A vida passa a ter um novo sentido com o nascimento de um filho, principalmente para a mulher. Elas descobrem o amor incondicional, a ponto de dar a própria vida pelo bebê que acabou de chegar. Contudo, criar filhos passa longe de ser uma tarefa fácil. Na verdade, o processo muitas vezes pode ser solitário, apesar da rede de apoio ao lado. Isso porque, devido ao discurso ideológico que coloca a mulher no centro de responsabilidade do cuidado com os filhos, essas mães se sentem culpadas por não alcançarem a meta da maternidade “perfeita”, as sujeitando a doenças psicológicas como depressão, burnout materno, baixa autoestima e outros.
Além de comentários negativos que podem surgir até mesmo de familiares, as mães ainda são bombardeadas com conteúdos nas redes sociais que ecoam essa visão. Se elas priorizam o auto cuidado e sua felicidade, por exemplo, são acusadas de serem mães narcisistas e desleixadas, mas que na verdade não fazem nada muito além do que um pai comum faria, que é o equilíbrio entre a maternidade, vida profissional e pessoal, sem se sentir culpadas.
De acordo com a especialista em ciência da felicidade, Denize Savi, a maioria das mães já sentiu culpa em algum momento. Ela aponta que as mães, muitas vezes, sentem mais essa culpa do que os pais, por causa do que a sociedade espera delas. “Muitas mães se sentem culpadas por não conseguirem atender a todas as demandas e expectativas que a sociedade e elas mesmas impõem. É quase como se a culpa fosse uma sombra que acompanha a maternidade”, avalia.
Além desse sentimento, 95% das mães se sentem desvalorizadas e "invisíveis". Segundo uma pesquisa recente feita pelo aplicativo Peanut, nos Estados Unidos e no Reino Unido, o sentimento de falta de reconhecimento é quase unânime entre todas que já tiveram filhos. Das 3615 mulheres que participaram da pesquisa, 95% dizem se sentir desprestigiadas e "invisíveis" na sociedade. Quando questionadas sobre quem mais as faz se sentir invisíveis, a família (70%), os amigos (62%) e o parceiro (53%) ocupam os primeiros lugares do ranking.
“Infelizmente isso é algo que aparece antes mesmo de o bebê nascer. Quando a mulher engravida, já percebe a mudança social. O foco deixa de ser ela e passa a ser a criança. Ninguém pergunta mais como ela se sente, tudo é sobre o bebê. E aí começa esse sentimento de invisibilidade", complementa Denize Savi.
A especialista ainda reforça que, como a sociedade atribui desproporcionalmente às mulheres a responsabilidade das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos, as mães sentem que ficam em segundo plano, mas que esse quadro deve ser revertido. “Por mais difícil que seja, o melhor a se fazer é tentar não se esquecer do que te fazia bem e feliz antes da maternidade. Por esse motivo, é preciso entender que, para ser mãe, a gente não precisa excluir todos os nossos outros papéis sociais. A terapia, para quem tem condições, pode ajudar muito nesse processo. Buscar grupos de apoio nas redes sociais, para que você possa dividir o que sente, também é uma boa", defende a especialista.
Segundo Denize Savi, além da terapia, existem algumas ferramentas valiosas que tornam a maternidade mais leve e saudável e ajudam a empoderar as mulheres a cuidar de si mesmas, sentirem-se felizes e conseguirem diminuir essa pressão:
Ter expectativas realistas
Reconhecer que a maternidade é uma jornada cheia de altos e baixos e que nem sempre será possível fazer tudo é fundamental. Por esse motivo, evite comparar-se a outras mães nas redes sociais ou em outras situações. A solução é focar em pequenas conquistas diárias, ao invés de se concentrar apenas nos desafios, ser gentil consigo mesma, lembrando que todos cometem erros e que é importante aprender com eles e que você está fazendo o melhor.
Estabelecer limites
Muitas mães sentem que precisam dizer “sim” a tudo, mas isso pode levar a uma sobrecarga de tarefas e responsabilidades. Aprender a dizer “não” pode ser difícil, mas é importante para preservar a saúde e a sanidade mental.
Priorizar o auto cuidado
O auto cuidado é fundamental para o bem-estar físico e emocional de uma mãe. A maioria das mães tem pouco tempo para si mesmas, mas é importante reservar um tempo para cuidar de sua própria saúde e felicidade. Isso pode incluir exercícios físicos, meditação, leitura, cuidados com a pele, etc. É importante lembrar que, cuidando de si mesma, a mãe também cuida do bem-estar de seus filhos.
Pedir ajuda
Muitas mães sentem que precisam fazer tudo sozinhas, mas isso pode ser extremamente cansativo e estressante. É importante pedir ajuda sempre que necessário e não pensar que isso significa que você não deu conta. Isso pode incluir pedir ajuda de familiares, amigos ou até mesmo contratar uma babá ou uma faxineira.
Conectar-se com outras mulheres
Manter um contato constante com outras mães ou até com amigas que não sejam mães pode ser uma ótima forma de tornar a maternidade mais leve. Afinal, falar com outras pessoas, falar com outras mães, pode ajudar a lidar com as dificuldades da maternidade e a encontrar apoio e fazer trocas úteis ou bater um papo com amigas que são ótimas para lembrar o quanto você é especial.