A doença renal crônica vem se tornando uma epidemia silenciosa e deve se tornar a quinta causa de morte no mundo em 2040, revela um artigo recém publicado na Nature. A doença ficaria atrás no número de óbitos apenas da doença isquêmica do coração, do acidente vascular cerebral (AVC), de infecções respiratórias e da doença pulmonar obstrutiva crônica. A incidência da doença renal crônica cresceu 30% nas últimas três décadas e, segundo os especialistas, ainda há enormes desafios na prevenção e no diagnóstico precoce no mundo todo.
No Brasil, faltam dados precisos, mas estima-se que a doença afete cerca de 11% da população, sendo que há 144 mil pacientes em diálise, o procedimento em que uma máquina limpa e filtra o sangue do paciente quando o rim não consegue funcionar normalmente. Um painel de especialistas acaba de publicar um artigo no periódico científico Kidney Diseases que traz um retrato da situação da doença no país e recomendações para mudar o cenário.
“Cerca de 70% dos casos da doença renal crônica se devem a diabetes e hipertensão, e esses problemas estão muito associados à obesidade”, diz o nefrologista Marcelo Costa Batista, do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos autores do trabalho brasileiro. Histórico familiar, tabagismo e idade acima de 60 anos, entre outros, também são fatores de risco.
A doença renal crônica é caracterizada pela perda progressiva e irreversível da função dos rins ao longo de meses e anos. Esses pacientes têm maior risco de morte por todas as causas. “A doença renal crônica também aumenta de oito a dez vezes o risco cardiovascular. São doenças que andam juntas”, explica Marcelo.
Nos estágios iniciais, é possível fazer o controle com medicamentos e mudanças de estilo de vida. Nos mais avançados, a pessoa precisa fazer diálise ou transplante de rim. O nefrologista explica que por isso são importantes a prevenção e o diagnóstico precoce, além do tratamento correto para evitar a progressão da doença.
Esses pacientes também têm uma série de complicações, pois a doença provoca anemia, desnutrição, problemas neurológicos e metabólicos, incluindo alterações nos níveis de potássio, que devem ser corretamente identificadas e tratadas.
O diagnóstico no Brasil é tardio
Mais de 44% dos casos aqui são diagnosticados em estágios mais avançados. “Precisamos melhorar a identificação desses pacientes, além de mais médicos capacitados para lidar com a doença de acordo com as diretrizes.”
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Como ela não dá sintomas no início, é necessário mapear quem tem mais chance de desenvolvê-la e fazer a avaliação da função renal por meio da dosagem de albumina na urina e de creatinina no sangue. Dependendo do resultado, a pessoa precisa ser monitorada de forma mais próxima e mudar hábitos para prevenir o desenvolvimento ou a progressão da doença.
Pacientes de risco também devem ser orientados sobre os cuidados com certas medicações que são nefrotóxicas, como alguns anti-inflamatórios e contrastes usados em exames.
No entanto, uma pesquisa citada no artigo, feita com médicos paulistas, mostra que menos da metade deles, 42,5%, tinha recebido treinamento no cuidado com esses pacientes, 56% solicitam exames de urina para diagnóstico e 64,6% tinham conhecimento da classificação da doença, todos números que denotam a necessidade de maior atualização e capacitação dos profissionais de saúde.