SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os sintomas de Parkinson em Carlos Alberto Palheta, 41, começaram há pouco menos de quatro anos. Morador de Parauapebas, cidade a 721 km de Belém, no Pará, ele sentia rigidez na coluna cervical e, depois, passou a sentir também no lado direito do lábio.
Esse tratamento envolve a estimulação de áreas no cérebro que controlam a fala e o movimento, afetados pela doença. Com um equipamento no couro cabeludo do paciente, sem intervenção cirúrgica, é possível fazer o mapeamento e estimular as áreas que estão disfuncionais.
Estudos ainda devem avaliar se há uma melhora da qualidade de vida em pacientes com a doença, mas análises já apontam a eficácia da estimulação magnética transcraniana para a melhora das atividades diárias das pessoas com a doença.
"A neuromodulação melhorou muito minha marcha e a minha fala. Eu não conseguia me levantar da cadeira", diz Carlos, após passar por 15 sessões do tratamento. Associado a isso, ele faz exercícios físicos e fisioterapia regularmente e toma medicamentos como Prolopa e Sifrol, indicados para a doença.
O acesso à técnica, no entanto, é dificultado pelos altos preços -- entre R$ 750 e R$ 1500 por sessão -- e pela baixa difusão da prática. Carlos deve vir a São Paulo a cada 6 meses para fazer o tratamento, indisponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Seu plano de saúde negou reembolso, alegando que o tratamento não está incluído no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Manter todo o tratamento, em conjunto, tem saído caro para o paciente. "Sou formado em administração e sempre economizei muito. Consigo fazer porque tenho uma reserva de emergência e meus colegas, na empresa, organizaram uma vaquinha para me ajudar", diz ele.
Profissionais de saúde se movimentam para que haja a inclusão da técnica no sistema público. O PL (projeto de lei) 5376/2023, de autoria da deputada Maria Rosas (Republicanos), tramita na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados e pede pela inclusão da neuromodulação na lista de procedimentos do SUS.
O PL foi escrito em parceria com a neurocientista Carolina Souza, que faz parte do grupo de distúrbios do movimento do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. "O estímulo potencializa o que chamamos de neuroplasticidade [capacidade que o cérebro tem de aprender e se reprogramar]. A estimulação modula a atividade do cérebro e ativa neurônios que estão pouco ativos por conta da doença. Seria maravilhoso que estivesse disponível no SUS", diz ela.
Segundo especialistas, a técnica deve ser aplicada em associação a terapias convencionais, como fisioterapia e fonoaudiologia, atividades essenciais para o paciente com a doença.
Para a fisioterapeuta Erica Tardelli, atual presidente da ONG Associação Brasil Parkinson, o problema maior reside no fato de que é raro sequer encontrar no SUS profissionais dessas categorias que sejam especializados em Parkinson.
"Aqui em São Paulo, os pacientes ainda encontram alguma reabilitação, é difícil, mas encontram. Mas em outros lugares, nem está regulamentada a obrigação de fonoaudiólogos para Parkinson, sendo que a evolução da doença inclui a dificuldade para engolir. Nesses casos, o paciente pode ter broncoaspiração e a comida ir para o pulmão. É importante discutirmos a incorporação de novos tratamentos, mas muitos dos pacientes não têm o básico", diz.
Na fonoaudiologia, um tratamento reconhecido mundialmente para Parkinson é o método Lee Silverman, voltado para a reabilitação da fala. A doença gera o enfraquecimento da musculatura e pode causar rouquidão e redução da velocidade de fala. A terapia também não é oferecida pelo sistema público.
Apesar das limitações, hoje, o SUS oferece assistência à saúde neurológica, por meio da Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica. Há algumas terapias disponíveis para Parkinson como a cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS, significa deep brain stimulation, em inglês), indicada para casos moderados da doença.
O procedimento cirúrgico consiste na implantação de uma espécie de marca-passo no cérebro para reduzir sintomas motores, como tremores, rigidez e dificuldade para andar. Uma bateria alimenta o eletrodo e, após alguns anos, o aparelho, se não for recarregável, deve ser trocado. O paciente também deve ser acompanhado a cada três meses para o ajuste do dispositivo.
Embora o carro-chefe para tratamento da doença, hoje, ainda sejam as substâncias orais, é importante que elas sejam associadas a terapias adjuvantes como essas, diz a neurologista especialista em Parkinson, Sara Casagrande.
"O medicamento que seria mais efetivo seria a levodopa, disponível no SUS, que vira realmente dopamina no cérebro. O problema é que, hoje, ela não dura muito tempo. A pessoa tem que tomar três vezes ao dia e, com o passar do tempo, dura cada vez menos e o paciente passa a ter que tomar a cada duas, três horas, porque a doença progride. Ela também não funciona bem se tomada com um alimento e tem efeitos colaterais, como movimentos involuntários no corpo", afirma.
Ainda é esperado que chegue ao Brasil no próximo ano um remédio aplicado de forma subcutânea, já disponível no Reino Unido, que libera, durante 24 horas por dia, a substância, de forma semelhante à bomba de insulina para diabéticos.