Produto da degradação de plásticos, partículas poluentes micro e nanométricas já foram encontradas em vários órgãos humanos, incluindo placenta. Ainda não se sabia se o material, composto de combustíveis fósseis, causava algum efeito à saúde. Pela primeira vez, pesquisadores italianos descobriram que, no coração, os microplásticos e nanoplásticos aumentam risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e morte.
O estudo, publicado na revista The New England Journal of Medicine, foi realizado com 257 pacientes aprovados para uma cirurgia chamada estenose da artéria carótida, na qual depósitos de gordura bloqueiam o fluxo sanguíneo. Os pesquisadores analisaram as placas removidas e acompanharam os participantes por 34 meses.
Em 150 corações, foram encontradas partículas de plástico, especialmente as nanométricas. No acompanhamento, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte por qualquer causa ocorreram em 20% desses pacientes e em 7,5% daqueles sem o material detectado nas artérias.
Inflamação
Segundo Raffaele Marfella, pesquisador da Universidade da Campânia Luigi Vanvitelli, em Nápoles, e principal autor do estudo, a ideia da pesquisa surgiu pela necessidade de buscar novos fatores de risco para doenças cardiovasculares, as que mais matam no mundo. Como há cada vez mais relatos científicos sobre a presença de nanoplásticos no organismo, a equipe de Marfella decidiu investigar se, além de contaminar o planeta, "o plástico poderia degradar nossas artérias".
O pesquisador destaca que o estudo é observacional, ou seja, não aponta uma relação de causa e efeito. "Não estamos dizendo que os plásticos causaram as condições e mortes, mas que, nos pacientes com níveis detectáveis de plástico nas artérias, o risco de um evento cardiovascular foi cinco vezes maior", observa.
Uma das hipóteses do grupo é que o plástico desencadeie um processo inflamatório no coração. "Sabemos que as doenças cardiovasculares, particularmente o enfarte do miocárdio, são geralmente desencadeadas por uma resposta inflamatória", diz. De fato, quanto maior o nível de partículas encontradas nas artérias dos pacientes, maiores foram as taxas de inflamação medidas por marcadores.
Em um editorial que acompanha o artigo, Phillip Landrigan, diretor do Programa de Saúde Pública Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, enfatizou o risco que o material representa à saúde. "Os plásticos colocam em risco a saúde humana em todas as fases do ciclo. Os combustíveis fósseis (gás, petróleo, carvão) são as principais matérias-primas dos plásticos", lembrou.