Aplicação da dose de reforço da vacina contra a COVID está atrasada -  (crédito:  torstensimon/Pixabay)

Aplicação da dose de reforço da vacina contra a COVID está atrasada

crédito: torstensimon/Pixabay

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - O atraso na compra de imunizantes e o adiamento da campanha de vacinação contra COVID-19 pelo governo federal, que era prevista para este mês, podem representar um aumento da vulnerabilidade da população brasileira ao vírus na estação de outono e inverno que se aproxima.

Com maior circulação de viroses, o período, somado à falta de doses de reforço (sobretudo para idosos e pessoas com comorbidades), pode provocar novos surtos de internações e mortes pela doença. Alguns estados já estão sem doses, mas o ministério afirma que deve fechar o contrato nos próximos dias. 

 

A campanha de vacinação dos grupos prioritários estava prevista para começar neste mês, mas a compra emergencial de 12,5 milhões de doses, disputada por Pfizer e Moderna, travou no Ministério da Saúde.

 

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Após publicação da Folha de S.Paulo relatando o atraso, a pasta informou na noite da última sexta-feira (19) que fechou a compra emergencial de 12,5 milhões de doses. Este lote deve chegar à população nos próximos 15 dias, diz a Saúde. Após essa etapa, a previsão é que as novas doses sejam distribuídas aos estados em um intervalo de 10 a 12 dias. 

 

A retomada da COVID vem preocupando profissionais de saúde desde o começo do ano, quando houve uma alta significativa dos casos. Apenas entre janeiro e fevereiro de 2024, a média móvel de pacientes com COVID subiu 154% com relação ao mesmo período do ano passado.

 

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Natan Chehter, clínico geral e geriatra membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, destaca que, assim como a o vírus influenza, causador da gripe, a COVID tem um prazo certo para manter a imunidade. "O vírus têm apresentado mutações e a imunidade que a pessoa tem para uma determinada variante não se sustenta para outro. Ela pode, eventualmente, ter novos sintomas da doença", afirma o médico.

 

Segundo o clínico, o esperado é que a imunidade dos já vacinados ainda seja suficiente para uma resposta imune melhor que a dos não imunizados. "Por isso foi tão importante ter se vacinado no começo, mas, lógico, os idosos e a população de risco fazem respostas imunes com mais atraso e de grau menor que os jovens. Então a vacina nova tem o sentido de fazer um novo estímulo, para o sistema imune entender que ele precisa manter a guarda alta para novas infecções", reforça Chehter. 

 

Atualização periódica diante da queda de proteção

Vacinas como a da COVID, segundo o médico Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, tem durabilidade de imunização curta, limitando-se a algo em torno de um ano, e precisam ser atualizadas periodicamente.

 

"À medida que o tempo vai passando e o vírus vai mudando, essa proteção tende a cair cada vez mais, mesmo que a pessoa tenha tomado uma vacina dupla", afirma Granato. 

 

A gravidade do risco cresce também conforme a idade aumenta e, a partir dos 65 anos, fica cada vez mais perigoso uma infecção do coronavírus, pois esse grupo têm mais chances de ter as formas mais graves da doença. A situação piora se o paciente for acometido por mais de um vírus. 

"Ainda temos um número muito grande de casos de COVID. E aqui no laboratório, a gente tem visto [pacientes com até] três viroses ao mesmo tempo: dengue, influenza gripe e COVID", conta o infectologista.

 

Granato alerta que, independentemente de campanhas, todos precisam estar atentos ao calendário vacinal. "Houve uma questão de desvalorização da vacina da Covid, mas, hoje, a gente sabe muito bem que ela evitou muitos casos graves e mortes, mudando a história da doença para a humanidade", diz.

 

Recomendação é atualizar a vacinação 

A primeira regra para evitar entrar para as estatísticas da COVID em 2024 é, portanto, atualizar a vacinação, especialmente a de idosos. "Sobretudo agora que entramos em uma época um pouco mais fria, Outono, e, daqui a pouquinho, Inverno, as pessoas devem se proteger. Se estiverem em dúvida, é só levar a carteirinha ao posto de saúde", afirma Granato. 

 

Ele recomenda o uso da máscara em transporte público e em espaços com aglomerações como prevenção. "Na dúvida, volte a usar máscara. Serviu muito, ao lado da vacina, para evitar formas mais graves da doença", diz Granato.

 

De acordo com Chehter, não é ainda necessário pensar em isolamento, mas os grupos de risco devem ser prudentes em relação ao coronavírus na atual situação. "Realmente tem uma circulação maior do vírus à medida que o frio se aproxima e as pessoas ficam mais aglomeradas. Evite lugares lotados, faça a higiene das mãos. Funciona não só para Covid, mas para todos os vírus respiratórios", pontua o geriatra.