"Tenho leucemia linfocítica crônica (LLC), que é uma doença que não tem cura", contou a atriz Susana Vieira, de 81 anos, em entrevista concedida ao Fantástico no último domingo (19). "E eu tenho outra doença de sangue, que se chama anemia hemolítica autoimune. É óbvio que, à medida que você vai ficando com mais idade, você fica preocupada", complementou.


Mais comum em idosos, a partir dos 60 anos, a LLC é uma neoplasia maligna das células linfócitas B, as quais sofrem uma mutação e se acumulam principalmente na medula óssea e nos tecidos linfóides (baços e outros locais do organismo). Com o passar do tempo, os pacientes com essa doença têm uma deficiência na defesa do organismo contra infecções. “Isso se deve ao fato de que essas células doentes acabam não produzindo as imunoglobulinas necessárias ao perfeito funcionamento do sistema imune”, explica o hematologista Gustavo Henrique Romani Magalhães.

 

Incurável


Como levantado pela atriz durante a entrevista, “a doença não tem cura e não adianta fazer transplante de medula”. Dessa forma, seu tratamento foca em colocar o paciente em remissão, ou seja, em um estado em que os sintomas da doença estejam controlados.

 



 

“No entanto, a gente sabe que em algum momento ela [a LLC] vai retornar à atividade, momento em que se inicia um novo tratamento para controlá-la novamente. Muitas vezes esses pacientes ficam com essa doença em remissão por mais de dez anos”, relata Gustavo.


Susana Vieira descobriu a leucemia linfocítica crônica por acaso, em um exame pré-operatório, em 2015, para retirada de varizes, quando o exame de sangue apresentou algumas alterações. O episódio não é incomum em pacientes com LLC, sendo que a grande maioria recebe o diagnóstico com espanto.


Isso se dá, como revela Gustavo, pois normalmente essa leucemia tem crescimento lento, atrasando o tempo de diagnóstico da doença e fazendo com que passe despercebida. “Muitas vezes essas pessoas têm seus diagnósticos confirmados quando fazem algum hemograma, por algum motivo, e acabam descobrindo essas células da leucemia”, complementa.


O diagnóstico também pode ser feito com base na observação de sintomas clínicos, histórico médico do paciente e exames de sangue, como hemograma e imunofenotipagem de sangue periférico. "Esses exames confirmam a doença e, daí, o médico define se há necessidade ou não de tratamento”, diz Gustavo.


No momento em que o paciente começa a apresentar sintomas, estes podem ser discretos, como:


  • Fadiga
  • Cansaço
  • Algumas dores no corpo
  • Episódios de sangramento


Já quando a doença está mais avançada, pode haver envolvimento de outros órgãos, por exemplo, o crescimento dos linfonodos em toda parte do corpo, chamado de adenomegalias. “A pessoa percebe esse crescimento na região do pescoço, debaixo dos braços, na região inguinal (da virilha). Pode haver aumento do tamanho do baço também. Isso tudo pode fazer com que o paciente leve esses sinais ao médico à procura de assistência”, detalha o hematologista.


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Ainda que a doença seja diagnosticável, pesquisadores ainda desconhecem a causa das mutações que fazem com que as células se tornem malignas. O que se sabe é que pessoas que têm maior contato com radiação, herbicidas ou derivados do petróleo têm um risco aumentado. "E não somente isso, a gente imagina que existam características genéticas que predispõem um pouco mais a esse tipo de doença. Então imagina-se que seja um conjunto de fatores que levam a essa doença - tanto fatores genéticos quanto fatores ambientais", esclarece Gustavo.


AHA


Além da LLC, a atriz também informou que trata de outra doença: a anemia hemolítica autoimune. O hematologista explica que há um distúrbio imunológico causado pela leucemia crônica, em que os próprios anticorpos têm um defeito e começam a destruir as próprias células vermelhas - as hemácias do sangue. "Podemos considerar uma doença secundária à LLC, e ela pode estar mais associada à presença da leucemia".


Em razão da delicadeza de ambas as doenças, Gustavo recomenda que o paciente adote hábitos que evitem colocar em risco o sistema de defesa do corpo, já que o indivíduo está à mercê de bactérias e infecções virais. "Dessa forma, existe a orientação para que a pessoa evite alimentos crus, mal cozidos e de procedência duvidosa. Então, geralmente orientamos os pacientes a consumir alimentos de boa procedência, bem passados ou cozidos, e a evitar comer verduras sem os cuidados ideais de higiene", orienta.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie. 

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