Já ouviu falar das microverdes? Esse termo é designado para hortaliças, ervas aromáticas e condimentares cultivadas e colhidas poucos dias após a semeadura, antes de desenvolverem folhas cotiledonares (as primeiras que se formam), quando atingem entre 5 e 10 centímetros de comprimento. “Estudos mostram que estas plantas têm um conteúdo nutricional igual ou superior a 40 vezes o seu equivalente adulto (vegetal maduro). Elas concentram macro e micronutrientes, são ricas em fitoquímicos, vitaminas e minerais que conferem um amplo poder antioxidante, com possíveis efeitos antibacterianos, antidiabéticos e anti-inflamatórios”, explica a médica nutróloga, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Marcella Garcez. Um estudo recente mostrou que as microverdes são promissoras para produção sustentável de alimentos em regiões vulneráveis ao clima. As microgreens, como também são chamadas, já estão no Brasil desde 2018 e, segundo estimativas de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), hoje o número de produtores dedicados ao cultivo está em cerca de 500 profissionais.

O mesmo estudo também coloca as microverdes como um superalimento do futuro. “Isso é justificado pelo fato de que as microverdes apresentam muito mais versatilidade de cultivo do que suas formas adultas. Apesar de serem cultivados predominantemente em ambientes de estufa controlados, esses alimentos podem ser cultivados em qualquer ambiente com temperatura (< 20 °C) e umidade estáveis”, explica a médica nutróloga. “Isso traz o benefício da agricultura urbana, que oferece alimentos mais frescos e diminui o impacto das emissões de poluição na atmosfera pelo menor uso de transporte da área de cultivo à venda”, explica Marcella. Mas, além disso, o conteúdo nutricional dessas ‘pequenas gigantes’ é algo a se comemorar.



“Elas possuem sabor mais marcante, maiores teores de fitoquímicos, de vitaminas, de minerais e também de macronutrientes, a depender de qual microverde está em pauta. As microverdes de lentilha, por exemplo, podem ser boas fontes proteicas (6g de proteína a cada 100g)”, diz a médica. Mas por que elas concentram mais nutrientes? “A investigação revelou que as sementes secas dormentes sofrem alterações bioquímicas e nutricionais significativas (acumulação, remobilização e desintegração), uma vez iniciada a sua germinação. Esses processos resultam em uma condensação de nutrientes nas partes comestíveis das plantas, contribuindo para o teor surpreendentemente alto de nutrientes das microverdes”, explica.

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Os micronutrientes presentes nas microverdes também merecem destaque. “As microgreens de brássicas, grupo que compreende hortaliças como brócolis, rabanete e repolho, contêm fitoquímicos como indóis e flavonóides, que já demonstraram, segundo pesquisas, função protetor contra o câncer de próstata e de mama nos estágios iniciais da doença. As microverdes do repolho roxo foram destacadas no trabalho. Sua ação é importante para reduzir os níveis de inflamação em pacientes com alto teor de gordura no fígado, o que está ligado a uma reposta inflamatória mais exacerbada”, reforça Marcella.

Como tendência para o futuro, o estudo projeta que as microverdes caseiras devem ser cada vez mais comuns, por constituírem uma alternativa fascinante e sustentável. “Brotar sementes e cultivar plantinhas para saladas é um hobby fácil de experimentar em casa. Vegetais frescos e ricos em nutrientes podem ser obtidos sob demanda, eliminando a necessidade de transporte de longa distância e reduzindo a quantidade de combustíveis fósseis consumidos na distribuição do produto. Sem contar, é claro, o altíssimo conteúdo nutricional”, acrescenta a especialista.

Essa tendência ajudará a reduzir dois dos maiores entraves para as microverdes nos dias atuais: a dificuldade de armazenamento, pois tem um prazo de validade curto, e sua rápida redução do conteúdo nutricional durante o armazenamento. “De qualquer maneira, as microverdes têm o potencial de reduzir significativamente os recursos necessários para cultivar verduras, melhorar o valor nutricional da dieta humana e até mesmo moldar a moda culinária, já que ajudam a colorir e embelezar o prato”, aponta.

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