A cesta básica para o governo pode variar e envolver uma lista fixa de alimentos, ajustada ao longo do tempo, mas que inclua feijões, cereais, raízes e tubérculos, legumes e verduras, frutas, castanhas e nozes  carnes e ovos entre outros  -  (crédito:  Markus Winkler/Unsplash)

A cesta básica para o governo pode variar e envolver uma lista fixa de alimentos, ajustada ao longo do tempo, mas que inclua feijões, cereais, raízes e tubérculos, legumes e verduras, frutas, castanhas e nozes carnes e ovos entre outros

crédito: Markus Winkler/Unsplash

O Governo Federal anunciou, recentemente, uma nova diretriz para a cesta básica nacional, com foco no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados. Outra mudança é a regionalização de alimentos. A definição exata da cesta básica para o governo pode variar, mas geralmente inclui alimentos considerados essenciais para a subsistência da população. Essa definição pode envolver uma lista fixa de alimentos, ajustada ao longo do tempo. A nova lista inclui feijões (leguminosas), cereais, raízes e tubérculos, legumes e verduras, frutas, castanhas e nozes (oleaginosas), carnes e ovos, leites e queijos, açúcares, sal, óleos e gorduras, café, chá e especiarias.

De acordo com o médico endocrinologista do Grupo Fleury, Pedro Saddi, em Minas Gerais representado pelos laboratórios Hermes Pardini e Labclass, os alimentos processados (produtos fabricados com adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em conserva, frutas em calda, queijos e sardinha ou atum enlatados) que faziam parte da versão anterior, ficaram de fora. “A nova composição da cesta básica visa priorizar alimentos in natura ou minimamente processados, juntamente com ingredientes culinários. Esta mudança é respaldada por evidências científicas que apontam os riscos à saúde associados ao consumo excessivo de alimentos industrializados.

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O médico diz que existem pesquisas as quais corroboram sobre os malefícios dos alimentos ultraprocessados. Já sobre os alimentos processados, ainda não há tantos estudos. Pedro Saddi explica ainda que essa medida visa orientar as políticas públicas relacionadas à produção, abastecimento e consumo de alimentos, visando a promoção da saúde da população. “Ações de controle e políticas públicas nesse sentido incluem, por exemplo: a restrição de publicidade, a proibição da venda desses produtos em frente ou perto de escolas e hospitais e medidas fiscais que tornem os alimentos não processados mais acessíveis, disponíveis e baratos”, comentou o endocrinologista.

Estudo da UFMG


A medida certamente vai beneficiar as populações de classes sociais mais baixas. Segundo um estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a falta de informação sobre alimentação somada a uma baixa disponibilidade de alimentos saudáveis a preços acessíveis explicam um maior consumo deultraprocessadosem periferias brasileiras. A pesquisa mostrou que moradores de bairros segregados têm menor consumo regular defrutas e legumesse comparado aos que vivem em regiões com maior poder de compra. Foram convidados para o estudo 27 moradores maiores de idade de favelas brasileiras, sendo 80% mulheres. Residiam em comunidades na região Sudeste 60% dos entrevistados.


Ainda, um novo estudo publicado em fevereiro deste ano no BMJ Global Health, traz evidências consistentes sobre a associação de alimentos ultraprocessados com 32 problemas relacionados à saúde, como doenças cardíacas e pulmonares graves, tumores malignos, perturbações de saúde mental e morte precoce.

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Uma outra pesquisa publicada em novembro de 2023 na revistaEuropean Journal of Nutrition, analisou dados de dieta e estilo de vida, incluindo questões sobre o consumo de alimentos ultraprocessados, de 450.111 adultos que participavam da Investigação Prospectiva Europeia sobre o Câncer e a Nutrição, ou EPIC. Um dos maiores estudos deste tipo na Europa, o EPIC recrutou participantes de 10 países europeus e no Reino Unido. Segundo a pesquisa, pessoas que consumiram 10% mais alimentos ultraprocessados do que outras pessoas no estudo tiveram um risco 23% maior de câncer de cabeça e pescoço e um risco 24% maior de adenocarcinoma de esôfago, um tipo de câncer que cresce nas glândulas que revestem o interior dos órgãos.

Ineficiência alimentar dos ultraprocessados


Corroborando também com a ineficiência alimentar dos ultraprocessados, um outroestudorealizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago de Chile e publicado no “American Journal of Preventive Medicine”, mostrou que o consumo de alimentos ultraprocessados é responsável por aproximadamente 57 mil mortes prematuras de pessoas entre 30 e 69 anos por ano no Brasil. Ainda segundo a pesquisa, se o consumo desse tipo de produto fosse reduzido ao que era uma década atrás, 21% dessas mortes seriam evitadas. Além disso, uma redução de 10% a 50% no consumo de ultraprocessados poderia evitar de 5.900 a 29.300 mortes anualmente.


As pesquisas são convergentes. De acordo com uma meta-análise publicada na revistaNutrients, em um desses estudos, dietas ricas nesses alimentos foram associadas a umrisco 44% maior dedepressãoe 48% maior deansiedade. Jáum estudorealizadonoBrasil, acompanhou 10 mil e 775 pessoas e descobriu que aingestão de apenas 20%das calorias desses alimentos estavaassociada a uma taxa 28% mais rápidadedeclínio cognitivoem comparação com pessoas que consumiam menos alimentos processados.


A nutricionista do Hermes Pardini, Pollyana Guimarães, explica as diferenças entre as categorias de alimentos:


  • In natura: são os alimentos obtidos diretamente de plantas (como folhas e frutos) e animais (como ovos e leite) e adquiridos para o consumo sem que tenham passado por qualquer tipo de alteração depois de saírem da natureza;
  • Minimamente processados: são alimentos in natura que passaram por alterações mínimas, como grãos secos polidos e empacotados ou moídos na forma de farinha, raízes ou tubérculos lavados, carnes resfriadas ou congeladas e leite pasteurizado;

  • Ingredientes culinários: produtos que são extraídos de alimentos in natura ou diretamente da natureza e utilizados para temperar e cozinhar alimentos – óleos, gorduras, sal e açúcar;
  • Processados: são os produtos fabricados com adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em conserva, frutas em calda, queijos e sardinha ou atum enlatados;

  • Ultraprocessados: são os produtos cuja fabricação envolve várias etapas e técnicas de processamento e contêm muitos ingredientes (muitos de uso exclusivamente industrial), como refrigerantes, biscoitos recheados e macarrão instantâneo.

“Atenção para identificar os alimentos ultraprocessados. Com as denominações “light” ou “diet” –, as pessoas tendem a acreditar que são alimentos saudáveis, quando, na verdade, contém uma série de aditivos e conservantes. É preciso prestar atenção na lista de ingredientes no rótulo”, alerta a nutricionista.