Esta segunda feira (4/3) é o Dia Mundial da Obesidade. Os números são assustadores: há 1 bilhão de pessoas no mundo com sobrepeso ou obesidade. Esses pacientes demoram em média seis anos após notar as primeiras dificuldades relacionadas ao peso para procurar ajuda do profissional de saúde. Na tabela dos três principais fatores de risco cardiovascular (dislipidemia, hipertensão e diabetes), o sobrepeso é uma parcela importante, aumentando o risco dessas doenças em 400% a 700%.
“Cerca de 45% das pessoas diagnosticadas com hipertensão são portadoras da obesidade/sobrepeso, 35% daquelas que têm dislipidemia tem sobrepeso ou obesidade e 90% dos diabéticos estão em sobrepeso ou são obesos. A obesidade também aumenta o risco de doença cardíaca coronariana, doença cerebrovascular e insuficiência cardíaca”, explica a endocrinologista, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio De Janeiro (SCMRJ), Deborah Beranger.
É por isso que a médica celebra o anúncio do laboratório Novo Nordisk A/S da semaglutida com 2,4 mg que reduz o risco de eventos cardiovasculares adversos graves em 20% em adultos com sobrepeso ou obesos. “Esse anúncio é importante porque essa é a primeira medicação aprovada em bula para obesidade que diminui o risco cardiovascular, de infarto e de acidente vascular cerebral (AVC) comprovado pelos estudos. Reduzir a obesidade no mundo deve ser uma prioridade de saúde pública, bem como proteger a saúde cardiovascular e metabólica desses pacientes. Até então, não existe nenhuma medicação aprovada em bula para isso”, acrescenta.
O anúncio foi feito pelo laboratório com os principais resultados do estudo de resultados cardiovasculares SELECT. O medicamento Wegovy (semaglutida com 2,4 mg) deve chegar ao Brasil em 2024 e é um agonista do receptor de GLP-1 indicado como adjuvante de uma dieta hipocalórica e aumento da atividade física para controle de peso crônico em adultos com IMC de 30 kg/m2 ou superior (obesidade) e adultos com IMC de 27 kg/m2 ou superior (sobrepeso) na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso.
“O estudo duplo-cego comparou semaglutida 2,4 mg por via subcutânea uma vez por semana com placebo como adjuvante ao tratamento padrão para prevenção de eventos cardiovasculares adversos graves (MACEs) durante um período de até cinco anos. Foram 17.604 adultos com 45 anos ou mais em sobrepeso ou obesidade e doença cardiovascular estabelecida, mas sem histórico prévio de diabetes. O risco diminui em 20%”, explica a médica. “As pessoas já usam o Ozempic, que é a semaglutida de 1 mg para tratamento de obesidade, mas em bula, ela só é autorizada para diabético”, diz a endocrinologista. “No geral, essas medicações para obesidade não protegem o coração diretamente”, acrescenta.
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No ensaio, a semaglutida 2,4 mg pareceu ter um perfil seguro e bem tolerado em linha com os ensaios anteriores de semaglutida 2,4 mg. Os resultados detalhados do SELECT serão apresentados em uma conferência científica no final de 2023.
Para vencer a obesidade, além dos medicamentos, é importante mudar hábitos de vida, com prática de exercícios físicos. "Os exercícios físicos ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue e, a longo prazo, são responsáveis por melhores chances de manutenção do peso, além de equilíbrio nas funções bioquímicas do organismo que preservam as estruturas do DNA celular e evitam o desenvolvimento de doenças", esclarece a médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, Marcella Garcez.
Marcella, no entanto, enfatiza algo que é de fundamental importância no controle e perda de peso: a qualidade do que se come. “Apesar de ser um dado importante, é absolutamente equivocado focar apenas nas calorias como fator de escolha para consumo alimentar. Muito mais relevante é conhecer a composição dos alimentos e suas funcionalidades. Você pode emagrecer comendo algodão doce ou fast food, o que é difícil, mas possível, se você controlar a porção e estiver em déficit calórico (comer menos do que se gasta). Mas não se trata, apenas, de diminuir o consumo calórico e sim, de fornecer também, o aporte nutrológico adequado ao organismo. Então, na alimentação é fundamental fazer boas escolhas, dentre elas os vegetais, legumes e folhas, ricos em vitaminas, minerais, antioxidantes, enfim, fitoquímicos importantes às funções celulares, além de inclusão de carboidratos complexos, ricos em fibras e uma adequada ingestão dos outros macronutrientes que são as proteínas magras e vegetais, não esquecendo das gorduras boas”, explica a médica. “Uma alimentação rica em antioxidantes é de grande ajuda para combater os radicais livres, moléculas relacionadas a uma série de alterações no organismo, desde envelhecimento precoce até câncer. Os antioxidantes são encontrados em frutas, temperos, ervas, folhas, vegetais e legumes”, diz a médica nutróloga.
Outra dica importante é priorizar o consumo de alimentos preferencialmente frescos, tomando o cuidado de equilibrar os grupos e ingredientes alimentares, sempre da forma mais variada possível. “Os hábitos alimentares adequados são essenciais para uma expectativa de vida longeva e com saúde. Porque as funções do organismo dependem de nutrientes que devem estar presentes na dieta, pois não podem ser sintetizados, ao mesmo tempo que o excesso de calorias pode trazer consequências negativas, portanto devem ser controladas. É fundamental procurar ajuda médica especializada para controlar o peso, passar a comer melhor e evitar doenças”, aponta Marcella Garcez.