Uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiofarmacêutica (INCT-Nanobiofar) pode representar um novo avanço no tratamento da pressão alta, uma doença que afeta hoje aproximadamente 40% da população brasileira. Liderados pelo professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Robson Santos, e coordenador do instituto, os cientistas identificaram um novo componente do sistema renina-angiotensina (SRA), um dos principais pontos de ataque para o tratamento da hipertensão arterial. Batizado de Alamandina-(1-5), o novo peptídeo, que é um fragmento de proteína, integra o complexo mecanismo bioquímico de regulação arterial e pode abrir novas possibilidades de exploração para o controle da hipertensão.

Segundo Robson Santos, o novo peptídeo apresentou um importante efeito anti-hipertensivo associado pelo menos em parte a uma ação no coração (redução da quantidade de sangue ejetada na circulação por minuto -  débito cardíaco). Em pacientes com doença renal crônica (síndrome nefrótica) foi detectado um aumento de até 800% na concentração do peptídeo no plasma.





A descoberta só foi possível graças a um esforço conjunto de diferentes grupos de pesquisa que integram o INCT-Nanobiofar. Os pesquisadores utilizaram métodos sofisticados e de alta tecnologia (espectrometria de massa), disponível em poucos laboratórios no mundo, além de ferramentas de genética, biologia molecular, proteômica fisiologia, farmacologia e bioquímica. "Esse novo componente, a Alamandina-(1-5), está presente na circulação humana e tem vários efeitos vasculares e cardíacos que sugerem um papel significativo na modulação das ações fisiológicas do sistema cardiovascular", descreve Robson Santos.

Leia: Por que AstraZeneca decidiu 'aposentar' sua vacina contra covid, após 3 bilhões de doses

O sistema renina-angiotensina possui dois eixos principais: um clássico, que é alvo dos principais medicamentos anti-hipertensivos, e um eixo protetor, que antagoniza as ações do eixo clássico. Quando ativado inadequadamente, resulta em aumento da pressão arterial e várias complicações, incluindo aumento do risco de doenças como aterosclerose, cardiomiopatia, AVC e nefropatia. As ações do SRA são mediadas por pequenos fragmentos de proteína, as angiotensinas, sendo a angiotensina II o principal mediador do eixo clássico e a angiotensina-(1-7) o principal mediador do eixo protetor.

Pioneirismo

Na década de 1980, durante o pós-doutorado na Cleveland Clinic Foundation, em Ohio, Estados Unidos, Robson Santos e outros pesquisadores identificaram no sangue uma forma de Angiotensina – a Angiotensina 1-7, um dos integrantes do sistema renina-angiotensina – que fazia a musculatura dos vasos relaxar e a pressão arterial diminuir em animas espontaneamente hipertensos. Sob situações de estresse psicológico ou condições que alteram a concentração de sais ou o volume de líquido no sangue (como diarreia e hemorragia), os rins iniciam a produção de uma enzima chamada renina, que aciona a produção em cascata de algumas formas de angiotensina capazes de fazer a pressão subir. Quando é ativado ocasionalmente, esse mecanismo é essencial para manter a saúde do organismo, mas se torna danoso se a ativação for contínua.

Em 2008, o grupo de pesquisas liderado por Robson Santos descobriu mais um peptídeo, a Alamandina, cujo estudo foi publicado na revista Circulation Research, uma das mais bem conceituadas na área cardiovascular.

A descoberta do novo peptídeo Alamandina-(1-5) marca um importante passo no entendimento do sistema renina-angiotensina. Ao integrar-se ao complexo sistema renina-angiotensina, este fragmento de proteína pode abrir portas para novas abordagens terapêuticas relacionadas à lesão de órgãos alvo (rim, vasos, cérebro, coração) decorrentes da hipertensão arterial.

compartilhe