Se a mulher não conseguir engravidar no período de seis meses a um ano, já é uma boa ideia procurar tratamento -  (crédito: Freepik)

Se a mulher não conseguir engravidar no período de seis meses a um ano, já é uma boa ideia procurar tratamento

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É normal que mulheres que desejem engravidar se preocupem com a sua reserva ovariana, o nome técnico que reflete o estoque de óvulos da mulher. “Quanto maior é a reserva ovariana, mais estoque de óvulos ela tem. Isso significa que ela vai demorar mais tempo para chegar na menopausa, que é quando todo esse estoque se esgota, e também que essa mulher vai ter mais óvulos se fizer algum tratamento para engravidar e, consequentemente, com a qualidade dos óvulos, teremos mais chance de gravidez também. Mas também é possível engravidar com baixo estoque de óvulos. Como em uma gravidez natural, em que só precisamos de um óvulo para chegar na gravidez”, explica o especialista em reprodução humana, membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), diretor clínico da Neo Vita e doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres (Reino Unido), Fernando Prado.

“Não necessariamente é preciso reprodução assistida para engravidar nesses casos. Mas, como o estoque de óvulos não é tão grande, a gente não recomenda que a mulher espere muito tempo nessas tentativas naturais. Se ela tem menos de 40 anos e não está conseguindo engravidar de seis meses a um ano, já é uma boa ideia ela procurar um tratamento. Agora se a mulher tem mais de 40 anos, ela não deve esperar nada, já deve pensar num tratamento de reprodução assistida para poder chegar logo na gravidez”, acrescenta o médico.

A reserva ovariana diminui com a idade. O maior estoque de óvulos que a mulher tem é ainda quando ela está na barriga da mãe, na gravidez, por volta da metade da gestação, com 20 semanas. “Esse estoque de óvulos é por volta de 7 milhões de folículos (ou óvulos) nessa época. Quando a menina nasce, essa quantidade já reduz bastante, ficando aproximadamente em 2 milhões de folículos primordiais ou de óvulos. E aí continua caindo mais ainda. Quando chega na primeira menstruação, com 12 anos, a menina já perdeu mais 3/4, então, daqueles 2 milhões que ela tinha quando nasceu, ela chega com 400 ou 500 mil óvulos na idade da primeira menstruação. E esses óvulos vão ser os úteis que ela vai usar para engravidar até que acabe todo o estoque, quando ela chega na menopausa por volta dos 45, 50 anos. Ela vai ter esses 500 mil óvulos para usar durante esse período de mais ou menos 40 anos”, explica o médico.

Embora a reserva ovariana diminua com a idade, a questão genética também influencia, por isso mulheres jovens podem ter baixa reserva ovariana. “Existem mulheres que já nascem com estoque mais alto, geralmente são aquelas que têm ovário policístico, e também têm o contrário, mulheres que nascem com o estoque mais baixo, são aquelas que têm um histórico familiar de mãe, tia, irmã que entraram na menopausa mais cedo. Mas não é só a questão genética, há também a questão ambiental. Algumas substâncias, alguns medicamentos, exposição à radiação, qualidade de vida, tudo isso pode reduzir o estoque de óvulos e até mesmo mulheres abaixo de 30 anos podem ter uma baixa reserva ovariana”, explica o especialista.

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Para saber o real estado da reserva ovariana, existem basicamente dois exames. “Um deles é um ultrassom transvaginal, que deve ser feito durante o período menstrual ou bem no comecinho do ciclo menstrual; é feita uma análise no ultrassom chamada de contagem de folículos antrais, que é a medida do estoque de óvulos que conseguimos enxergar no ultrassom. São aqueles folículos que têm pelo menos de 5mm a 10mm para menos, que são os que contamos, para ver o estoque de óvulos. Esses folículos antrais são aqueles que estão prontos para crescer naquele ciclo menstrual. Se for um ciclo sem hormônio externo, só vai crescer um. Se for um ciclo estimulado, a tendência é que todos esses cresçam e aí a mulher tenha vários óvulos”, explica Fernando Prado.

"Um outro exame, além do ultrassom, é de sangue, é um hormônio, que se chama hormônio anti-mülleriano (AMH), que é o melhor marcador de reserva ovariana que existe. Ele tem algumas peculiaridades: pode ser colhido em qualquer fase do ciclo, a mulher pode estar grávida, pode estar tomando pílula, hormônio, não tem uma grande variação de um ciclo para outro, então ele dá um valor muito preciso e quanto mais alto for o valor do hormônio anti-mülleriano, maior é o estoque de óvulos. Claro que existem algumas interferências, por exemplo mulheres que tomam biotina podem ter ele um pouquinho mais baixo, usuárias de pílula também podem ter mais baixo, então a gente recomenda que a mulher suspenda por um tempo o uso dessas medicações antes de dosar o AMH, mas de qualquer forma o resultado não vai ser tão diferente se ela tiver usando ou não”, destaca o especialista.

Sabendo o estado da reserva de óvulos, a avaliação médica pode ajudar a estabelecer a melhor alternativa. “Podemos definir se é melhor partir logo para um tratamento de reprodução assistida ou se é possível aguardar para uma gravidez natural”, indica.