Entre as várias campanhas de conscientização realizadas durante todo o ano, o combate à obesidade - doença reconhecida como epidemia no Brasil - integra as datas ligadas à saúde. No entanto, não são só os humanos que sofrem com as consequências da má alimentação e do sedentarismo. Carinha de pidão, excesso de ‘gordurinhas’ e andar engraçado são algumas das características dos pets obesos, porém, também são motivo para que os tutores banalizem os sinais claros de que a saúde do pet não vai bem.


A advogada Alessandra Drumond Crivellari, de 34 anos, é tutora de 10 cães. Entre eles, Jotalhão, Monicão e Kiara, de seus pais, foram diagnosticados com obesidade e, recentemente, deram início ao tratamento para reduzir o peso e melhorar a qualidade de vida. No caso dos dois primeiros, foi instituída uma dieta com restrição calórica, com diminuição na quantidade de ração. No caso de Kiara, um plano personalizado para suas necessidades foi estabelecido, contendo comida natural e variedade de alimentos elencados no cardápio.


Alessandra conta que, além da castração, os donos davam alimentos errados para Kiara. Foi a partir das consultas com a médica veterinária que houve o aconselhamento tanto para Kiara quanto para os outros 10 cães. “Na consulta, tive uma orientação aprofundada sobre o que pode ou não ser oferecido aos cães”, comenta.


A castração é apenas um dos fatores para o excesso de peso, mas não chega a ser a causa do problema, como explica a médica veterinária Vanessa Vaz, que enfatiza que para se ter o diagnóstico de obesidade canina são levadas em consideração a inspeção e a palpação direta, ou seja, observar o aparecimento da costela do animal, mas verificar também fatores como a raça, idade, gravidez, uso de medicamento, entre outros. “Em suma, é importante que as pessoas levem para um profissional e estejam dispostas a ouvir. O que eu vejo é que, às vezes, a pessoa até vê a condição do animal, mas não está disposta a ouvir e a encarar aquele problema”, afirma.


A crítica da profissional refere-se especialmente aos tutores que negligenciam e banalizam o estilo de vida que têm proporcionado aos seus cachorros. “Com a pandemia, o problema foi agravado, porque houve esse contato próximo do ser humano com os animais, o que por um lado foi ótimo, mas também poderia ter iniciado uma rotina de exercícios. O problema é que muitos nem passeavam”, destaca. Além do sedentarismo, a profissional cita fatores como alimentação inapropriada, como “borda” de pizza ou sorvete industrializado.

Pesquisas posteriores à pandemia reiteram a preocupação de Vanessa. Um estudo da UFMG com aproximadamente 54 mil pessoas concluiu que a pandemia da COVID-19 deixou “sequelas”, como a redução da prevalência da prática de atividade física e a piora nos indicadores de excesso de peso, obesidade, diabetes e hipertensão no Brasil.

 

Monicão tem uma dieta com restrição calórica e redução na quantidade de ração

Alexandre Guzanshe/EM//D.A Pres


Mas, assim como o comportamento do ser humano afeta os animais, o oposto pode ocorrer. Anita, de 17 anos, começou há aproximadamente dois anos a se alimentar com comida natural. A vira-lata da advogada Ana Sílvia Rabelo, de 29 anos, já realizava exames periódicos, mas em um deles foi observada uma alteração, somada ao excesso de peso. Nesse caso, foi preciso trocar a antiga alimentação por refeições contendo arroz integral, legumes e verduras. “É aquela comida que o nutricionista vê que tem muitos nutrientes. Antes, a Anita tinha o paladar seletivo, não comia muito e dava para ver que não gostava de ração”, relembra.


O que não era de se esperar é que, com a rotina de preparar legumes e verduras, Ana começou a incluir a comida natural na própria alimentação, mudando um tempero ou outro. “Alho e cebola eu não incluo. Antes, se não havia comida pronta ou estava com preguiça, eu pedia um delivery. Hoje, eu preparo a comidinha dela e já faço a minha. Confesso que como a mesma coisa que ela”, conta.


No entanto, engana-se quem acha que a alimentação natural é a mesma coisa que o resto de comida deixada no prato. Há muitos alimentos proibidos e tóxicos para animais, como os já citados: alho, cebola e sorvete, mas também feijão, pão (o organismo não processa o trigo), açaí, pão de queijo, manteiga, entre outros. “Eu gosto de dizer que ‘eu como a comida da minha cachorra’, porque ela é preparada no vapor. São legumes e verduras específicas para cachorro. A carne é preparada do jeito certo. Eu uso sal, mas com a proporção correta”, conta Vanessa, que recomenda alimentos liberados para os pets. “Como alternativa, você pode utilizar temperos saudáveis: salsinha, couve, manjericão, hortelã, salsinha e cúrcuma, que são anti-inflamatórios naturais.”


Para além do controle do peso, esse tipo de alimentação também possibilita adaptar os nutrientes. No caso de Anita, que consumia uma alta dose de proteína, houve a retirada de parte da carne da refeição. Mas, se necessário, em razão da idade, verduras e legumes podem ser substituídos por algo com uma consistência adequada, já que, além de ter baixa visão, ela já não apresenta todos os dentes.

A ADVOGADA ALESSANDRA DRUMOND CRIVELLARI DIVIDE SUA ATENÇÃO COM 10 CÃES. DESsES, TRÊS ESTÃO FAZENDO TRATAMENTO PARA REDUZIR O PESO, COMO O JOTALHÃO (foto)

Alexandre Guzanshe/EM//D.A Pres


RISCOS

Como levantado pela veterinária, a obesidade tem diversas causas, como a raça. Ela cita algumas que merecem atenção redobrada, como a alimentação e as atividades físicas, para evitar os problemas de um cachorro obeso. Cães braquicefálicos, como o pug, buldogues ingleses e franceses, beagles e labradores são somente alguns dos exemplos de raças com propensão a engordar.


Além disso, doenças comumente associadas à obesidade também se tornam um risco para eles. Problemas de pele, diabetes, estresse térmico, problema no fígado e no pâncreas, doenças respiratórias e câncer são apenas algumas das consequências da doença, que podem encurtar a expectativa de vida de cinco a seis anos.


Para cuidar de um animal, não há uma receita pronta. Então tenha sempre um médico veterinário de confiança para acompanhar o seu pet. O ideal é que um plano alimentar especial e individualizado seja indicado para ele e para a rotina e condição do tutor. “Há a possibilidade de adaptar a dieta. O que não dá é o responsável pensar que uma dieta de cachorro vai ser igual a da gente. “Eu estou morrendo de fome”, “tem três dias que eu estou seca em um doce”. Não, é totalmente diferente. O animal não tem psique envolvida”, explica Vanessa.


* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie

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