São mais de 200 tipos de dor de cabeça mapeados pela medicina, mas a maioria das pessoas não tem informações sobre como lidar com o incômodo, e abusam da automedicação para se livrar do mal que chega a acometer, ao longo da vida, 94% dos homens e 99% das mulheres, segundo pesquisa divulgada no Congresso 2023 da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). Neste Maio Bordô, quando a SBC faz uma campanha de conscientização no Brasil sobre as cefaleias e sinais de alerta em que a população deve procurar ajuda médica, o mote é “Três é demais” – quando a ingestão de mais de três analgésicos em uma semana é considerada abusiva.
“Os médicos não recomendam a automedicação e o alerta é neste sentido: se tomou mais de três comprimidos na semana, é preciso acender o alerta sobre algo no organismo que não está bem. Para se ter ideia do impacto das dores de cabeça na vida das pessoas, elas são o quarto motivo mais frequente de consulta em pronto-atendimentos hospitalares. As cefaleias impactam a rotina da pessoa, a memória, a atenção, a produtividade no trabalho e merece atenção especializada”, diz a médica, neurologista do corpo clínico da Rede Mater Dei de Saúde, unidade Santo Agostinho, em Belo Horizonte, Deborah Dayane Cordeiro Martins.
Conscientizar as pessoas sobre quando a dor de cabeça é aquela já conhecida ou merece uma atenção maior é o objetivo do Maio Bordô. Segundo explica a médica, as mais de 200 cefaleias estão distribuídas em dois grandes grupos: a cefaleia primária, cuja origem é do próprio sistema de dor; e a cefaleia secundária, ligada a outros fatores, como uma pancada na cabeça, sangramento, tumor ou acidente vascular cerebral (AVC).
Cefaleias primárias
Conforme Deborah Martins, no grupo de cefaleia primária, em que estão as enxaquecas e as cefaleias tensionais, a pessoa já conhece a dor. Ela geralmente é semelhante durante os episódios. “Nesses casos, a dor pode surgir após gatilhos, como tensão, estresse, preocupação, excesso de trabalho, falta de ingestão de água. A cefaleia tensional pode durar até uma semana, todos os dias, mas sua dor é mais constante”, diz.
Enxaquecas
Aqueles que sofrem de enxaqueca geralmente têm uma predisposição genética para a condição. As dores podem ser mais intensas do que as associadas à cefaleia tensional, caracterizando-se por uma sensação pulsante na região frontal, ao redor dos olhos e nas têmporas.“Barulho e movimentos como caminhar e subir escadas incomodam. Há pessoas com enxaqueca que têm vômito, não toleram movimentos do carro e têm fobia à luz forte. Lembro que as dores de cabeça primária também podem aparecer após a ingestão de alimentos proalgésicos, que alteram o sistema de inflamação do corpo, causando dor: geralmente são doces, café, refrigerantes, alimentos ultraprocessados e chás com cafeína. A cafeína pode atuar como neutralizadora da dor, em alguns casos, mas a gente sempre abusa de cafezinhos ao longo do dia, o que em alguns pacientes pode piorar o quadro”, esclarece a neurologista.
A enxaqueca geralmente tem duração de 4h a 72h, dependendo de cada pessoa. Muitos pacientes precisam parar de fazer tudo, ir para um quarto escuro até a dor passar. “A diferença da enxaqueca para a cefaleia tensional é que ela tem bases orgânicas complexas, pois mexe com várias estruturas cerebrais. Uma crise pode ser desencadeada pelos gatilhos mais gerais e também por cheiros fortes, como perfumes, ficar muito tempo no sol, enfim, ela é multifatorial”, acrescenta Deborah.
Quando a dor muda do padrão
O alerta dos neurologistas para dores de cabeça é quando o padrão da dor mudar. De acordo com a médica, esses episódios podem indicar a cefaleia secundária, que pode ser sinal de algo mais grave, como um aneurisma, tumor ou AVC. Segundo ela, nem toda dor de cabeça é tensional, nem toda dor é enxaqueca.
“Quando sua dor de cabeça mudar de padrão do que você está habituado, o ideal é procurar um médico, que fará a avaliação clínica e pode solicitar exames de imagem. Essa mudança de padrão é quando a pessoa tem a sensação de pior dor da vida, tem um episódio de dor que a acorda no meio da noite e ela percebe que mudou da dor que conhecia. Todo mundo que tem dor de cabeça frequente, mesmo a dor já conhecida, deve procurar um especialista para esclarecer a origem dessa dor e adotar hábitos para evitá-la”, esclarece Deborah.
Na maioria das vezes, as cefaleias são tratadas por neurologistas, que podem acionar especialistas de áreas multidisciplinares, como a medicina do sono e a cardiologia, pois uma dor de cabeça pode ser reflexo de uma pressão arterial descontrolada, por exemplo. “Tratamentos, que não são apenas medicamentosos, devem passar pelo cuidado com o sono, a alimentação, atividade física, ingestão de líquidos. Além disso, indicamos tratamentos adjuvantes, como acupuntura, alongamento, psicoterapia, mindfulness para melhorar o quadro geral do(a) paciente”, complementa a neurologista.