Cerca de 80% das pacientes com o câncer de ovário são diagnosticadas na sua fase localmente avançada -  (crédito: Freepik)

Cerca de 80% das pacientes com o câncer de ovário são diagnosticadas na sua fase localmente avançada

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O câncer de ovário não é um câncer muito comum, mas é extremamente letal. São esperados para esse ano cerca de 7,3 mil novos casos de câncer de ovário no Brasil, enquanto, para o câncer de mama, se espera cerca de 73 mil novos casos. O que chama a atenção no câncer de ovário é a letalidade, ou seja, o percentual de pessoas que morrem pela doença é de cerca de 60% a 70%, ou seja, aproximadamente  2/3 dos pacientes com o câncer de ovário irão morrer em função da doença.

“E por que isso ocorre? Ainda hoje, em 2024, nós temos importantes limitações no diagnóstico precoce do câncer de ovário. Cerca de 80% das pacientes com o câncer de ovário são diagnosticadas na sua fase localmente avançada, quando o câncer já saiu do ovário e já soltou células contaminando o peritônio, que é uma membrana que reveste o intestino e os órgãos abdominais”, alerta o médico oncologista e mastologista Wesley Pereira Andrade sobre a patologia que é especialmente lembrada nesta quarta-feira (8/5), Dia Mundial do Câncer de Ovário.

Os principais fatores de risco para essa doença são: idade acima dos 50 ou 60 anos, histórico familiar e mutações genéticas, principalmente a mutação do gene de BRCA, ou BRCA2, que são genes protetores contra o câncer de ovário e o câncer de mama.

“Quem nasce com esse gene mutante nasceu sem um anjo da guarda que protegeria contra o risco de desenvolver essa doença. Outros fatores de risco são obesidade, não ter utilizado anticoncepcional, que protege contra o risco de se a doença, bem como outras causas”, adverte o médico.

Em relação aos sintomas, podem ser vagos e inespecíficos, o que torna o diagnóstico muito difícil na sua fase precoce. Alguns sintomas que, em geral, só vão estar presentes na sua fase mais avançada consistem em dor, desconforto abdominal persistente, inchaço, distensão abdominal, sensação de plenitude pós-prandial (come um pouco e tem impressão que comeu bastante), enjoos, vômitos, alteração do hábito intestinal, dor durante a relação sexual, sangramento vaginal e aumento do volume abdominal às custas de um líquido, o que se chama ascite. Pode haver também perda de peso nas suas fases mais avançadas.

Os principais exames para tentar investigar essas queixas consistem no ultrassom transvaginal associado à dosagem de um marcador sanguíneo chamado CA125. Ocasionalmente pode-se fazer uma ressonância magnética do abdome.

Para aquelas pacientes que têm sintomas persistentes e que os exames não foram conclusivos, ocasionalmente é preciso uma atitude cirúrgica por meio de uma videolaparoscopia na perspectiva de avaliar a cavidade abdominal através de uma câmera. Uma vez feito o diagnóstico através de uma biópsia dessas alterações, é fundamental fazer o estadiamento da doença, que consiste em entender se é uma doença localizada, uma doença avançada ou uma doença metastática.

O próximo passo é o tratamento, que tem como principal modalidade a associação de quimioterapia com cirurgia. “Como a maioria das pacientes são diagnosticadas na fase avançada da doença, começamos o tratamento com a cirurgia antes da cirurgia, o que chamamos de quimioterapia nervo adjuvante ou cito redutora, na perspectiva de reduzir o volume tumoral e permitir uma cirurgia menos mórbida sobre o prognóstico e chance de cura”, comenta o cirurgião. As chances de cura no câncer de ovário são da ordem de 30% a 40%.

Naturalmente, alguns casos são diagnosticados na sua fase bem precoce, às vezes por um diagnóstico incidental, ao se fazer outra cirurgia, como uma cirurgia preventiva, em que flagra-se uma lesão no ovário no estudo anatomopatológico.

“O grande limitante hoje é a tecnologia dos exames de imagem, que ainda não permitem o diagnóstico em fase inicial do câncer de ovário. Fica aqui então a dica e alerta à população. Em caso de sintomas abdominais ou ginecológicos persistentes deve-se buscar o auxílio médico, e esse profissional deve estar preparado para investigar essas queixas que, muitas vezes, são inespecíficas. Além disso, as pacientes devem manter uma rotina de acompanhamento até o esclarecimento da queixa ou um diagnóstico assertivo”, recomenda.