“Cuidado para não se engasgar”. Essa frase é um mantra para quem alimenta uma criança. No entanto, ao longo da vida, muitos esquecem que esse problema ainda pode ocorrer. Só no ano passado, pelo menos 2 mil pessoas morreram devido à asfixia por alimento no Brasil. Para conscientizar a população sobre a alteração no ato de engolir, que pode causar diversas complicações, 20 de março foi intitulado o Dia Nacional de Atenção à Disfagia.
A disfagia pode ser um sintoma de uma doença ou ocorrer devido ao próprio envelhecimento. Achados globais apontam que a incidência desta alteração na deglutição está entre 2% e 16%. Em relação às principais taxas, destacam-se o aparecimento de 19% a 26% nos idosos, de 8% a 80% nos casos de acidente vascular cerebral (AVC), dependendo da lesão e da gravidade, de 22% a 69% nas pessoas com necessidades de medicamentos devido a alterações cognitivas, de 30% a 75% naqueles que necessitam de intubação orotraqueal prolongada e de até 72% nas crianças com algum distúrbio neurológico.
Entre as principais complicações, estão a pneumonia aspirativa, causada pelo alimento no pulmão, o emagrecimento, a desnutrição e a desidratação. “Quando causa sufocamento pela ingestão de um alimento sem a consistência adequada, pode levar a uma parada cardíaca e até mesmo à morte”, revela o responsável técnico-científico do Serviço de Fonoaudiologia do Hcor, José Ribamar do Nascimento Junior.
De acordo com o médico, é muito comum pessoas com disfagia sem diagnóstico confirmado receberem uma prescrição de alimentação com consistência inadequada. “Muitos dos pacientes necessitam de modificações no cardápio, como a adição de purês, alimentos macios e fáceis de mastigar, líquidos mais espessos, dentre outros, para evitar os episódios de engasgos constantes que podem agravar o quadro clínico e, assim, trazer grande desconforto e pior qualidade de vida”, explica.
Embora pareça fácil falar sobre consistência adequada, no dia a dia não é bem assim, revela Ribamar. “Esse é um fator que ainda impacta o cuidado porque não há uma padronização completa entre os serviços de saúde de forma global, além do desconhecimento dos prescritores sobre as composições das dietas. A alimentação inadequada é uma das principais causas de intercorrências, variando de 18% a 29%, bem como a forma correta de administração do medicamento por via oral, que pode chegar a 21%”, conta.
Como agir em caso de engasgo?
“Chamada de Manobra de Desengasgo, anteriormente conhecida como Heimlich, a técnica consiste em expulsar a comida ou o objeto que está obstruindo a traqueia e bloqueando a passagem de ar para os pulmões”, esclarece o enfermeiro André Nicola, coordenador de Enfermagem da Educação Assistencial do Hcor. Esta situação é considerada uma emergência. Em casos graves, pode causar danos irreversíveis e ser até fatal.
Para fazer a manobra em adultos, é preciso se posicionar por trás da pessoa e envolver os braços ao redor do abdômen. Uma das mãos deve permanecer fechada sobre a chamada “boca do estômago”. A outra mão comprime a primeira, ao mesmo tempo em que empurra a “boca do estômago” para dentro e para cima, como se quisesse levantar a vítima do chão.
Em crianças, o procedimento é o mesmo, mas é preciso realizá-lo ajoelhado, para ficar próximo da altura da vítima. Os bebês, por sua vez, precisam ser colocados de barriga para baixo, sobre a perna do socorrista, com a boca meio aberta. Na sequência, devem ser feitas cinco compressões firmes nas costas.
É importante ressaltar que, caso a vítima esteja falando ou chorando, não se deve realizar a Manobra de Desengasgo, pois as vias aéreas não estão totalmente bloqueadas. Além disso, acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é fundamental para garantir o socorro e preservar a vida.