Você provavelmente já ouviu falar de epilepsia, mas sabia que existem 50 milhões de pessoas vivendo com essa condição em todo o mundo? Você sabia que existem mais de 30 tipos de convulsões? E que nem todas as convulsões envolvem movimentos bruscos e trêmulos? A epilepsia é uma condição complexa que muitas vezes tem sido malcompreendida. É fundamental desmitificar a ficção e enfrentar os tabus.



O dia 26 de março é dedicado a conscientização sobre a epilepsia. Conhecido também como "Dia Roxo", tem como foco fazer com que as pessoas conheçam a condição, em um esforço para acabar com o estigma social em torno da doença e mostrar para as pessoas com epilepsia que elas não estão sozinhas.

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Quer você conheça alguém com epilepsia ou apenas queira saber mais sobre sinais, sintomas ou condição, aqui estão cinco fatos essenciais para ampliar seu conhecimento sobre o assunto.

 1 - A epilepsia é uma condição médica ligada à atividade elétrica cerebral

A epilepsia, às vezes, foi falsamente creditada como superstição ou doença mental. Tais crenças fizeram com que aquelas pessoas com epilepsia fossem estigmatizadas e isoladas. 

Muitas pessoas não sabem que a epilepsia é uma condição médica que ocorre devido à atividade elétrica cerebral anormal, quase como uma tempestade elétrica dentro da sua cabeça. Essas explosões repentinas de atividade elétrica no cérebro fazem com que as pessoas com epilepsia tenham convulsões. Mas o que faz com que alguém tenha epilepsia pode mudar de pessoa para pessoa.

“Existem muitas causas de epilepsia”, diz André Wolter, psiquiatra e gerente médico da Divisão de Farmacêuticos Estabelecidos da Abbott no Brasil. "Às vezes, ocorre em famílias (genético); outras vezes, é causada por danos ao cérebro provocados por motivos como um ferimento grave na cabeça ou outra condição, como um acidente vascular cerebral ou um tumor cerebral. Para algumas pessoas é impossível descobrir exatamente o que causa a epilepsia. Mas normalmente é uma condição médica que pode ser controlada com medicamentos e cuidados adequados." 

2 - A epilepsia pode começar em qualquer idade

Um equívoco comum é que todas as pessoas com epilepsia nascem com ela. 

Qualquer pessoa pode desenvolver epilepsia – homens, mulheres, crianças – e esta pode começar em qualquer idade e ser apresentada por pessoas de diferentes etnias. No entanto, geralmente começa na infância ou após os 65 anos. As convulsões em idosos estão frequentemente relacionadas a outros problemas de saúde, como acidente vascular cerebral e doença cardíaca. 

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"Para as crianças, viver com epilepsia pode ser um desafio", diz Wolter. "As crianças e seus pais muitas vezes vivem com medo de que a próxima convulsão esteja chegando. E na escola pode ser mais difícil, mais de metade das crianças afirmam ter mais dificuldade em aprender do que as outras crianças e que têm problemas de memória".

Pessoas idosas diagnosticadas com epilepsia enfrentam desafios diferentes. Elas podem precisar de informações sobre como lidar com a doença enquanto têm outros problemas de saúde e necessitar de mais apoio psicológico para ajudar com sintomas de ansiedade e depressão. 

3 - As crises epilépticas são diferentes para pessoas diferentes

Nem todas as convulsões envolvem movimentos bruscos ou trêmulos. Algumas pessoas parecem ausentes, outras podem vagar e outras podem ser afetadas por tremores.Para cada pessoa com epilepsia é importante que ela, sua família e amigos saibam como costuma ser o tipo de convulsão e como lidar com esses episódios. 

“O sintoma mais comum da epilepsia são as convulsões, que podem afetar pessoas diferentes de maneiras diferentes”, comenta Wolter. “Quando pensamos em uma crise epiléptica, muitas vezes pensamos nos espasmos e tremores incontroláveis. Essa é certamente uma forma de convulsão, mas existem outras, como perder a consciência, ficar rígido ou sentir formigamento nos braços ou pernas".

A maioria das pessoas com epilepsia tende a ter sempre o mesmo tipo de convulsão, por isso a família e os amigos devem saber o que observar e um profissional de saúde pode aconselhar sobre as melhores formas de apoio, conforme necessário, para garantir sua segurança.

4 - A maioria das pessoas com epilepsia que vivem em países emergentes não são tratadas

Embora a epilepsia seja melhor compreendida hoje do que nunca, muitas pessoas no mundo ainda não são diagnosticadas nem tratadas. Estima-se que quase metade de todos os casos permanecerá sem diagnóstico e sem tratamento durante longos períodos, muitas vezes devido à falta de conhecimento das diferentes formas de epilepsia. 

Isto é particularmente verdadeiro nos países emergentes, como o Brasil. Dos 35 milhões de pessoas com epilepsia que vivem em países emergentes, cerca de 85% não recebem qualquer tratamento. Como consequência, os efeitos colaterais relacionados com as convulsões e o peso psicossocial do estigma e da discriminação são frequentemente agravados.

A boa notícia é que o tratamento avançou significativamente nos últimos anos, podendo ajudar a maioria das pessoas com epilepsia a ter menos convulsões ou a parar completamente de ter essa ocorrência.

“A epilepsia é tratável na maioria dos casos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde estima-se que mais de 70% das pessoas que têm a doença poderia viver sem convulsões se tivessem acesso ao tratamento anticonvulsivante adequado", explica Wolter.

"Como as pessoas com epilepsia muitas vezes enfrentam barreiras à educação e ao trabalho, o tratamento da doença pode ter não só benefícios para a saúde, mas também impactos econômicos e sociais positivos, permitindo a elas viver mais plenamente e participar de atividades sociais, se assim desejarem."

5 - A epilepsia vem com muitos gatilhos: mas pode ser controlada

Existem vários potenciais gatilhos de crises epilépticas e é essencial que as pessoas que vivem com epilepsia, como familiares e amigos, entendam esses gatilhos. Essas ocorrências podem incluir privação de sono, luzes piscando, estresse, álcool ou ciclos menstruais. 

Existe um tipo raro de epilepsia em que as convulsões são desencadeadas por música. Mas, curiosamente, para outras formas de epilepsia, a música pode ser benéfica, com estudos mostrando que ouvir certas faixas diariamente pode ajudar a controlar a doença. Por exemplo, em um estudo com crianças em Taiwan, cerca de quatro em cada cinco crianças tiveram menos convulsões depois de ouvir Mozart. Existem características específicas da música de Mozart que podem torná-la particularmente benéfica.

 “Como a música afeta o cérebro é uma área de pesquisa fascinante e, claro, vale a pena explorar todas as opções potenciais que podem beneficiar as pessoas com epilepsia”, comenta Wolter.

Assim como a música e o tratamento com medicamentos, a dieta pode ajudar algumas pessoas a controlar a epilepsia. A dieta cetogênica – que envolve consumir uma quantidade muito baixa de carboidratos e substituí-los por gordura para ajudar o corpo a queimar gordura para obter energia – demonstrou ser eficaz para alguns, embora a dieta de cada pessoa deva ser decidida individualmente.

Embora os sintomas, as causas e os gatilhos da epilepsia possam ser diferentes, há uma variedade de opções das quais as pessoas com epilepsia podem se beneficiar para ajudá-las a controlar sua condição e a viver uma vida plena e saudável.

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