Dalila, mãe de Liz, que retirou um rim e teve um tumor no pulmão, diz que teve de ser forte para que a filha não absorvesse seu sofrimento  -  (crédito: Arquivo Pessoal)

Dalila, mãe de Liz, que retirou um rim e teve um tumor no pulmão, diz que teve de ser forte para que a filha não absorvesse seu sofrimento

crédito: Arquivo Pessoal

Se você pesquisar “como contar ao meu filho que ele tem câncer?”, na aba de pesquisa do Google, serão aproximadamente 51 milhões de resultados sobre a melhor forma de contar a notícia. As respostas vão desde conselhos de especialistas a pais experientes que já passaram por esse desafio. Mas a dúvida é: existe a melhor forma?

 

“Nenhuma família está preparada para receber um diagnóstico de câncer, ainda mais quando se trata de uma criança.” A afirmação é da psico-oncologista pediátrica da Casa de Apoio Aura, Georgia Lavorato, que atende diariamente inúmeras famílias acolhidas pela ONG mineira. Para ela, a escuta é a base de toda a comunicação e, diante de uma situação tão difícil de lidar, é natural que a criança faça questionamentos, e os pais precisam estar preparados para isso.

 

 

 

Mesmo assim, os pais não devem se sentir obrigados a ter todas as respostas na ponta da língua. Georgia recomenda estratégias para aliviar a tensão, como introduzir brinquedos, atividades lúdicas, desenhos preferidos e músicas. “Um ‘não sei te dizer, mas podemos procurar ajuda’ será valioso no pacto de confiança como filho ou filha. Manter a criança brincando também é terapêutico”, recomenda a psico-oncologista.

 

“DODÓI”

 

"Para contar para ela foi muito simples. Procurei trabalhar o lúdico, falando que era um ‘dodói’ na barriguinha e que ela não ia mais sentir dores", relembra Dalila Rodrigues, de 29 anos, mãe da pequena Liz, de cinco, que precisou ficar internada para tratar, além de um tumor no rim, uma metástase no pulmão, que precisava ser tratada antes da retirada total do rim esquerdo.

 

Dalila revela que, embora tenha sido “fácil” contar para a filha, teve de ser forte no momento. “Me revesti de força para que ela não absorvesse meu sofrimento. Procurei ficar bem”, conta a jovem que teve de ver o crescimento de sua filha de uma forma bem diferente do que sonhava.

 

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“Imagina para uma mãe que pensa em fazer uma festinha para a sua filha e se vê nessa situação”, comenta Amanda sobre Liz ter completado três anos no hospital, durante sua internação, em 2022.

 

DESAFIOS

 

Segundo sua mãe, Liz frequenta a escola, brinca e tem um convívio normal, apenas mantendo consultas periódicas para acompanhamento do quadro estável da doença. Em sua rotina, também estão inclusos os cuidados multidisciplinares disponibilizados pela Casa Aura. O espaço, na Região Leste de Belo Horizonte, iniciou suas atividades em 1998 como objetivo de oferecer um apoio integral acrianças em tratamento oncológico e suas famílias.

 

 

Na foto, Dalila segurando Liz, de cinco anos

'Os pais precisam do suporte de uma equipe multiprofissional para que a comunicação seja objetiva e na dose certa', diz Georgia Lavorato, psico-oncologista pediátrica

Arquivo Pessoal

 

A Casa Aura vai além do tratamento médico, incorporando ações que garantem o direito à cultura e ao lazer. Esse suporte é essencial não apenas para o bem-estar físico das crianças, mas também para a saúde mental e emocional. Além disso, os profissionais dão apoio aos pais, ajudando-os a enfrentar os desafios do diagnóstico e tratamento do câncer infantil.

 

"Restabelecer a saúde da criança acometida pelo câncer engloba cuidados de maneira integral”, afirma Georgia, que reitera que os pais precisam estar bem orientados e apoiados para não se esquecerem que há uma criança em desenvolvimento, apesar da doença e de tudo que envolve o tratamento.

 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.