A indústria farmacêutica movimentou R$190 bilhões em 2023, de acordo a consultoria Redirection International. Com tanto dinheiro circulando, fica difícil imaginar a vida sem uma dipirona para aliviar aquela enxaqueca, ou o sal de frutas quando a comida não bate bem no estômago - mas é possível. A revista científica Nature publicou ensaios clínicos que mostram os benefícios de seguir uma dieta para a manutenção da saúde e evitar o aparecimento de algumas doenças.
O médico com foco em emagrecimento, rejuvenescimento, longevidade e vida saudável, Cristiano Merheb, refere-se ao ser humano como uma máquina que vive dando problema. “O nosso organismo é como uma máquina impecável, mas não infalível. Se você tratar mal, vai desenvolver problemas. Muitas pessoas sofrem com os resultados do mau uso desta máquina. Eles podem ser corrigidos na causa ou mascarados e tratados como consequências. Tratar a essência é ter uma rotina alimentar balanceada, composta por carnes, vitaminas, minerais, fibras, verduras, frutas e vegetais. Já as consequências podem ser mascaradas por remédios, que não curam”, explica.
Sabe-se que uma dieta pouco saudável e de qualidade inferior aumenta o risco de obesidade, doença coronária e a diabetes tipo 2, por exemplo, e aí é que entram os remédios para tratá-las, mas vale lembrar que eles não resolvem a causa desses problemas. De acordo com o Global Burden of Disease Study 2017, cerca de 11 milhões de mortes foram atribuídas a fatores de riscos alimentares entre 1990 e 2017, como o alto consumo de sódio e a baixa ingestão de grãos integrais, frutas e vegetais.
Para o especialista, essa busca por fármacos faz com que a medicina corra o risco de se transformar em uma ciência que administra a doença, mas não providencia a saúde. “Ao meu ver, se usa muito mais medicamentos do que deveria. Médicos que lançam mão de remédios estão tratando somente o exame de sangue, não o paciente. Quanto mais fármacos uma pessoa ingere, mais doente ela está”, afirma.
De acordo com Cristiano Merheb, é preciso enxergar o paciente como um todo e, a partir da alimentação adequada, garantir biologicamente a manutenção da saúde a longo prazo. “Não tem nada a ver com remédios ou com a redução de calorias, mas sim com um tratamento metabólico que possa corrigir o desequilíbrio alimentar. As pessoas precisam saber o que é comida de verdade. O industrializado e o refinado não servem para nada”, pontua.
O médico acredita que é completamente possível, na maioria dos casos, viver sem o uso de medicamentos. “Se ao longo do caminho você desenvolver algum problema, provavelmente será genético, mas isso acontece com uma minoria absoluta. Ou você anda pelo caminho da saúde, com um estilo de vida adequado e saudável, ou você anda pelo caminho da doença. A vida sem remédios é muito mais simples, desde que você tenha um bom equilíbrio psicológico, bons hábitos de vida e se alimentar bem, com comida de verdade, sem restrição de calorias”, afirma.
As diferenças culturais, a disponibilidade de alimentos e as restrições financeiras também colocam desafios à implementação de uma dieta balanceada, uma vez que os alimentos processados são muitas vezes mais acessíveis do que as alternativas saudáveis, por não serem alimentos de verdade. É possível argumentar que os governos deveriam restringir o acesso a calorias baratas. E só as políticas governamentais são capazes de mudar essa cultura.