Você se sente confuso, exausto, triste, ansioso ou estressado com a enxurrada de notícias que chegam diariamente até nós? Pois saiba que esse excesso de informações – incluindo aqui até as desinformações – é objeto de pesquisa de estudiosos, como o físico espanhol Alfons Cornellá, e o psicólogo britânico David Lewis, que criaram, respectivamente, os termos "infoxicação" e "síndrome da fadiga informativa".

 


Segundo o professor de psicologia da Estácio BH, Fabrício Ribeiro, independentemente do canal que leva as notícias, sejam redes sociais, podcasts, e-mails, grupo de WhatsApp, TVs, rádios, jornais, revistas, sites ou blogs, o alto volume delas se resume a um excesso de estímulos que ninguém está preparado fisiológica e psicologicamente para lidar.

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“A demasia de estímulos nos coloca em um ritmo que não é o natural do ser humano. Se voltarmos ao período da Revolução Industrial, foi a primeira vez na história da humanidade que a máquina passou a ditar o ritmo do trabalho, que até então era dado pelo próprio sujeito. À medida que o trabalho foi sendo mecanizado, automatizado, controlado por estímulos externos (mecânicos ou tecnológicos), perdemos a habilidade de se dedicar integralmente a cada uma das tarefas. O nosso cérebro tem uma capacidade limitada de processar com qualidade uma certa quantidade de informações, logo quanto mais tarefas e estímulos, menor o poder de concentração, processamento, habilidade e de resolução de problemas”, afirma o psicólogo.

Intoxicação de notícias 

Fabrício Ribeiro explica que a “intoxicação de notícias” gera prejuízos para a saúde mental, causando desde sintomas de ansiedade, taquicardia, esquecimentos a insônia e irritabilidade. “Os danos podem ser mais severos quando se trata de fake news. A formação de opinião se faz, em alguma medida, a partir do espelho do outro. Somos bombardeados por uma série de informações, mas uma parte delas não é verdadeira, de modo que irá prejudicar a construção de uma verdade que é sempre subjetiva. Quando formo a minha opinião com elementos não verdadeiros ou de base duvidosa, afeto a minha capacidade de construção da realidade. As fake news produzem uma leitura da realidade que faz o indivíduo moldar seus comportamentos e construir um modelo de ação sem as informações necessárias para que ele aconteça de um modo mais eficiente”, descreve. 

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Para o psicólogo o caminho é o equilíbrio, impondo limites de tempo, conteúdo e temas. “Principalmente as redes sociais foram feitas para capturar a incapacidade das pessoas de estabelecer um fim em algo que deseje, com uma timeline infinita, variedade de cores, estrutura da arquitetura, muitos elementos atrativos. É essencial lembrar que não somos seres homotecnológicos, somos vistos a partir da tecnologia, então é preciso proporcionar outras ações em nossas vidas dos mais diversos modos, como leitura, encontros pessoais, arte, música, atividade física. Toda essa diversificação permite estabelecer limites no acesso a informações vindas da internet”, encerra.

Evolução da sociedade x informações 

A facilidade de acesso a inúmeras informações traz outra reflexão: é possível desenvolver conhecimentos e habilidades com mais profundidade, senso crítico e capacidade de discernimento? “Não podemos afirmar que as sociedades de 100, 300 anos atrás eram piores ou melhores intelectualmente, e nem que somos mais inteligentes do que as gerações anteriores. É evidente que temos um acúmulo maior de informação, estratégias mais velozes e eficazes para transmitir a informação, com acesso a bibliotecas virtuais, por exemplo, mas acredito que temos a inteligência que cabe para esse momento de diversidade de problemas e diferenças sociais. Estamos em constante aprendizagem e evolução”, destaca Fabrício Ribeiro.

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