeto do hospital Mater Dei, tocando duas vezes por dia para os pacientes, acalmavam a alma, as músicas pareciam diminuir a dor. Maior que a tal da dor, só a fé e a força de vontade. A comida feita por um chefe de cozinha, que trazia sempre uma florzinha, lembrava a beleza da vida. Eu estava viva!
CUIDADO E AMOR
No hospital, as horas demoravam a passar. Aos poucos, as visitas de profissionais iam diminuindo. Primeiro, retirei um dreno que tirava o líquido produzido pelo cérebro e o expulsava para fora do corpo. Depois foi a vez do acesso por onde corriam os remédios venosos. Cada etapa era comemorada com meus acompanhantes. Minha mãe ficava durante o dia e à noite o William, enfermeiro profissional. Como era bom ter cuidado e amor junto. Ter uma rede de apoio é muito importante. “Trato meus pacientes como gostaria de ser tratado. Além do conhecimento técnico, a Frances precisava de carinho e força. Ela enfrentou duas operações de grande porte em pouco tempo” , afirmou William.
Ao operar e retirar o tumor, o cirurgião coloca um material para preencher a parte oca e o corpo vai se adaptando novamente, além de excretar esse material pelas narinas. Nesta imagem, o doutor Antônio me mostrou o antes e depois da cirurgia. Até um leigo, como eu, vê a diferença entre as duas.
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Segundo o neurocirurgião, tenho que estar atenta a qualquer mudança no organismo e ele fica sempre à disposição para me atender. De vez em quando, eu ligo para tirar alguma dúvida. Acho que esta será uma relação para o resto da vida.
Mas o que espero é que essa matéria encoraje quem esteja passando por uma “surpresinha” parecida. Também quero que as pessoas saibam que podem se planejar e desfrutar de uma estrutura de hotel onde paciente e acompanhante podem ter mais conforto.
Agora é emagrecer, trabalhar as questões hormonais e planejar a cirurgia estética. Eu e essa equipe que cuidou de mim nas duas cirurgias matamos a morte. Conselhos: reclame o mínimo possível, confie nos profissionais que escolheu e tenha muita fé!!! Comemore cada minuto da vida.”