O verão é, por si só, mais quente, um momento quando o calor atinge seus níveis máximos no ano. Mas, ultimamente, o mundo enfrenta um problema identificado como calor extremo: ano passado foi o mais quente já registrado, segundo informações do relatório da agência europeia do clima, o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S). Com isso, as altas temperaturas desafiam o corpo – e o poder dos antitranspirantes -, levando a uma dúvida quase que universal: nessas condições, como controlar o suor?
“Composto majoritariamente de água e sais minerais, o suor é um líquido incolor e inodoro produzido pelas glândulas sudoríparas para regular a temperatura corporal. Por isso, a transpiração tende a ser maior em dias quentes e durante a prática de atividade física, por exemplo. No entanto, algumas pessoas podem sofrer com transpiração excessiva”, explica o médico pós-graduado em dermatologia clínico-cirúrgica e professor nos cursos de dermatologia, tricologia, transplante capilar (cirurgia capilar) e medicina estética, Danilo S. Talarico.
“A transpiração excessiva (ou seja, desproporcional ao que é necessário para regular a temperatura corporal), é conhecida como hiperidrose. Efetivamente, isso é resultado da estimulação excessiva das glândulas sudoríparas”, explica a médica médica especialista em cosmetologia pelo Instituto BWS, Cláudia Merlo, que já indica uma possível solução: a toxina botulínica. “Do ponto de vista fisiológico, a produção de suor requer acetilcolina (um neurotransmissor) para ativar as glândulas sudoríparas écrinas. A toxina botulínica inibe temporariamente a liberação de acetilcolina, impedindo a hiperestimulação dessas glândulas sudoríparas. Portanto, ao bloquear ou interromper essa via química, a toxina botulínica minimiza (ou potencialmente interrompe) a transpiração na área onde foi injetada”, argumenta Cláudia Merlo.
A estratégia da toxina botulínica é uma das mais indicadas pelos médicos. Ela é uma importante forma de controle principalmente quando os desodorantes antitranspirantes não conseguem minimizar o suor excessivo. “Desodorantes são produtos fabricados com o objetivo de diminuir a transpiração, podendo conter substâncias que diminuem a transpiração, que diminuem o tamanho das saídas das glândulas sudoríparas ou então, no caso dos antitranspirantes, que tampam essas saídas, impedindo que o suor transborde para a superfície da pele. Dessa forma, impedem a sensação de umidade e o mau odor”, explica a dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, Mônica Aribi.
Mas é importante tomar cuidado com o uso excessivo e com a formulação desses produtos. “Os antitranspirantes podem causar um bloqueio das glândulas sudoríparas que, se for duradouro, pode levar ao surgimento de doenças como foliculite, miliária (brotoeja) e até hidradenite. Já no caso dos desodorantes, existem trabalhos científicos que mostram uma associação entre o cloridrato de alumínio, presente na composição de muitos desses produtos, e câncer em diversas regiões, mas ainda não há comprovação. Por sua vez, desodorantes medicamentosos, indicados para pacientes com sudorese excessiva, têm a possibilidade de causar dermatites de contato”, diz a dermatologista.Por isso, é importante optar por um produto capaz de cumprir seu papel na diminuição dos transtornos causados pelo suor sem causar esses efeitos colaterais.
CC, alergias e ressecamento capilar
Embora muitas pessoas confundam transpiração com mau cheiro, a bromidose, o popular CC, é uma consequência de microrganismos após a transpiração. “O suor, por si só, é inodoro, ou seja, não tem cheiro. O mau odor relacionado a transpiração ocorre, na verdade, pela decomposição do suor por bactérias presentes em regiões como axilas e virilha. É muito comum na adolescência, mas também pode ser agravado por situações como diabetes, alcoolismo e uso de certos antibióticos”, diz o médico. Para lidar com o suor e mau cheiro, é importante adotar cuidados como a higienização regular das regiões afetadas, com sabonetes antibacterianos e, claro, uso de desodorantes.
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Outro problema comum causado pelas altas temperaturas e suor são as brotoejas, pequenas erupções avermelhadas que surgem na pele, principalmente em bebês e crianças. “As brotoejas, também chamadas de miliárias, são resultado do bloqueio das glândulas sudoríparas, que leva ao acúmulo de suor na pele. E, apesar de serem benignas, podem causar grande coceira e desconforto”, diz Danilo. Mas o médico afirma que as brotoejas não devem ser confundidas com outra condição comum causada pelo suor: a urticária colinérgica, conhecida como alergia ao suor. “Apesar de não ser considerado um alérgeno, o suor pode provocar reações cutâneas em pessoas com pele mais sensível ou que sofrem com doenças como dermatite atópica e psoríase”, explica o médico.
E não é só a pele. O cabelo também sofre com o suor, pois este é rico em sais que, em contato com os fios, favorecem o ressecamento. Se você sabe que vai transpirar, como na hora de praticar uma atividade física, é interessante aplicar previamente um leave-in ou óleo no comprimento dos fios, pois esses produtos formarão uma película de proteção nos cabelos que ajudará a manter a hidratação.
Mas, afinal, é possível diminuir a sudorese?
De acordo com Danilo Talarico, sim. “Apesar de não ser possível acabar definitivamente com a transpiração, pois é um mecanismo importante para o bom funcionamento do organismo, algumas medidas podem ser adotadas para controlá-la, como usar desodorantes antitranspirantes e diminuir o consumo de alimentos como pimenta e café, pois estimulam o sistema nervoso central e ativam as glândulas sudoríparas. O consumo de álcool também deve ser evitado, pois causa uma vasodilatação com aumento da temperatura corporal. Perder peso também pode ajudar a reduzir a transpiração”, pontua.
Sobre a toxina botulínica, também indicada por Danilo, é bom lembrar que ela não cura, mas ajuda a controlar a hiperidrose. “Os sintomas tendem a melhorar gradualmente (geralmente em cerca de uma a duas semanas) e retornam gradualmente ao longo do tempo. Injeções de acompanhamento serão necessárias para manter a ‘secura’. As pessoas são diferentes em termos dos efeitos da toxina botulínica na atividade das glândulas sudoríparas. Injeções repetidas podem ser necessárias em intervalos que variam de seis a 12 meses – novamente, isso depende do local, gravidade da hiperidrose e dose injetada”, aponta Cláudia Merlo.
Outra opção para tratar a hiperidrose é a radiofrequência microagulhada Eletroderme XL (RF multilayer). “Essa tecnologia conta com microagulhas que penetram em múltiplas camadas na pele, liberando energia de radiofrequência que age sobre as glândulas sudoríparas para reduzir sua quantidade e a produção de suor na região. Uma sessão já apresenta excelentes resultados, mas é possível repetir se necessário. Além disso, o procedimento é muito mais confortável em comparação a tecnologias antigas no mercado, pois tem agulhas facetadas que garantem infinitamente menos dor”, destaca o médico, que, por fim, ressalta que, antes do tratamento, é importante examinar todas as possíveis causas médicas de hiperidrose.