Deve ser labirintite! Provavelmente você já ouviu essa frase após reclamar de um episódio de tontura para alguém. Essa associação é tão comum que hoje labirintite é praticamente um sinônimo popular para tontura ou vertigem. Mas o que poucos sabem é que essa relação dificilmente prova-se verdade. “A tontura é realmente um dos sintomas da labirintite e de diversas outras doenças. E é muito comum que as pessoas cheguem ao consultório já certas do seu diagnóstico, mas são poucos os casos em que essa suspeita se confirma. A labirintite, na verdade, é um quadro raro e o mais provável é que a tontura ou vertigem esteja relacionado a outras condições”, explica a otoneurologista, médica otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido, Nathália Prudencio.
Segundo a especialista, a labirintite é uma condição caracterizada por uma inflamação ou infecção do labirinto, localizado na orelha interna. E como o labirinto é responsável pela audição e pelo equilíbrio, a tontura pode surgir. “Geralmente, a labirintite é consequência de uma infecção na orelha média, de uma meningite ou até de uma infecção de vias aéreas superiores. Porém, hoje temos tratamentos muito eficazes para essas infecções que podem ser administrados precocemente, resolvendo o problema em alguns dias. Então dificilmente essa infecção evoluirá e acometerá o labirinto. Por isso, o diagnóstico de labirintite é raro, são poucos os casos que evoluem a esse ponto”, diz a otoneurologista.
A médica afirma que o mais provável é que quadros de tontura e vertigem estejam relacionados a outras doenças do ouvido interno, como a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB). “As doenças do ouvido interno figuram entre as principais causas de tontura e, entre elas, a VPPB é a mais comum. Popularmente conhecida como tontura dos cristais ou labirintite dos cristais, apesar de não terem relação, essa doença causa vertigens frequentes que surgem quando o paciente faz movimentos com a cabeça, por exemplo, ao se levantar e ao se deitar na cama. Ela recebe esse nome, tontura dos cristais, pois ocorre quando os otólitos, pequenos cristais envolvidos no equilíbrio e localizados no labirinto, se desprendem, geralmente, de forma espontânea, gerando esse quadro de vertigem que dura alguns segundos com a movimentação da cabeça”, explica a especialista, que aponta a enxaqueca vestibular, neurite vestibular e doença de Ménière como outras possíveis causas da tontura.
O surgimento de tontura de maneira isolada, sem qualquer outro sintoma associado, já é um bom indício de que o problema não se resume à labirintite. “A ausência de sintomas auditivos é um sinal importante de que a origem da tontura não é uma labirintite. Apesar da tontura ser o sintoma mais comum, a labirintite também vem acompanhada de alterações como náuseas e vômitos, vertigem, suor, zumbido no ouvido, perda de audição ou nistagmo, que são pequenos movimentos involuntários dos olhos”, destaca a médica. Mas vale lembrar que, mesmo que não esteja associada a sintomas auditivos, a tontura nunca deve ser ignorada. “Preste atenção nos diferentes aspectos da tontura. Ela é breve ou prolongada? Trata-se de um caso isolado ou as crises surgem com frequência? Tem algum sintoma associado? Há algum gatilho?”, pontua Nathália.
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A otoneurologista afirma que uma tontura única e isolada, que não dura mais de um minuto e não é acompanhada de outros sintomas, não é motivo de preocupação. “Muitas pessoas podem sofrer com episódios isolados de tontura devido a fatores como jejum, dias muito quentes, falta de hidratação e excesso de esforço físico”, diz a especialista. Porém, se essa tontura é persistente ou recorrente, é importante investigar. “Sentir tontura com frequência nunca é normal. É um sintoma que pode prejudicar seriamente a qualidade de vida do paciente, aumentando o risco de quedas e criando dificuldades no dia a dia. Por exemplo, algumas pessoas sentem tontura simplesmente ao levantar da cama, o que pode ser uma tontura ortostática causada por uma queda repentina da pressão arterial ao mudar de posição. Outras pessoas podem sentir vertigem, além de enjoo e dores de cabeça, durante viagens, o que chamamos de cinetose. Então, devemos sempre buscar a causa dessa tontura, que pode envolver, além de problemas no ouvido, doenças neurológicas e cardíacas, alterações sistêmicas, efeitos colaterais de medicações, entre diversos outros fatores”, alerta.
E buscar um médico otoneurologista é indispensável para identificar a real causa da tontura, o que é um grande desafio, visto que não existem exames específicos. No geral, o diagnóstico é dado a partir dos relatos do paciente e, dependendo do caso, alguns exames podem ser solicitados, mas não são sempre necessários. “No caso da labirintite, por exemplo, precisamos verificar se houve uma infecção prévia, se existe algum sintoma associado à tontura, como essa tontura se apresenta e se há alterações na audição, o que é feito através da audiometria”, detalha Nathália Prudencio.
Após uma avaliação, o médico poderá confirmar se realmente se trata de labirintite e recomendar o tratamento mais adequado. “A labirintite se resolve com o tratamento correto, porém pode deixar algumas sequelas. Como a doença está ligada a uma infecção, o tratamento geralmente envolve repouso, alimentação balanceada, hidratação e uso de medicamentos para aliviar os sintomas, além de antibióticos caso trate-se de uma infecção bacteriana. Mas você não deve assumir o diagnóstico de labirintite e se automedicar, pois essa pode não ser a causa da tontura, exigindo um tratamento completamente diferente. Então procure um otoneurologista”, recomenda.