Desde 2018, 610 pacientes renais crônicos em tratamento na unidade Venda
Nova do HE tiveram a oportunidade de estudar enquanto fazem as sessões de
hemodiálise -  (crédito: Hospital Evangélico de BH/ divulgação)

Desde 2018, 610 pacientes renais crônicos em tratamento na unidade Venda Nova do HE tiveram a oportunidade de estudar enquanto fazem as sessões de hemodiálise

crédito: Hospital Evangélico de BH/ divulgação

Há sete anos, o projeto mineiro “Vivendo e Aprendendo” transforma sessões de hemodiálise em atividades educacionais, seguindo o modelo do Ensino de Jovens e Adultos (EJA). A iniciativa surgiu em decorrência de uma pesquisa realizada internamente pelo Hospital Evangélico de Belo Horizonte (HE), em 2017, sobre a qualidade de vida dos pacientes renais crônicos atendidos pela unidade de Venda Nova. Na pesquisa, foi observada uma alta taxa de analfabetismo e/ou falta de escolaridade entre os pacientes.

Assim, um ano após o levantamento, foi estabelecida uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, que designou a Escola Municipal Padre Marzano Matias, localizada na região de Venda Nova, para operacionalizar um projeto nas instalações do HE. Essa iniciativa possibilitaria a realização de aulas durante as sessões de hemodiálise para os pacientes interessados.

Desde 2018, 610 pacientes renais crônicos em tratamento na unidade Venda Nova do HE tiveram a oportunidade de estudar enquanto faziam as sessões de hemodiálise. “A iniciativa transcende o tratamento médico de doenças que comprometem o funcionamento dos rins de forma crônica, para gerar melhoria efetiva da qualidade de vida dessas pessoas, por meio da educação”, destaca Renata Starling, coordenadora clínica e nefrologista da unidade de Nefrologia do Hospital Evangélico de BH em Venda Nova.

                                                                  

'Do ponto de vista médico, Vivendo e Aprendendo possibilita maior autonomia ao paciente sobre sua saúde por meio do letramento', destaca a nefrologista Renata Starling

'Do ponto de vista médico, Vivendo e Aprendendo possibilita maior autonomia ao paciente sobre sua saúde por meio do letramento', destaca a nefrologista Renata Starling

Hospital Evangélico de BH/ divulgação

“A gente fica quatro horas ligado à máquina. Com tempo livre para leitura ou outras atividades, as horas passam mais rapidamente e é bem melhor. A mente funciona de forma mais eficiente. Eu amo colorir e matemática. Sinto muita felicidade. Quando percebo, a sessão já acabou”, conta Adriana Carvalho Barbosa, de 50 anos, que faz hemodiálise há cinco anos e estudou até o quinto ano, mas não concluiu o ensino fundamental.

Atualmente, há nove professores para nove turmas, nos turnos da manhã, tarde e noite. Cada paciente inscrito tem agendadas três aulas semanais, que coincidem com as sessões de hemodiálise, totalizando 12 horas por semana. Renata destaca que o ensino possibilita uma maior autonomia do paciente em relação à sua saúde, além de elevar a autoestima e a esperança em dias melhores, já que o tempo dedicado à máquina de hemodiálise é aproveitado de forma ativa.

Adriana Carvalho durante a aula

Adriana Carvalho durante a aula

Hospital Evangélico de BH/ divulgação

A professora Vânia, com 35 anos de carreira, já considerou se aposentar, mas isso significaria não lecionar mais para esse público. “Eu me sinto honrada porque este é um trabalho diferente de tudo que já fiz antes e que combina o trabalho de educar com o de oferecer ainda mais esperança para os pacientes/alunos”, relata. Ela foi convidada para integrar a equipe de professoras responsáveis pelo projeto, que começou com duas professoras.

Professora Vania Rodrigues Chaves chegando ao salão de hemodiálise para as aulas

Professora Vania Rodrigues Chaves chegando ao salão de hemodiálise para as aulas

Hospital Evangélico de BH/ divulgação

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Os pacientes precisam cumprir uma carga horária de 420 horas/aula para concluírem o Ensino Fundamental, o que nem sempre é fácil devido às complicações da doença renal crônica. Em parceria com a equipe multidisciplinar e médica da unidade Venda Nova, os professores, que já têm experiência no Ensino de Jovens e Adultos (EJA), desenvolveram uma metodologia de ensino específica para garantir o atendimento individualizado dos pacientes/alunos durante as sessões de hemodiálise.

A primeira formatura ocorreu em 2019, com três formandos. Devido à pandemia, as turmas de 2020 e 2021 formaram-se juntas no final de 2021, com 30 participantes. Em 2022, foram 21 pacientes/alunos que receberam o diploma, e no ano passado, foram 26. Este ano, 85 estão matriculados nos três turnos.

Carlos Nascimento, vendedor de rua de 53 anos, é um dos formandos de 2023 e sente falta das aulas. Por isso, deseja dar continuidade aos estudos. “Eu não gostava de português e agora gosto muito, e sou bom em matemática também. Tirei 8,9 em matemática. Quero continuar para ter uma base para aproveitar as quatro horas de hemodiálise, estudar, obter outro diploma e me formar”, conta o paciente que faz o tratamento há sete anos.

Carlos Nascimento é ex-aluno do projeto, mas quer dar continuidade aos estudos

Carlos Nascimento é ex-aluno do projeto, mas quer dar continuidade aos estudos

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