A distrofia muscular de Duchenne é uma doença neuromuscular genética -  (crédito: UFMG/Divulgação)

A distrofia muscular de Duchenne é uma doença neuromuscular genética

crédito: UFMG/Divulgação

Em um modelo animal de distrofia muscular de Duchenne, pesquisadores brasileiros testaram uma terapia que combina luz do tipo LED (fotobiomodulação) com uma substância antioxidante conhecida como idebenona. Os resultados, divulgados na revista PLOS ONE, mostram que a estratégia favoreceu a capacidade de regeneração das fibras musculares afetadas pela doença.

 

 

A distrofia muscular de Duchenne é uma doença genética degenerativa incapacitante e letal mais prevalente no sexo masculino, afetando aproximadamente um em cada 3 mil a 6 mil indivíduos nascidos vivos. Ela é provocada por uma alteração do gene codificador da proteína distrofina (chamado DMD), que atua estabilizando a membrana da fibra muscular durante a contração. Assim, o tecido conjuntivo fibroso e a gordura passam a substitutir progressivamente a musculatura, provocando uma inflamação que leva à perda da função dos músculos acometidos.

 

 

Os primeiros sintomas costumam aparecer na infância e, em longo prazo, a enfermidade desencadeia a perda da capacidade muscular não só dos movimentos voluntários do corpo, mas atinge também os involuntários, como os que fazem o coração bater e possibilitam a respiração. Apesar dos avanços científicos nas áreas de terapia genética e celular, até o momento não há cura para essa doença. O tratamento mais utilizado é a administração de glicocorticoides, um tipo de hormônio esteroide, mas a substância provoca graves efeitos colaterais após o uso contínuo e prolongado, como hiperglicemia e comprometimento da maturação óssea, o que leva a um crescimento abaixo do normal.

 

 

“Por essas razões, nosso grupo de pesquisa tem se empenhado em estudos sobre a biologia da fibra muscular de camundongos deficientes em distrofina, buscando novas terapias que apresentem potencial para minimizar a evolução da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes distróficos”, conta a professora Elaine Minatel, vice-chefe do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp).

 

Uma dessas novas terapias estudadas pelo grupo envolveu fotobiomodulação, ou seja, a aplicação de laser ou LED, e idebenona, uma substância com potente ação antioxidante. “A fotobiomodulação, que já é amplamente utilizada na dermatologia e na fisioterapia ortopédica, induz um processo fotoquímico que estimula a produção de energia que pode aumentar o metabolismo celular e produzir efeitos como a regeneração de tecidos, a cicatrização de feridas, a redução de processo inflamatório e/ou de fadiga muscular”, explica a pesquisadora.

 

Já a idebenona é um composto análogo à coenzima Q-10 com características farmacoquímicas que lhe conferem maior solubilidade e biodisponibilidade. A substância já está disponível para a população como antioxidante e foi desenvolvida para o tratamento da doença de Alzheimer e de outros problemas cognitivos, mas em estudos clínicos se mostrou capaz de melhorar a função respiratória em pacientes distróficos.

 

Diante dos mecanismos de ação de ambos, o grupo de pesquisadores se propôs a avaliar se a sua utilização em conjunto poderia apresentar um potencial efeito terapêutico sobre as fibras musculares de pacientes deficientes de distrofina por meio de estudos in vitro e in vivo com camundongos. A investigação contou com apoio da FAPESP.

 

Para isso, no modelo in vitro as fibras musculares doentes dos animais foram divididas em quatro grupos: as que não foram tratadas, ou seja, serviram como controle, as que foram tratadas com LED terapia, as tratadas com idebenona e as que receberam os dois tratamentos combinados.

 

Já no modelo in vivo, os camundongos foram divididos em cinco grupos: grupo-controle; roedores tratados com LED terapia placebo e uma substância chamada carboximetilcelulose sódica (utilizada como veículo para diluir a idebenona); animais tratados com idebenona diluída em carboximetilcelulose sódica; roedores tratados com LED terapia; e, por último, animais tratados com LED terapia e idebenona.

 

Segundo a pesquisadora, os resultados mostraram efeitos benéficos do tratamento com LED terapia e idebenona, quando administrados isolados ou em conjunto. “Em alguns parâmetros específicos a terapia combinada apresenta efeito sinérgico, mas, na maioria dos quesitos avaliados, a terapia combinada e/ou o tratamento isolado de LED e/ou idebenona isolados apresentaram resultados semelhantes”, explica.

 

“Os tratamentos empregados nos parâmetros experimentais, como dosagem e tempo de administração, delineados especificamente para o modelo experimental, modularam o processo autofágico que leva à degradação dos componentes da própria célula da estrutura e melhoraram a capacidade regenerativa das fibras musculares”, conta.

 

A cientista ressalta que a terapia de fotobiomodulação e/ou a utilização do antioxidante não substituem o tratamento farmacológico padrão com glicocorticoides para o paciente distrófico. “Outro ponto que merece destaque é que não é possível transpor os resultados obtidos com modelo experimental para os pacientes humanos devido a vários fatores, como diferenças na gravidade dos músculos afetados entre pacientes distróficos e camundongos mdx [que mimetizam a doença], progressão da doença, entre outros”, diz. Sendo assim, são necessários futuros estudos clínicos para comprovar o potencial efeito benéfico dessas terapias e seus mecanismos de ação no paciente distrófico.