Foi o projeto da doutoranda Graziella dos Reis Rosa (na foto) que iniciou a pesquisa com as moléculas descobertas e agora protegidas pelo INPI -  (crédito: Grupo de Pesquisa/Arquivo)

Foi o projeto da doutoranda Graziella dos Reis Rosa (na foto) que iniciou a pesquisa com as moléculas descobertas e agora protegidas pelo INPI

crédito: Grupo de Pesquisa/Arquivo

A Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) divulga uma descoberta importante. Uma equipe de pesquisadores identificou duas substâncias ativas que demonstraram eficácia contra o SARS-COV-2, vírus causador da COVID-19. A instituição de ensino acaba de depositar uma patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) referente ao achado. O trabalho é fruto de um esforço global para reavaliar moléculas existentes em bancos de substâncias na procura de novas formas de tratar a infecção pelo coronavírus.

 

“Esta pesquisa foi iniciada como uma ideia de reinvestigar substâncias já existentes em nossa quimioteca”, conta o professor e pesquisador Cláudio Viegas Júnior, do Instituto de Química (IQ) da universidade, que liderou o estudo. As duas moléculas descobertas e protegidas são resultado do projeto de pesquisa do doutorado da acadêmica Graziella dos Reis Rosa Franco, desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), cuja tese será defendida em julho. “As moléculas da pesquisa dela eram para outra finalidade e acabaram resultando nessa descoberta”, acrescenta Cláudio Viegas.

 

 

 

Entre cerca de 120 moléculas da quimioteca do Laboratório de Pesquisa em Química Medicinal (PeQuiM) selecionadas para a investigação, duas substâncias com estrutura química análoga ao canabidiol se destacaram. Essas substâncias foram capazes de inibir o receptor da ECA-2, responsável pela entrada do SARS-COV-2 na célula, além de impedir o aumento de carga viral e ter efeito anti-inflamatório. “Temos, portanto, duas substâncias altamente inovadoras e que podem ser desenvolvidas como novos candidatos a fármacos efetivos e eficazes contra a COVID-19”, destaca o professor.

 

A pesquisa tomou como premissa o próprio interesse do grupo centrado em doenças inflamatórias crônicas, que incluem doenças neurodegenerativas, parasitárias e câncer, como explica Cláudio Viegas. “Nossa hipótese inicial foi: ‘será que as substâncias que planejamos e sintetizamos para terem efeitos múltiplos em doenças multifatoriais, incluindo atividade anti-inflamatória, poderiam ser eficazes contra o quadro inflamatório da COVID-19?’”. Em cooperação do Laboratório Nacional de Computação Científica, foram realizados estudos computacionais em alvos conhecidos do SARS-COV-2, buscando identificar possíveis mecanismos de ação e potencial antiviral.

 

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Diferentes instituições e pesquisadores colaboraram com o projeto. Em conjunto com a professora Patrícia Dias Fernandes, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ), foram desenvolvidos estudos em animais expostos ao vírus SARS-COV-2 inativado, que manifestavam um quadro de pneumonia semelhante ao da COVID-19.

 

Em paralelo, estudos antivirais foram conduzidos em colaboração com a professora Jordana Alves Coelho dos Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com o pesquisador Laurent Emmanuel Dardenne, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e líder do Grupo de Modelagem Molecular de Sistemas Biológicos.

 

Grupo de pesquisa da UNIFAL-MG: Vanessa Silva Gontijo, professora visitante do Laboratório de Pesquisa em Química Medicinal, a doutoranda Graziella dos Reis Rosa Franco e o professor Cláudio Viegas Júnior

Grupo de pesquisa da UNIFAL-MG: Vanessa Silva Gontijo, professora visitante do Laboratório de Pesquisa em Química Medicinal, a doutoranda Graziella dos Reis Rosa Franco e o professor Cláudio Viegas Júnior

Grupo de Pesquisa/Arquivo
 

 

“Na UFMG, o grupo da professora Jordana conduziu uma série de estudos diretamente com o vírus SARS-COV-2, identificando que tínhamos de fato substâncias muito potentes capazes de impedir a infecção viral, além de bloquear sua replicação”, detalha Cláudio Viegas.

 

Depois de quatro anos de pesquisa, a equipe agora celebra o depósito da patente no INPI, que assegura a autoria da descoberta e garante exclusividade para o desenvolvimento. “Nossa expectativa é que a inovação e a potencialidade da descoberta, aliadas à segurança jurídica da patente, possam atrair interesse do setor farmacêutico industrial para custear as etapas adicionais da fase pré-clínica”, afirma o líder da pesquisa.

 

Professora e diretora da Agência de Inovação e Empreendedorismo (I9) da universidade, órgão responsável pela gestão da política de proteção da propriedade intelectual da instituição, Izabella Carneiro Bastos reforça que a aquisição de patente do professor Cláudio Viegas é um marco importante para a universidade e para a ciência brasileira.

 

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“A inovação é fundamental para o avanço científico e tecnológico, e as patentes desempenham um papel crucial ao proteger as descobertas e incentivar o desenvolvimento de novas tecnologias. O trabalho do professor Viegas exemplifica o impacto positivo que a pesquisa universitária pode ter na sociedade, especialmente em tempos de desafios globais como a pandemia”, argumenta.

 

As etapas que a partir de agora se seguem referem-se à continuação dos estudos e a preparação de publicações científicas que deverão acontecer ainda em 2024. O objetivo é atrair investimentos para as fases adicionais necessárias para transformar essas substâncias em um candidato a fármaco e, eventualmente, em um novo medicamento contra a COVID-19.