Um homem de 40 anos chamado Ramazan Ylmaz passou por uma cirurgia cerebral urgente para remover um implante dentário que migrou para seu cérebro devido a um erro durante uma operação de implante de prótese, em 2022, na Turquia.
Os médicos explicaram que uma combinação do posicionamento incomum da cavidade craniana de Ylmaz e a excessiva força usada no procedimento contribuíram para o deslocamento do implante. O caso veio à tona este ano, em janeiro, através de um artigo na revista Neurochirurgie.
O dentista responsável pelo procedimento inicialmente sugeriu a extração dos dentes de Ylmaz, que estavam seriamente comprometidos e, durante o procedimento, o paciente alertou sobre a dor intensa que sentia, mas o profissional insistiu que era uma reação normal.
Uma crise de dor, porém, o levou a uma radiografia de emergência e o exame revelou o parafuso dentro do cérebro de Ylmaz. Imediatamente, ele foi encaminhado para um hospital e submetido a uma cirurgia de emergência através de uma incisão perto dos olhos, em que o parafuso foi extraído sem causar mais complicações ao paciente.
Até este episódio, não havia casos conhecidos de deslocamentos semelhantes, com parafusos alojados no cérebro dos pacientes.
Riscos de um objeto estranho no cérebro
Segundo o médico neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, a migração de um corpo estranho para dentro da cavidade intracraniana pode apresentar diferentes complicações, como sangramentos ou vazamento do líquido cefalorraquiano (líquor), favorecendo quadros de infecção como meningite ou abscessos. “A depender da área afetada, pode haver déficit motor ou sensitivo, alteração da fala e, até mesmo, lesão ocular. Alguns casos podem ser fatais.”
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Quando uma situação como essa acontece, o médico conta que é necessária uma avaliação urgente com um neurocirurgião, que costuma solicitar exames de imagem como tomografia de crânio e, às vezes, alguns estudos vasculares, para determinar a localização e profundidade do corpo estranho. “O tratamento majoritariamente é cirúrgico. É realizada uma craniotomia - uma abertura de forma controlada do crânio - para acessar e remover o objeto com o mínimo de dano adicional.”
O manejo pós-operatório, de acordo com Felipe, inclui medicações para prevenir ou tratar infecções, além do monitoramento intensivo para avaliação de complicações como edema cerebral ou hemorragias.
Possíveis sequelas
As sequelas de ter um objeto estranho no cérebro variam e dependem de múltiplos fatores, incluindo a localização, o tempo até a remoção e se houve dano vascular associado.
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Felipe conta que, em decorrência disso, o paciente pode sofrer com deficiências motoras, sensitivas, cognitivas ou alterações comportamentais. Existe um risco aumentado de desenvolver epilepsia e infecções tardias. O tratamento dessas sequelas pode ser acompanhado de uma equipe multidisciplinar, incluindo fisioterapia, terapia ocupacional e apoio psicológico.
Incisão feita nos olhos
A incisão perto dos olhos, comenta o neurocirurgião, é uma técnica de acesso neurocirúrgico tradicional para acessar lesões na parte anterior ou na base do crânio. Essa abordagem é utilizada em traumatismos cranianos, cirurgias para tumores e aneurismas cerebrais.