Da dieta aos exercícios e controle do estresse, mudar os hábitos é fundamental para uma pele sadia -  (crédito: Freepik)

Da dieta aos exercícios e controle do estresse, mudar os hábitos é fundamental para uma pele sadia

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De repente você olha para o espelho e vê uma pessoa envelhecida: de onde vieram essas rugas? E essas bolsas sob os olhos que não estavam aqui ontem? “Calma, pode haver razão para um envelhecimento mais rápido. Situações inflamatórias, quando há aumento súbito de radicais livres como infecções, estresse emocional, luto ou doenças, podem refletir de maneira rápida na pele. Ou nada disso e simplesmente envelhecemos”, explica a cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Beatriz Lassance.

“A primeira coisa a se fazer é conversar com essa pessoa do espelho. Há quanto tempo você não se olha desta forma? Será que a vida anda corrida demais, problemas demais? Será que há tempos você não reserva um período para um autocuidado, um hidratante, filtro solar pela manhã? Tem tomado água?”, questiona Beatriz. A médica dá algumas explicações e aponta soluções.

 


Alimentação


O primeiro ponto para entender um envelhecimento mais rápido é olhar para o hábito de vida, principalmente com relação à dieta. “Carboidratos simples como açúcar são rapidamente digeridos e absorvidos chegando em forma de glicose no sangue, que é o que chamamos de glicemia. São os carboidratos com alto índice glicêmico. A glicose tem de ser removida imediatamente do sangue, pois não pode alterar de jeito nenhum o sangue. E começa uma grande operação de guerra para resolver isso. Nos picos de glicemia alta, mesmo que por pouco tempo, a reação do organismo contra esta glicose é tão poderosa que, além desta via normal de diminuir a glicemia, as enzimas, que não são as habituais, são requisitadas para ajudar no processo, o que gera produção de radicais livres. Muitos deles. Na pele, o excesso de radicais livres pode danificar o DNA das células provocando menor atividade celular, menor produção de colágeno e fibras elásticas, menor atividade de células de defesa, menor poder de cicatrização, e até tendência maior a câncer de pele”, explica a médica.

 

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E ainda, se tudo isso não for suficiente, a glicose reage com proteínas do organismo que é a chamada glicação, segundo a especialista. “A glicação das proteínas é piorada pela presença dos radicais livres em excesso. A glicose pode ‘grudar’ na hemoglobina (hemoglobina glicada do seu último checkup), na gordura, no DNA e também no nosso querido colágeno. A curto prazo estes efeitos são bem perceptíveis. Após um final de semana de comilança, do tipo pé-na-jaca, ingestão de bebidas alcoólicas e muito doce, acordamos inchados, com bolsas sob os olhos e até alguns quilos a mais”, diz a médica.


Fatores externos  

Na pele, além de fatores endógenos como aumento de radicais livres e glicação, há fatores externos. O maior vilão, nesse sentido, é o sol. Beatriz explica que a pele exposta ao sol sofre um aumento súbito da quantidade de radicais livres, que têm a função de provocar defesas contra o efeito dessa radiação, como espessamento da derme, aumento da produção de melanina (pigmento que impede os raios solares de penetrar na pele), glicação, perda da elasticidade da pele, representados como rugas, manchas e flacidez. “É o chamado fotoenvelhecimento. O estresse oxidativo é tão grande que danifica o DNA e favorece o aparecimento de câncer de pele”, diz a médica.

Tabagismo

“O cigarro diminui a circulação sanguínea de vasos pequenos da pele, além disso, na fumaça do cigarro foram encontradas proteínas glicadas que vão diretamente para a circulação sanguínea e refletem diretamente na pele”, enfatiza a médica.

