Caso note alguma alteração auditiva incomum durante o festival, como pressão no ouvido, zumbido ou sensação de ouvido tapado, é extremamente recomendável se afastar do som alto e dar uma pausa para proteger a audição -  (crédito: Freepik)

Para pessoas com perda auditiva mensurável, a utilização de aparelhos auditivos é indicada para correção da perda e melhora do zumbido

crédito: Freepik

É difícil achar um especialista para tratar o zumbido nos ouvidos, portanto o diagnóstico não costuma ser rápido. O zumbido é um sintoma que pacientes sentem e pode ser um chiado, apito, assobio, sem que haja uma fonte sonora externa. “No geral, o zumbido é desencadeado pela perda auditiva, mesmo quando leve: com menos som entrando, toda a vida auditiva sofre alterações em sua atividade neuronal, incluindo regiões do cérebro relacionadas a audição que ficam hiperativas”, explica a otoneurologista Nathália Prudencio, otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido.

Porém, em uma pequena parcela dos casos de zumbido, os testes auditivos estão normais – e essa teoria não explica isso. Agora, os cientistas da Faculdade de Medicina de Harvard estão encontrando evidências de que algumas pessoas têm perda auditiva “oculta” por uma degeneração neural coclear – perda de neurônios que transportam sinais sonoros do ouvido para o cérebro – que não são detectados por testes convencionais. A conclusão foi relatada em um estudo recente publicado na revista Scientific Reports, da Nature.

Os pesquisadores descobriram o fenômeno pela primeira vez em ratos de laboratório em 2009. “A partir daí, sugeriram que a perda dessas fibras nervosas em pessoas com testes auditivos normais poderia estar associada ao zumbido. Estudos subsequentes começaram a fazer a conexão. O mais recente – considerado o maior até o momento – é esse da Nature. Os pesquisadores recrutaram quase 300 pessoas (com idades entre 18 e 72 anos) com testes de audição normais e que foram divididos em grupos de pacientes que apresentavam zumbido crônico, sem zumbido ou zumbido intermitente”, explica a especialista.

Os cientistas mediram as respostas do nervo auditivo até áreas do cérebro responsáveis pela audição. Comparado com não ter zumbido, ter zumbido crônico foi associado à perda de fibras nervosas auditivas, bem como ao aumento da atividade cerebral. “Isso se enquadra na ideia de que, como resultado da perda auditiva, ou de alterações neurais na via adutiva periférica, o cérebro aumenta sua atividade, possivelmente por isso que você percebe um tom ou som que não vem de uma fonte sonora externa”, explica a especialista.

O que isso significa para o tratamento

Para pessoas com perda auditiva mensurável, a utilização de aparelhos auditivos é indicada para correção da perda e melhora do zumbido, porém os aparelhos auditivos não são recomendados para pessoas com resultados normais de testes auditivos – mesmo que o seu médico suspeite de perda auditiva oculta – uma vez que não temos testes fora dos laboratórios de pesquisa para medi-la. “Por enquanto ainda não há como regenerar esse nervo, mas esperamos que, com o avanço da Medicina, futuramente apareçam opções de tratamento para essa degeneração”, pondera a especialista.

Até esse dia chegar – e não está claro quando ou se chegará – temos apenas algumas formas de lidar com o problema. “Se você tiver zumbido apesar de um teste de audição normal, procure um médico especialista, um otorrinolaringologista com atendimento em otoneurologia. Em alguns casos, o zumbido poderá surgir por problemas fora do ouvido, como alterações musculares ou articulares que podem alterar o funcionamento da via auditiva, alterações em exames de sangue que podem interferir no funcionamento da orelha interna, e alterações vasculares dentro do ouvido ou próximo a ele. Esse médico vai investigar a causa. Às vezes, o tratamento de condições subjacentes como essas pode reduzir ou até eliminar o ruído”, diz a Nathália Prudencio.

Além de sempre buscar a causa do zumbido em cada paciente, algumas medidas também podem ajudar no impacto que o zumbido pode gerar no cotidiano e na percepção do som:

1. Terapia sonora. Colocar no ambiente sons monótonos, como ruído branco ou sons da natureza pode ajudar com que o seu cérebro perceba menos o som do zumbido.

2. Use terapias mente-corpo. A terapia cognitivo-comportamental e o tratamento do zumbido baseado na atenção plena podem ajudá-lo a redirecionar pensamentos e emoções negativas associadas ao zumbido, além de ajudar no melhor controle de estresse e ansiedade que costumam ser fatores de piora do zumbido.

Leia também: Síndrome da fadiga informativa afeta a saúde mental; entenda

3. Reduza o estresse. O estresse pode aumentar tanto a intensidade do zumbido quanto a sua percepção e intolerância em relação a ele. Inclua na sua rotina tarefas que você goste, que te traga a sensação de bem estar e que te ajudem a estar no momento presente.

4. Viva um estilo de vida mais saudável. Pratique uma boa higiene do sono, faça exercícios diariamente, se alimente de forma equilibrada e limite a ingestão de álcool. Cada um desses hábitos saudáveis pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade do zumbido, além de reduzir o estresse.

Por fim, a especialista enfatiza que, para a maioria das pessoas, o zumbido não é considerado um incômodo importante, o que o classifica como um sintoma tipicamente habitual. “Para aqueles que se incomodam, por sua vez, existem diversas medidas disponíveis para tratá-lo o tornar ruído o menos perceptível possível. Em outras palavras, o zumbido no ouvido tem tratamento! Com a estratégia eficaz e a orientação correta, qualquer paciente que sofre com esse incômodo pode recuperar a sua qualidade de vida”.