A leucemia, conhecida popularmente como “câncer no sangue”, é classificada de acordo com as células que são afetadas pelo clone neoplásico, podendo ser linfoide ou mieloide, que é o caso da leucemia mielóide aguda (LMA), o tipo mais comum e mais agressivo do tumor. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 11 mil casos de leucemia são diagnosticados todos os anos no Brasil, em que pelo menos 10% são de LMA.

Quando afetado por esse tipo de leucemia, o organismo produz glóbulos brancos anormais, que crescem descontroladamente e rapidamente substituem os glóbulos saudáveis. Além disso, as células da doença podem infiltrar outros órgãos, incluindo o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), pele e gengivas.



A maior parte dos casos costuma acontecer em adultos acima de 60 anos, o que dificulta o diagnóstico, já que a doença pode ser facilmente confundida com o processo de envelhecimento. Infecções recorrentes, anemia, palidez, perda de peso sem explicação aparente e manchas roxas pelo corpo são alguns dos sintomas que um paciente pode vir a apresentar”, comenta a médica hematologista pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Mariane Cristina Gennari de Assis.

Segundo dados da Divisão de População da Organização das Nações Unidas, até 2050, cerca de 70 milhões de pessoas estarão acima dos 60 anos. Até 2100, 40% da população brasileira será composta por pessoas idosas. “Isso mostra um cenário preocupante, e precisamos estar prontos para atender as necessidades dessa população", diz.

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A leucemia mieloide aguda é rara antes dos 45 anos, mas existem algumas exceções. "Estamos vendo, por exemplo, o caso da Fabiana Justus. A doença também pode ocorrer em crianças”, adiciona a médica.

Diagnóstico e sintomas

Acometendo a medula óssea, a LMA se desenvolve de forma rápida e, em poucas semanas, o paciente pode ficar muito fragilizado. “O diagnóstico precoce é um fator fundamental para um melhor prognóstico”, diz Mariane.

Dentre os exames realizados para identificar a doença, o hemograma é um primeiro passo, já que auxilia o profissional de saúde a identificar se o paciente apresenta diminuição de glóbulos vermelhos e plaquetas e se já existem alterações nos glóbulos brancos, que podem estar diminuídos ou aumentados, o que pode indicar a presença de células leucêmicas (conhecidas como blastos) no sangue do paciente.

“Existem também exames adicionais e testes que auxiliarão na compreensão do prognóstico da doença e na definição do tratamento. Um exemplo disso é o mielograma, que é usado para quantificar as células leucêmicas presentes na medula óssea do paciente. Para definição do tipo de leucemia utilizamos técnicas de imunofenotipagem. Os exames citogenéticos e moleculares que identificam alterações cromossômicas e mutacionais são fundamentais para classificação prognóstica e dessa forma escolher a melhor abordagem terapêutica”, adiciona a médica.

O que existe de inovação em tratamento

O tratamento é definido de acordo com o histórico, idade e saúde do paciente. “A evolução no tratamento de cânceres no sangue tem como principal objetivo aumentar a sobrevida do paciente, preservando a sua qualidade de vida. Hoje, encontramos avanços nos tratamentos de leucemias que atendem sobretudo a população idosa, que pode não conseguir passar por um tratamento padrão ou até mesmo por um transplante de medula óssea, seja por conta da idade, função orgânica anormal e das comorbidades que o paciente apresenta”, complementa a especialista. Estima-se que 50% dos pacientes sejam inelegíveis para os principais tratamentos.

Dentre as opções disponíveis atualmente, o tratamento dos cânceres hematológicos pode incluir quimioterapia, que tem como objetivo destruir, controlar ou inibir o crescimento de células doentes; imunoterapia, que estimula o sistema imunológico do organismo a destruir as células cancerígenas; e as terapias-alvo, que atuam especificamente nas alterações genéticas causadas pela doença, protegendo também as células saudáveis.

“No tratamento de LMA, é de extrema importância que a equipe médica responsável tenha uma visão global da doença, avaliando, inclusive, o estado de saúde do paciente. Da mesma maneira, é fundamental que o paciente mantenha um diálogo aberto com o médico sobre seus sintomas e inseguranças. Dessa forma, juntos, podem chegar a melhor solução terapêutica, impactando positivamente o prognóstico do paciente”, indica.

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