Laura estava com casamento marcado para setembro deste ano e queria emagrecer para a cerimônia -  (crédito: Arquivo Pessoal)

Laura estava com casamento marcado para setembro deste ano e queria emagrecer para a cerimônia

crédito: Arquivo Pessoal

A engenheira Laura Fernandes Costa, de 31 anos, morreu na última terça-feira (7/05) devido a uma infecção generalizada causada por uma perfuração no estômago. A família acredita que se trata de uma complicação de uma cirurgia para colocação de um balão intragástrico. Laura queria emagrecer para o seu casamento, marcado para o dia 7 de setembro deste ano, e por isso optou pela operação. O procedimento ocorreu em uma clínica na região do Barreiro no dia 26 de abril.

A técnica

O balão intragástrico é uma técnica usada para auxiliar no emagrecimento. Consiste na colocação de um balão no interior do estômago para ocupar espaço e levar a pessoa a ter uma saciedade precoce, facilitando a perda de peso. O paciente diminui a quantidade de alimento ingerido. A colocação é rápida, simples e feita com sedação. Não é preciso que o paciente fique internado.

 

Na preparação pré-cirúrgica, é administrado um medicamento para induzir um sono leve para diminuir a ansiedade e facilitar o procedimento. Em seguida, o aparelho de endoscopia é introduzido pela boca até o estômago. O instrumento leva uma microcâmera e permite observar o interior do estômago. O balão é introduzido pela boca ainda vazio e preenchido quando chega ao seu destino com soro e um líquido azul, que serve para tornar a urina ou fezes azuis ou esverdeadas caso o balão se rompa.

A princípio, como se trata de um procedimento que não precisa de cortes, a colocação do balão no estômago, quando feita adequadamente, não tem risco de causar alterações nos órgãos. É realizada de maneira similar a qualquer exame de rotina para o acompanhamento do estômago, e também pode ser esvaziado e removido com facilidade.

 

A presença do balão no organismo também "engana" o cérebro - o corpo transmite informações de que o indivíduo está saciado, ainda que não tenha se alimentado, o que otimiza o controle de peso. Em seis meses de uso, normalmente leva os pacientes a uma perda de cerca de 15% do peso, sem necessidade de procedimentos mais invasivos. O dispositivo fica de seis meses a um ano dentro do estômago da pessoa. Nesse período, é recomendado que o paciente siga à risca uma prescrição de dieta e as orientações direcionadas a atividade física.

De forma geral, o balão intragástrico é indicado para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 27kg/m2 e com doenças associadas como pressão alta ou diabetes, por exemplo. Nos Estados Unidos, é direcionado principalmente para pacientes com IMC maior que 30kg/m2 ou 27kg/m2 na Europa, considerando indivíduos que não tiveram sucesso com mudanças de estilo de vida.

 

Pode também ser prescrito para pacientes com obesidade leve - IMC menor que 35 kg/m2, não diabéticos. Ou seja, pacientes sem recomendação de cirurgia bariátrica e que não apresentaram boa resposta ao tratamento clínico à base de dietas e medicações, uma indicação frequente para esse tipo de tratamento.

Entenda o caso

Laura sentiu os primeiros sintomas no dia seguinte à cirurgia. No dia 30 de abril, entrou em contato com o médico responsável, Mauro Lúcio Jácome, para realizar a retirada do balão na mesma clínica onde foi atendida anteriormente, mas não encontrou o profissional. Em 1º de maio, voltou a procurá-lo em outra unidade da Clínica Cronos, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, também sem êxito. A retirada do balão só veio a ocorrer no dia 2 de maio, na Savassi.

 

“A gente tem a informação que a família procurou o médico responsável pela cirurgia e, ao que parece, ele não tomou o cuidado e não deu a atenção devida para a paciente até então”, disse Lucimar Silveira Santos, advogado responsável pelo caso.

 

No entanto, a engenheira continuou a passar mal e, em 6 de maio, foi levada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Lima, na Grande BH. Durante o atendimento, foi encontrada uma perfuração no estômago, que acusou o vazamento de fezes para o organismo e resultou em uma infecção generalizada. Ela morreu no dia seguinte.

 

“A princípio estamos conduzindo o caso com muita cautela, para entender o que aconteceu. Vamos esperar as investigações avançarem e, se for constatado o erro médico, a defesa irá ajuizar a ação cabível para buscar reparação dos danos”, complementou o advogado. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias e a causa da morte de Laura.

 

Em nota, a Clínica Cronos, da qual o médico Mauro Lúcio Jácome é sócio, afirmou que se solidariza com a dor da família, mas que a paciente foi liberada sem sintomas logo após a cirurgia e que não retornou no dia seguinte como estaria agendado. "O procedimento ocorreu sem qualquer intercorrência, sendo a paciente liberada com acompanhante, sem sintomas, com agendamento de retorno para o dia seguinte, para fins de acompanhamento, mas sem comparecimento da paciente. A paciente não atendeu aos chamados da clínica para retorno", diz a nota. "A Clínica e os seus profissionais estão à disposição da família ou autoridades para prestar todo esclarecimento e apresentar toda documentação necessária, a fim de comprovar a inexistência de erro médico."

*Com informações de Izabella Caixeta