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Estresse

O estresse psicológico está ligado a aumento de estresse oxidativo: ele aumenta a produção de cortisol. “Esse hormônio tipo sinal de alerta está ligado a uma maior produção de radicais livres e uma diminuição da produção do sistema antioxidante. Esse ‘inflama’ e ‘desinflama’, ‘incha’ e ‘desincha’ compromete fibras da pele, gera um efeito cumulativo de radicais livres e glicação de colágeno e fibras elásticas e predispõe a flacidez e envelhecimento”, diz a especialista.


O que fazer?


“A primeira medida é respirar, olhar-se com carinho, como se fosse uma amiga sua no espelho. Autocompaixão é a palavra. A somatória de fatores pode diminuir o estresse oxidativo no organismo todo e inclusive na pele”, diz a médica. “Quanto à alimentação, passe a se preocupar com o que come. Pesquisar o índice glicêmico dos alimentos é fácil, várias informações estão disponíveis na internet. Fuja de alimentos com alto índice glicêmico como açúcar refinado, farinha branca, álcool. E, sorrindo, faça escolhas saudáveis e gostosas. Mudanças pequenas podem fazer grande diferença”, completa. “Pedir ajuda para uma nutricionista é um ótimo começo. Uma tendência em que acredito hoje é a nutrição comportamental, que fala de comida, de prazer em comer, de consciência ao comer”, explica.


Para desinchar, a médica diz que o melhor a fazer é beber muita água. “Tomar diurético não ajuda em nada, sobrecarrega os rins, pois o corpo precisa deste excesso de água para ‘desinflamar’”, diz.


Outra ação que ajuda é a prática de exercício físico. “Entenda também que ele é o maior estimulante do nosso sistema antioxidante. O exercício provoca a produção de radicais livres, mas para se proteger o organismo produz em escala muito maior antioxidantes naturais, que protegem todo o organismo destes radicais livres. Por isso, quem faz atividades físicas tem menor chance de doenças cardiovasculares, pressão alta, doenças neurológicas degenerativas e vivem mais”, explica. “Mexa-se mais, vá a parques, conheça lugares diferentes, visite amigos, esqueça escada rolante, suba escadas, ande a pé. Atividade física funciona em qualquer intensidade, movimentando-se mais vai dar mais disposição até para evoluir para exercícios físicos”, destaca.

Outro potente antioxidante é o sono. A especialista argumenta que pacientes com insônia apresentam maior estresse oxidativo. “Nossa avó já falava sobre o sono da beleza, dormir emagrece, a gente cresce enquanto dorme. Sim, tudo isso é verdade, um sono reparador, de boa qualidade é antioxidante. Se preciso, procure ajuda profissional”, diz.

Como muitas vezes é impossível acabar com o estresse, a médica diz que quimicamente é necessário encontrar maneiras de interromper a produção de cortisol e aumentar serotonina e endorfina. “Meditação está mais do que provado que diminui o estresse oxidativo globalmente. Escolha alguma atividade, de preferência com gasto de energia, que mantenha seu cérebro pensando em outra coisa diferente da sua rotina. Dança, beach tênis, luta, música. TV é muito passivo, evite”, sugere.


Por fim, a médica reafirma a importância de iniciar e manter uma rotina de cuidado com a pele. “Limpe e hidrate a pele antes de dormir e aplique filtro solar pela manhã. Simples assim. Obviamente temos uma infinidade de ativos, cremes e tecnologias que podem auxiliar nesse detox e combater o envelhecimento cutâneo, mas medidas simples já fazem muita diferença”, explica a médica.

 

“E procure um especialista. Quanto melhor o metabolismo e a qualidade do colágeno, mais eficaz será qualquer procedimento estético. A chave dos procedimentos estéticos é o estímulo de colágeno. Paciente com estilo de vida saudável com dieta equilibrada, praticante de atividades físicas, qualidade do sono adequada, possui células com metabolismo melhor, capazes de responder melhor a qualquer estímulo. Mas a preocupação não deve ser somente a pele. Pense no seu estilo de vida: a boa qualidade da pele depende dele”, ensina a cirurgiã plástica.