SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em 2024, enquanto o país vive uma epidemia de dengue, o Brasil ainda registra mais mortes por Covid do que pela doença transmitida por mosquito.

 

Foram 3.567 óbitos por COVID de 1º de janeiro até a semana epidemiológica 20, encerrada em 18 de maio, contra 2.899 pela arbovirose. Os dados são da Plataforma Coronavírus do Ministério da Saúde e do informe semanal de arboviroses da pasta.

 



 

A maior quantidade de mortes por COVID aconteceu até as 12 primeiras semanas, quando a média foi de 217 mortes notificadas por semana pela doença. A partir da 13ª semana epidemiológica, que teve início no dia 24 de março, a média caiu para 119 mortes por semana.

 

"Na realidade, a COVID nunca deixou de matar. Então considero que não há uma alta, mas uma estabilidade nos últimos anos. Continua sendo uma doença que ainda atinge muitos brasileiros", diz a infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Rosana Richtmann.

 

 

A redução mais recente da circulação do Sars-CoV-2 gerou uma diminuição de casos e mortes nas últimas semanas, o que faz parte do ciclo do vírus, segundo Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

 

"Menos casos geram menos internações e, proporcionalmente, menos mortes. Mas a gente sabe que o vírus tem esse ritmo. No início do ano, a circulação estava intensa. Agora, diminuiu um pouco, depois voltou. Os ciclos de maior circulação coincidem com [o surgimento de] novas variantes e ocorrem a cada 4 a 6 meses", afirma.

 

Para ela, a alta mortalidade tem relação com a falta de atualização da situação vacinal das pessoas. "Muitos desses óbitos se relacionam a idosos e crianças, e a parcela maior é a dos não vacinados ou com vacinação incompleta", acrescenta.

 

A previsão, no entanto, é que a mortalidade por dengue ainda ultrapasse a quantidade de mortes por Covid, considerando óbitos em análises e a possibilidade de uma nova epidemia de dengue no fim deste ano.

 

 

"É provável que tenhamos uma nova epidemia, então é urgente que medidas educativas sejam tomadas desde já. Provavelmente teremos em 2025 circulação ainda maior de dengue do tipo 3 e 4", afirma Stucchi.

 

O vírus da dengue possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais. Os tipos que mais circulam no Brasil hoje são os 1 e 2, mas há uma circulação maior do tipo 3 na América do Norte e mesmo na América Latina.

 

Em abril, o governo do Rio de Janeiro confirmou dois casos de dengue tipo 3. Segundo a secretaria de Saúde, esse sorotipo da doença não circulava no estado desde 2007.

 

"Se o tipo 3 ganhar força aqui no Brasil, vai encontrar uma população suscetível, ou seja, sem anticorpos específicos contra ele. Então é sempre uma preocupação para nós o que pode acontecer a partir do final deste ano", diz Richtman.

 

 

O clima mais quente é favorável ao mosquito transmissor Aedes aegypti e, por isso, há uma maior preocupação com a proximidade do verão. No momento, 24 estados e o Distrito Federal apresentam queda nos casos de dengue, segundo anúncio do Ministério da Saúde do último dia 14 de maio. Maranhão e Mato Grosso são os únicos estados que apresentaram estabilidade, ao invés de queda.

 

Até essa segunda-feira (27), o Brasil registrou 5.408.336 casos prováveis e 3.086 mortes pela doença.

 

VACINAÇÃO

 

Hoje, na rede pública, a vacinação contra a dengue é distribuída para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, devido a baixa quantidade de doses disponibilizadas pela farmacêutica Takeda.

 

O Ministério da Saúde já adquiriu todo o estoque disponível de vacinas contra a dengue para 2024 e 2025. Até o final deste ano, o Brasil receberá 5,2 milhões de doses, além da doação de 1,3 milhão de doses, o que permitirá a vacinação de 3,2 milhões de pessoas com as duas doses que completam o esquema vacinal.

 

Uma vacina contra a dengue do Instituto Butantan também deverá ser disponibilizada ao país nos próximos anos. A expectativa do instituto é que a fase final de estudos, bem como a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), seja finalizada até 2025.

 

Já a imunização contra a COVID é reservada para os grupos prioritários - crianças entre 6 meses a 4 anos, gestantes, puérperas, imunocomprometidos e idosos -  e as doses estão disponíveis nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais).

 

Na primeira quinzena de maio, o Brasil recebeu 9,5 milhões de doses da vacina atualizada contra a variante XBB.1.5 para o início de uma nova campanha vacinal.

 

Em circulação no Brasil desde novembro do ano passado, a variante carrega uma mutação que torna a ligação com as células humanas mais eficiente, fazendo com que a replicação seja mais veloz. De acordo com a pasta, a XBB 1.5. é responsável por 31% dos casos de COVID registrados nos últimos meses no Brasil ?ficando atrás apenas da JN.1 (53%), também sublinhagem da ômicron.

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