A tontura pode ocorrer por uma doença dentro do ouvido, uma doença neurológica, uma doença cardíaca, por alterações sistêmicas como descontrole da pressão ou do açúcar, um efeito colateral de uma medicação, entre outros motivos -  (crédito: Freepik)

A tontura pode ocorrer por uma doença dentro do ouvido, uma doença neurológica, uma doença cardíaca, por alterações sistêmicas como descontrole da pressão ou do açúcar, um efeito colateral de uma medicação, entre outros motivos

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Mal-estar, fraqueza, sensação de queda: são algumas das sensações que muitas pessoas têm ao conviver com a tontura. O problema é que nem sempre há uma atenção especial a esse sintoma e, segundo a otoneurologista, otorrinolaringologista especialista em tontura e zumbido, Nathália Prudencio, não deve ser considerado normal ter episódios de tontura de forma recorrente. “A tontura é um sintoma e sempre deveremos buscar a causa do problema, que pode ocorrer por uma doença dentro do ouvido, uma doença neurológica, uma doença cardíaca, por alterações sistêmicas como descontrole da pressão ou do açúcar, um efeito colateral de uma medicação, entre outros motivos”, explica a médica. “Os principais tipos de tontura observados em consultório são a causada por alterações no labirinto ou nervo vestibular (ou de origem periférica), a tontura neurológica (ou de origem central), a tontura hemodinâmica (por alteração vascular) e a tontura psicológica (de ordem emocional). O quadro do paciente pode incluir um ou mais tipos de tontura, e cada um deles apresenta um conjunto de causas associadas”, complementa Nathália Prudencio.

Uma questão importante com relação à tontura é que nem sempre as pessoas conseguem descrevê-la com facilidade. “A tontura é um sintoma bastante subjetivo e é perfeitamente normal sentir dificuldade ao descrevê-la. O problema é que o relato do paciente no consultório é fundamental, pois não há nenhum exame específico que, de forma isolada, nos permita descobrir, com precisão, a causa da tontura. Em muitos casos, inclusive, os exames nem são necessários”, explica. Dessa forma, o médico deve ter uma boa conversa com o paciente a fim de buscar uma descrição correta da experiência e receber o diagnóstico adequado, que leva em consideração a possível área do corpo ou sistema que apresenta alterações”, destaca a otoneurologista. Abaixo, ela lista as diferenças de cada tipo de tontura:



Tontura do labirinto ou de origem periférica

De acordo com a especialista, as tonturas provocadas por alterações no labirinto, órgão do ouvido interno relacionado à audição e ao equilíbrio, são as mais conhecidas. No entanto, nem todas podem ser chamadas de labirintite. “A labirintite, de fato, é a infecção do labirinto, um quadro bastante raro no consultório. Causas muito mais frequentes para tonturas associadas ao labirinto e outros componentes do sistema vestibular periférico são: vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), neurite vestibular, doença de Ménière. Um sintoma mais comum em todos esses quadros é a vertigem, aquela tontura de ver tudo balançar ou girar associado a enjoo e vômitos. Essa é uma das principais pistas que temos no diagnóstico de uma alteração vestibular”, diz a médica. A falta de nutrientes como a baixa de vitamina D, por exemplo, pode ser causa de recorrência de VPPB, que causa esse tipo de tontura.

Tontura neurológica ou de origem central

Nesse caso, há alterações no sistema nervoso central (cérebro) que indicam doenças ou disfunções neurológicas. “Este tipo de tontura é caracterizada por desequilíbrios e instabilidades, que geralmente são contínuas e pioram ao se movimentar. Entre as possíveis causas, estão: traumas na cabeça, doença vascular, tumores, acidente vascular cerebral (AVC) e esclerose múltipla. Como falamos de causas de fundo neurológico, também são esperados sintomas típicos de quadros desse tipo, como alterações na visão e na fala, bem como dificuldade de movimentar membros ou segurar objetos”, explica a médica.

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Tontura hemodinâmica

Alterações vasculares ou cardíacas que comprometem a irrigação sanguínea do cérebro também podem estar envolvidas no desenvolvimento do sintoma de tontura. “Geralmente é acompanhada de fraqueza, escurecimento da visão e sensação de desmaio iminente. Quando ocorre de forma breve, após realizar movimentos bruscos, se levantar após um tempo deitado, ou em atividades físicas vigorosas, geralmente se deve a uma queda de pressão (tontura ortostática)”, diz a médica. Algumas pessoas experimentam esse tipo de tontura no “leg-day” (treino de pernas) na academia, em virtude de os músculos da perna requererem um maior fluxo sanguíneo enquanto são estimulados, o que diminui a circulação sanguínea na cabeça. “Também pode se apresentar como efeito colateral de medicamentos ou desidratação. Episódios frequentes ou que envolvem desmaios, porém, merecem investigação, pois podem indicar problemas de saúde importantes, como arritmias, insuficiência cardíaca,  isautonomias ligadas a doenças como o diabetes”, destaca a especialista.

Tontura de ordem emocional (ou psicológica)

Também não é incomum a tontura associada a fatores emocionais ou psicológicos. “Alterações neuroquímicas observadas em pacientes com algum tipo de transtorno de humor podem gerar sensações de tontura associadas à ansiedade, por exemplo. É importante observar se os episódios surgem em momentos de maior sensibilidade ou estresse, e se vêm associados a tremores, palpitações, aperto no peito, nó na garganta e sudorese excessiva, que podem sinalizar crises de pânico. Vale analisar também se há algum gatilho aparente para as crises, como um determinado tipo de ambiente ou situação social”, diz a médica. “É preciso ter cautela, porém, ao correlacionarmos a tontura às emoções. Na maior parte dos casos, alterações psicológicas ou psiquiátricas funcionam como gatilhos ou surgem em consequência da experiência do paciente ao sofrer com os sintomas e limitações impostas pela tontura”, complementa Nathália Prudencio.

A médica também enfatiza que há interações entre o padrão alimentar e a tontura. “Deficiências de vitaminas do complexo B podem ser causa de tontura, uma anemia por deficiência de ferro pode causar fraqueza e o paciente referir esse sintoma como uma certa tontura, por exemplo. É importante destacar que jejuns prolongados, consumo excessivo de alimentos ricos em açúcar refinado, esquecer de beber água, abusar de substâncias estimulantes como o café também podem piorara a tontura.”

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Além disso, existe um quadro conhecido como cinetose, quando há uma sensação de enjoo, vômitos, dores de cabeça e até tonturas com a movimentação passiva e ocorre geralmente em viagens de carro, de navio e, em menor frequência, de avião. “Nesse caso, o nosso sistema do equilíbrio funciona de forma integrada recebendo, em conjunto e a todo momento, informações do nosso labirinto, da nossa visão e propriocepção. Quando essas informações convergem para o nosso cérebro de forma diferente (ou seja, informando de forma conflituosa se estamos parados ou em movimento), os sintomas da cinetose aparecem”, explica a médica.

Como é feito o tratamento da tontura?

Para o diagnóstico da tontura, a história contada pelo paciente no consultório é o mais importante. “Como diversas disfunções e doenças podem trazer a tontura como sintoma, para cada causa existem recursos e procedimentos específicos, além de indicações personalizadas para o paciente. Podemos prescrever medicações para tratar a doença de base, corrigir deficiências nutricionais, dar orientações quanto ao consumo de alimentos e bebidas. Mas o mais importante é buscar ajuda de um otoneurologista para diagnosticar corretamente”, recomenda a médica.