Embora seja frequentemente associada a dores de cabeça, a enxaqueca crônica é mais do que isso: além de ser uma condição crônica, a doença apresenta sintomas como sensibilidade a cheiros, náuseas, vômitos, tontura e irritabilidade frequentes, sendo a segunda condição mais incapacitante do mundo e uma das maiores causas de absenteísmo no trabalho. Cerca de 15% da população brasileira é acometida por ela, mas a incidência em mulheres é ainda maior - só na região sudeste, 22% do público feminino sofre com crises.
“Geneticamente, homens e mulheres têm a mesma tendência de terem enxaqueca, contudo, as mulheres costumam ter dores mais fortes”, comenta a médica Thaís Vila, neurologista e diretora clínica Headache Center Brasil. “E a condição é debilitante, ou seja, impacta diretamente todos os aspectos da vida de uma mulher – o trabalho, as relações, os estudos e hobbies”.
Leia: Cirurgia da enxaqueca: pacientes podem sofrer menos; diz estudo
“A enxaqueca é a dor severa, muito além da “dor de cabeça” como conhecemos, que é banalizada e negligenciada. Nenhuma dor pode ser considerada normal e é sempre um importante sinal do corpo de que há algo errado”, acrescenta a neurologista. “A enxaqueca é um sinal de que existe um sofrimento excessivo no cérebro e costuma vir acompanhada de náuseas, fotofobia, fonofobia, déficits cognitivos e alterações do humor – o que pode ser comparado a um burnout do cérebro.”
Causas
Puberdade, menstruação, gravidez, pós-parto e perimenopausa são fases em que há maior flutuação das condições hormonais, o que pode aumentar as crises, mas não podem ser consideradas razões para a maior incidência de enxaqueca no público feminino: “O ciclo menstrual, assim como a menopausa, são normais para a maioria das mulheres e não devem ser encarados como um problema. Essas fases podem ser gatilhos em mulheres com enxaqueca, mas nunca a causa das crises.”
“Além do impacto na rotina, a enxaqueca também acaba afetando a saúde mental do paciente, já que traz consigo a incapacidade de fazer atividades comuns do dia a dia”, adiciona a médica neurologista. “Por conta disso, o tratamento precisa ter uma abordagem holística, ou seja, envolvendo não apenas a gestão da dor aguda, mas também a prevenção da recorrência dos episódios.”
Diagnóstico e tratamento
“As pessoas acham que a enxaqueca é uma dor de cabeça forte, mas não é bem assim – ela é uma doença neurológica, crônica e debilitante. Essa forma de pensar nos leva, muitas vezes, a mascarar a condição, sem de fato procurar por um tratamento”, comenta a médica. “É importante fazer um diagnóstico 360º da doença, checando o trato gastrointestinal, o sistema endócrino, o sistema imunológico, dentre outros, já que a condição causa uma disfunção generalizada e, se não for tratada, ela pode ser porta de entrada para doenças de maior complexidade”, acrescenta Thaís Vila.
Leia: Cefaleia ou enxaqueca? Sabe a diferença?
O manejo da enxaqueca e controle dos seus sintomas envolve o uso de analgésicos e, em alguns casos, de terapias injetáveis. “Voltadas a diminuir a recorrência e gravidade das crises, as opções injetáveis buscam relaxar a musculatura, sendo administradas em pontos nas regiões frontal, occipital (posterior da cabeça), temporal e posterior do pescoço, impedindo que os neurotransmissores levem os sinais de dor até o músculo, reduzindo a percepção pelo sistema central”, comenta Thais Vila.
A neurologista reforça, ainda, que a automedicação não é aconselhada. “Além de frequentemente mascarar as causas da dor, ela pode ser um gatilho para o aumento da ocorrência de crises”.
Thaís Vila explica que a parceria entre a paciente e a equipe de saúde é fundamental para o sucesso do tratamento, com uma ênfase na personalização do plano de cuidados para atender às necessidades específicas de cada mulher.