Pesquisa recente do IBGE, Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, mostra que o número de mulheres que escolheram se tornar mães com mais de 40 anos cresceu 65,7% em 12 anos - passou de 64 mil para 106,1 mil de 2010 a 2022. Outra faixa etária que apresentou alta no período foi a de 30 a 39 anos, que subiu 19,7% – passou de 734,5 mil para 879,5 mil nascimentos. Apesar dessa alta, o número total de nascimentos teve redução de 300 mil, o que corresponde a uma queda de natalidade na ordem de 10%.
Segundo a especialista em reprodução humana e diretora médica da Clínica Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, Maria do Carmo Borges de Souza, com a projeção do sexo feminino no mercado de trabalho, é cada vez mais comum o adiamento da gravidez. Os principais motivos apontados pelas mulheres para adiar a gestação são: ainda não ter encontrado o parceiro ideal, a plenitude profissional e o desejo de estabilidade financeira.
“Dessa forma, o congelamento de óvulos tem sido uma alternativa às mulheres que desejam postergar a maternidade ou àquelas que necessitam cuidar da saúde em decorrência de doenças como câncer e de tratamentos como radio e quimioterapia. A maternidade tardia por meio da reprodução assistida é uma opção para muitas mulheres que desejam engravidar”, explica a médica.
Congelamento de óvulos
Os especialistas em reprodução humana aconselham as mulheres que desejam adiar a maternidade a realizar o congelamento de óvulos antes dos 35 anos, a fim de se obter óvulos em suas melhores condições fisiológicas para uso futuro.
“Quanto maior a idade, após os 35 anos, menor a qualidade dos óvulos e mais difícil é para conseguir recuperar quantidades que resultem em boas chances de uma gravidez futura. Outro ponto relevante é ressaltar que as mulheres que congelam óvulos, preservam a sua autonomia reprodutiva”, explica o especialista em reprodução humana e também diretor médico da Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, Roberto Antunes.
De acordo com a Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), os ciclos de coleta de óvulos aumentam todos os anos. De 2022 para 2023 o crescimento foi de 5,1%, sendo 14.361 ciclos em mulheres abaixo de 35 anos e 26.113 em mulheres acima de 35 anos.
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O procedimento acontece mediante uma estimulação dos ovários por período de 10 a 12 dias, com o uso de medicações de uso subcutâneo, que tem por objetivo fazer com que haja um bom aproveitamento de folículos designados pela natureza para aquele ciclo de tratamento. Durante esse período são realizadas entre quatro e seis ultrassonografias de acompanhamento, com eventuais ajustes de doses.
Uma vez que os folículos estejam nos tamanhos adequados passa-se para o próximo passo de amadurecimento dos óvulos. Cerca de 36 horas depois, é possível fazer a coleta dos óvulos via transvaginal com sedação leve. “Os óvulos aspirados são avaliados em laboratório para a identificação dos maduros que serão congelados através de processo de vitrificação. Importante ressaltar que os óvulos não perdem sua capacidade reprodutiva e não envelhecem com o tempo de congelamento”, afirma Roberto.
Tratamentos para engravidar
Os tratamentos na reprodução humana assistida envolvem:
Relação sexual programada: o coito programado é quando o casal planeja ter relações sexuais durante o período fértil da mulher. Esse método é simples, mas são necessários exames a fim de se avaliar a função reprodutiva como um todo. Nos homens, um exame de abordagem inicial importante é o espermograma, e nas mulheres, a histerossalpingografia, para avaliar a cavidade uterina e permeabilidade das trompas, a ultrassonografia pélvica e o painel hormonal reprodutivo da mulher. Importante lembrar que esse tipo de tratamento pode ser oferecido também para mulheres que apresentam dificuldades de ovulação, como o caso daquelas que possuem síndrome dos ovários policísticos, mas nessas situações deve ocorrer uma indução medicamentosa da ovulação.
Inseminação artificial: é uma técnica de reprodução medicamente assistida utilizada quando os parâmetros do espermograma encontram-se com alterações leves a moderadas ou quando a relação sexual programada não dá certo. O procedimento é realizado no período fértil da mulher e consiste em injetar o sêmen devidamente preparado e melhorado em laboratório, diretamente no útero da paciente para que, então, ocorra a fecundação do óvulo e a geração do embrião. As taxas de sucesso da inseminação artificial dependem da qualidade das trompas, da quantidade de espermatozoides e da idade da mulher.
Fertilização in vitro (FIV) e injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI): é um método de reprodução humana assistida de alta complexidade. O encontro dos óvulos e espermatozoides, ou seja, a fecundação em vez de acontecer na trompa da mulher é feita no laboratório. Por ser “fora do corpo”, recebe a denominação "in vitro". O tratamento envolve o estímulo hormonal de um processo ovulatório múltiplo, acompanhamento de ultrassonografias transvaginais e a coleta dos óvulos sob sedação, em local seguro e devidamente equipado. Nesse mesmo dia, o homem colhe o sêmen ou a mostra de espermatozoides já pode estar disponível no laboratório. A partir desse momento os espermatozoides passam por um processo de seleção a fim de se definirem os melhores.
A fertilização dos óvulos em si pode ocorrer de duas maneiras, através da técnica clássica, na qual óvulos e espermatozoides são colocados em um mesmo compartimento e a fecundação ocorre de forma espontânea (FIV clássica) ou, então, pela técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) nos óvulos, a qual consiste literalmente na injeção de um único espermatozoide pré-selecionado dentro de um óvulo. A técnica de ICSI, embora originalmente utilizada apenas para os casos de fator masculino grave, atualmente é disseminada e utilizada prioritariamente na maior parte dos serviços por entregar melhores taxas de fertilização dos óvulos.
“O tratamento a ser indicado deve ser individualizado e dependerá da saúde e histórico do casal”, aponta Marcelo Marinho de Souza.