No último dia de março (31/3), mês dedicado à conscientização sobre o câncer de colo de útero, um dos tipos mais incidentes entre mulheres - tendo como causa principal o papilomavírus humano (HPV), a apresentadora Ana Maria Braga revelou em entrevista ao Fantástico a causa do seu segundo câncer diagnosticado em 2001. Na ocasião, ela relembrou o momento e desconhecimento sobre o papilomavírus humano, que na época não tinha vacinação. "Era proveniente do HPV. Não tinha a mínima informação", relatou a apresentadora.
A vacinação, que entrou para o calendário oficial da população brasileira há exatos 10 anos. "A imunização pode prevenir também o câncer de vulva, ânus e vagina nas mulheres e de pênis nos homens. Por isso, o ideal é que esse cuidado ocorra antes do início da vida sexual, evitando assim que haja uma exposição ao vírus", explica Marcela Bonalumi, oncologista da Oncoclínicas.
Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2024 cerca de 17.010 mulheres serão diagnosticadas com câncer do colo do útero no Brasil a cada ano, o que representa um risco considerado de 13,25 a cada 100 mil casos. Vale lembrar ainda que a doença é o terceiro tipo de câncer que mais afeta o público feminino, por isso, é muito importante que o diagnóstico seja feito o quanto antes para o início do tratamento.
Apesar desses números, as taxas de vacinação têm caído no país, o que vem levantando preocupações em todas as esferas da saúde e da sociedade brasileira. De acordo com dados recolhidos pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) no DataSUS, do Ministério da Saúde, houve queda de 72% da aplicação em meninas e 52% em meninos, nos períodos de 2015 a 2021 e 2018 a 2021, respectivamente.
“A tetravalente contra o HPV, atualmente disponível gratuitamente para meninas e meninos de nove a 14 anos, e para adultos imunossuprimidos até 45 anos, protege contra os tipos seis, 11, 16 e 18 do vírus, os principais causadores da doença. É preocupante para todos ver esse tipo de tumor avançando quando sabemos que ele é altamente prevenível”, comenta Marcela.
A taxa de infecção pelo HPV atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens. Os resultados são da pesquisa nacional sobre o tema, encomendada pelo Ministério da Saúde e feita por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Apesar disso, em 2022, entre as meninas, a primeira e a segunda dose tiveram, respectivamente, 75,91% e 57,44% de adesão. Entre os garotos, os valores são ainda menores: 52,26% na primeira aplicação e 36,59% na segunda.
"Você não tem que se sentir culpado por ter ficado com câncer. Você não tem culpa. Porque você é uma mulher sexualmente ativa. Você é mãe, não tem como ser mãe sem ser sexualmente ativa. Eu acho que a sexualidade tem que ser encarada da forma que ela é. É uma coisa natural, feita da natureza, senão a gente não estaria aqui", destacou a apresentadora sobre o tema.
Ver essa foto no Instagram
Segundo a especialista, há estudos que comprovam que o vírus, além de estar diretamente ligado ao câncer cervical, também atinge cânceres de ânus, vulva, vagina, pênis e orofaringe.
De olho na prevenção
Além da vacinação, que é considerada uma prevenção primária, é importante realizar os exames de rotina ginecológica, como o papanicolau (anualmente e depois a cada três anos), dos 25 aos 64 anos de idade. "Ele é muito importante para identificar lesões pré-cancerosas e agir rapidamente contra o câncer do colo do útero", alerta Marcela. Vale lembrar ainda que os exames devem ser feitos mesmo se a mulher for vacinada contra o HPV, pois o imunizante não protege contra todos os tipos oncogênicos da doença.
Primeiros sinais
O câncer de colo de útero em estágios iniciais é assintomática, em estágios mais avançados sintomas como dor na relação sexual ou sangramento vaginal podem estar presentes. Por isso, o rastreamento com o exame papanicolau de rotina é importante, pois é possível diagnosticar lesões pré cancerígenas ou iniciais.
Outros sintomas que podem estar presentes em estágios mais avançados são fraqueza decorrente da anemia, devido a perda de sangue, inchaço nas pernas e dores nas costas, problemas urinários ou intestinais e perda de peso não justificada. Os sangramentos podem acontecer durante a relação sexual, inclusive em mulheres que já estão na menopausa ou ainda fora do período menstrual. Por isso, é muito importante buscar o aconselhamento de um especialista ao notar sangramento vaginal anormal", orienta a Marcela.
Leia também: HPV e morte por doenças do coração: estudo comprova evidências
Ela explica que podem ser realizadas cirurgias, radioterapia e/ou quimioterapia. "Na cirurgia, ocorre a retirada do tumor, ou ainda do útero quando necessário. Quando a doença apresenta estágios mais avançados, são realizadas sessões de radioterapia e quimioterapia".
Apesar da doença ser bastante silenciosa, quando descoberta precocemente pode haver uma redução de até 80% na mortalidade pelo câncer do colo do útero. "Muitas mulheres não descobrem na fase inicial. Sempre aconselho as pacientes a realizarem periodicamente seus exames de rotina, como o papanicolau. Além disso, é fundamental que sejam consumidas informações de qualidade, sendo essa uma das principais aliadas ao combate contra o HPV", destaca a oncologista.