Teste é feito a partir de biomarcadores sanguíneos, como ocorre com doenças cardiovasculares e diabetes  -  (crédito: FREEPIK)

Teste é feito a partir de biomarcadores sanguíneos, como ocorre com doenças cardiovasculares e diabetes

crédito: FREEPIK

 

Um novo critério para determinar se alguém tem a doença de Alzheimer está sendo proposto por um grupo de trabalho da Associação de Alzheimer - organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos. Com a nova linha de pesquisa, a doença é identificada não por sintomas e comportamento, mas por biomarcadores sanguíneos - como é feito com doenças cardiovasculares e diabetes.


Ainda sem cura, atualmente a doença requer um processo de diagnóstico prolongado. Um especialista faz o histórico médico do paciente, discute os sintomas, administra testes cognitivos verbais e visuais. O paciente pode passar por uma tomografia, uma ressonância magnética ou uma punção lombar - testes que detectam a presença de duas proteínas no cérebro: as placas de amiloide e emaranhados de tau, ambos associados ao Alzheimer.


Segundo as diretrizes preliminares dos “Critérios Revisados para Diagnóstico e Estadiamento da Doença de Alzheimer”, o avanço trará uma mudança que já está em andamento: a de definir a doença diagnosticada por sintomas e comportamento para defini-la puramente de forma biológica.


"A patologia existe anos antes do início dos sintomas. Alguém que tenha evidências de biomarcadores de amiloide no cérebro tem a doença, seja ele sintomático ou não", afirma Clifford R. Jack Jr., presidente do grupo de trabalho e pesquisador do Alzheimer na Clínica Mayo. Os testes já estão disponíveis em algumas clínicas e consultórios médicos no Brasil e nos Estados Unidos. Porém, só pode ser realizado mediante pedido médico.


“Acreditamos que este seja um importante passo para o avanço da medicina e para o ecossistema de saúde nacional. O diagnóstico precoce da doença de Alzheimer impacta diretamente nas intervenções clínicas relacionadas à doença, algo que resulta em um desfecho clínico mais favorável ao paciente. Essa inovação traz um benefício imenso à sociedade, visto que não é procedimento radioativo ou invasivo como outros que existem para detecção ou exposição desnecessária à radiação”, ressalta Edgar Gil Rizzatti, presidente de Unidades de Negócios Médico, técnico, de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury.


“Estudos que avaliam custo-efetividade realizados no Canadá e na Coreia do Sul, demonstraram que a utilização dos testes em soro reduz não só o tempo necessário para o diagnóstico e o tratamento adequado, mas também o custo para investigação e terapia, permitindo a seleção de indivíduos que se beneficiarão de um tratamento que modifique a evolução da doença”, afirma otimista o neurologista Aurélio Pimenta Dutra.
No entanto, alguns especialistas permanecem não convencidos pelo argumento de recorrer apenas a biomarcadores. A Sociedade Americana de Geriatria chamou os critérios propostos de "prematuros" - e observou a alta proporção de membros do estudo com vínculos com as indústrias farmacêutica e de biotecnologia, criando potenciais conflitos de interesse.


Jason Karlawish, geriatra e codiretor do Penn Memory Center, na Filadélfia, é um dos especialistas que preferem recorrer a mais tempo de pesquisa para diagnosticar pessoas saudáveis com doença irreversível. Ele diz que considera a amiloide “um fator de risco, da mesma forma que fumar é para o câncer”, sugere. “Acho que as evidências ainda não são claras e convincentes de que a amiloide por si só define a doença de Alzheimer.”


Já para Eric Widera o geriatra da Universidade da Califórnia, São Francisco, e autor do “The Journal of the American Geriatrics Society”, a proposta do grupo de trabalho não discute os danos dos novos critérios – incluindo “aterrorizar desnecessariamente as pessoas com pouca probabilidade de desenvolver demência e potencialmente causar discriminação no emprego e nos seguros”.


Dois grandes estudos sobre medicamentos redutores da amiloide em pessoas cognitivamente normais, com conclusão prevista para 2027 e 2029, poderão fornecer essas provas se conseguirem demonstrar que a remoção da amiloide previne, detém ou reverte o declínio cognitivo em pacientes acima de 65 anos. Por enquanto, as diretrizes propostas “simplesmente não estão prontas para a prática clínica”, diz Karlawish.


INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Recentemente, foi publicada na revista Nature Aging, a pesquisa que identificou alguns fatores de risco para o desenvolvimento do Alzheimer com sete anos de antecedência. A descoberta foi possível graças ao auxílio da inteligência artificial, que organizou dados de mais de cinco milhões de pessoas para identificar condições simultâneas de pacientes já diagnosticados com a doença.


Os estudiosos usaram um tipo de IA chamado aprendizado de máquina, em que o algoritmo analisa grandes quantidades de dados e realiza previsões de acordo com padrões dele. Foram encontrados fatores de risco precoces para o Alzheimer em homens e em mulheres: pressão arterial elevada, colesterol alto e deficiência de vitamina D.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice